brincando de voar

Hoje eu vi uma menina na praia.

Criança pequena, antes do mundo chegar em suas lembranças, antes de tudo o que ela ainda vai conhecer de ruim que existe nessa terra dar o tom da desgraça.

A despeito de sua pobreza, de suas roupas encardidas, ela brincava.

Segurava uma sacola de mercado na mão como se fosse uma fita listrada do pano mais caro do reino. Andava dançando rumo ao abismo do futuro, rodando a fita na borda infinita do vento.

Ela brincava.

Sua família, sentada no chão algumas ruas atrás, conversava baixo e fazia artesanato, tentando chamar atenção para qualquer coisa que as pessoas passando pudessem querer comprar.

A menina não se contentava com a rua e queria a praia, o vento, o mar.

E então corria.

Seu rosto trazia um sorriso maior que qualquer outro ao redor, daqueles que iluminam dias febris.

A menina cantarolava algo que vinha de sua alma, do fundo do peito, de suas mais profundas sensações.

Uma das cenas mais lindas que pude ver. Em questão de segundos, ela passava por mim, nem ligando pra quem quer que fosse na rua.

Correndo ela brincava de voar.

só espero

tem hora que eu só espero
minha hora chegar
de aparecer prum mundo
e já nem sei se ele me quer tanto assim

eu fujo dos brilhos, das luzes
prece que busco para encolher
ser visto e esquecido
me parece um karma e um preço a se pagar

daí eu danço em pensamento
eu quebro a mesa do bar, xingo os vizinhos
quando tudo for pros ares
vão dizer que esse era meu caminho

trouxa de mim olhar o mundo
e imaginar um lugar só meu
com o nome num jornal
“ele nem era assim tão ruim, afinal”

o que vai me restar aqui
quantos sonhos ainda verei ruir
as respostas ficam pra quando
a gente não tiver mais sinal

O sistema não gosta de você

A 4P voltou! Viva a 4P!

Quando vi que a marca tinha voltado já fui atrás pra ver as camisetas, os bonés, os acessórios, as coisas todas que a gente cresceu curtindo. A 4P foi a marca de Xis e KL Jay, cuja loja ficava na galeria da 24 de maio. Eu e meus amigos sempre passávamos na frente só pra ver se encontrávamos eles por lá.

Não julgue adolescentes.

Acontece que uma das estampas me intrigou demais. Ao redor do logo da marca, ela dizia:

“Não queria ser aceito. O sistema não gosta de você.”

Meu primeiro pensamento foi o de que perderam a mão. Afinal, ninguém gosta de não ser aceito, nem nada. Como assim, o sistema vai ter que me aceitar sim, do jeito que eu sou e é isso aí. Não é isso aí?

Bem, não é bem por aí.

O sistema pode te tolearar, mas ele nunca vai te aceitar. Não com esse mundo do jeito que ele anda. Estaremos sempre à margem, sempre vivendo aquela guerra fria dos olhares e das falas escolhidas a dedo, como naquele get out (esperando que não exista um de olhos bem fechados acontecendo ao nosso redor também).

Eu entendi a mensagem um outro dia em que, sentado no escritório onde trabalho, olhei ao meu redor e me vi o único negro em um andar de, sei lá, 150 pessoas.

Nessa hora a gente passa por uma espécie de iluminação de uma *puta descoberta meu* e depois passa a pensar direito. Dei inclusive outra olhada e encontrei mais duas pessoas de pele mais escura.

É importante para nós estar ali, é importante resistir e mostrar presença em todos os lugares, aquele negócio de “nova era, os preto tem que chegar”. Estar ali é resistir, dar a cara a tapa por um mundo que ignora suas demandas. E peitar de frente tudo o que vier, do jeito que a gente se acostumou a fazer.

Então não se iluda: o sistema não gosta de você.

Vida longa à 4P.

estar conectados nunca nos aproximou

Estamos todos presos.

A cabeça baixa é a imagem da nossa serventia. Caminhando contra o sol que nos pune, regenera e castiga. Estamos sós. De olhos baixos, ligados ao mundo inteiro e sozinhos de nós mesmos.

Uma multidão doutrinada, subjugada e irrequieta por encontrar um mundo novo, por recriar diariamente suas bolhas de interação sociais, nas quais elas são reis e rainhas de si, dos outros.

Nós caminhamos todos de cabeça baixa, aprisionados por uma ideia de mundo egocêntrica e doentia.

Olhe ao redor, quantas pessoas estão como você? Essa dor de torcicolo para ler notícias, ver imagens de histórias felizes, ler textos sobre como a sociedade anda doente nas frases perdidas de um blog como esse, assistindo o mundo todo passar em algumas polegadas.

Não me entenda errado, o celular não é exatamente uma derrota.
A necessidade de se comunicar com pessoas distantes é bastante honesta. O que talvez não tenhamos percebido chegando à espreita, foi o vilão do entretenimento que nos aprisionou.

De certa forma, todos sempre temos algum vício. Eu, que antes me orgulhava de mergulhar em leitores de feeds rss, hoje enxergo que era uma outra prisão, talvez até mais profunda do que as mensagens intermináveis do whatsapp e o scroll infinito do facebook, ou a… bem, a… ok, ainda não consigo enxergar nada muito errado no twitter (ainda!).

Estamos vivendo em um mundo no qual o real já não importa tanto assim. Importa outra pessoa, em outro lugar, ainda que pixelada. Criamos barreiras sociais em desabafos online, testamos a paciência alheia com toda nossa falta de empatia e cegueira dos nossos privilégios.

Tem sido deprimente manter a sanidade em um mundo de gente se debatendo o tempo todo por atenção e esquecendo o valor do toque, do olhar, do gesto. E sim, este é o momento desse texto em que pareço um senhor de idade dizendo aos netos que no meu tempo era tudo mais fácil.

E talvez fosse.

No ano passado, trabalhei dois meses como Uber driver. O que me impactava de um jeito ruim era quando a pessoa preferia que eu fosse um robô. Não que fosse o motorista mais divertido, interativo e Celso Portiollico de 2017, mas eu tenho na cabeça a cena de uma moça. Entrou no carro olhando o celular e não respondeu quando eu disse “boa tarde”, nem quando perguntei se poderia seguir o gps. A tela lhe guiava, o fone de ouvido a mantinha longe. O pagamento no cartão de crédito a eximiu de qualquer contato com o motorista também no final da viagem.

A vida dela, pelo menos naquele instante, acontecia toda dentro daquele celular. O mundo real era apenas um espaço simulado para que ela pudesse movimentar o corpo e não atrofiar os músculos.

OK, fui um pouco longe demais.

Talvez seja hora de confrontar todas essas nossas seguranças. Talves seja hora de mais do que viver, SER o mundo. Ser o jovem casal que se beija apaixonadamente a despeito dos olhares, o senhor que joga dominó na praça com seus amigos, as senhoras que visitam e admiram a paisagem de dentro do transporte coletivo como se estivessem em grandes museus.

Note que “ser o mundo” é mais ou menos uma medida a ser tomada apenas por jovens e velhos. Nós, na meia idade, metaforicamente no-comecinho-da-tarde-da-vida-esperando-um-maluco-no-pedaço-acabar, nos achamos apenas inteligentes e superiores.

É quando nos descobrimos meio repulsivos também.

Estamos todos presos em microuniversos que só transmitem, apregoam pensamentos, aproximam as pessoas distantes, distanciam as pessoas próximas.
Damos risada de memes como se eles fossem algo orgânico e vivo e não apenas piadas que nossos pais e boa parte de nossos amigos não vão entender muito bem, caso não estejam conectados e ativos aos nossos grupos de interesse.

Nós não resistimos. Se foi o tempo do livre pensar. De olhar para um teto e refletir sobre o porquê de estarmos vivos, de existir. Restou um monte de gente desconectada da realidade, vivendo no feed de notícias como se estivesse andando pela rua numa sexta à tarde.

Sem internet, aparentemente, você não é ninguém. E ser ningúem, em nosso mundo hoje, é ser imenso como o resto do mundo.

Vá ser o mundo.

Sent by my Motorola ZPlay

*o título é um trecho da música “Desconectar”, da banda Nada em vão.

Um espelho quebrado

Vai acontecer qualquer dia desses.

Tudo o que você achava atraente, incrível, que lhe fazia bater mais forte o coração, vai perder a graça. Do dia pra noite, nada do que você escreveu vai parecer fazer muito sentido. E você vai fazer café às 2h28 da manhã pra colocar a cabeça num lugar que talvez nem ela quisesse tanto assim estar.

Nestes dias a gente se sente sozinho o suficiente pra conversar como se tivesse alguém com a gente em casa, além dos gatos dormindo no sofá. Você vai conversar sobre o que fazer com tudo aquilo, afinal, mano, é sua vida, detalhe por detalhe, relacionamento por relacionamento, historinha ruim sobre historinha ruim.

Mas a gente nunca chega a conclusão alguma.

Especialmente nós, os perdidos. Os desencontrados, pra melhor dizer. Aqueles que sabiam para onde estavam indo, tinham uma direção quase que linear, podiam prever seus futuros, as pessoas que estariam lá, os amigos do dominó, os familiares que viriam comer pizza às sextas, ou que nunca viriam. E, de repente, a gente se desencontrou. Puxamos uma alavanca errada e o bondinho da vida caiu num precipício que a gente não sabe sair. Um poço sem fundo, sem resgate.

Essa é a sensação. A de quebrar um espelho e, depois de quase sete anos de perengues, derrubar um outro, para renovar aquele azar que já é quase instrínseco a nós, os desencontrados.

Se entreolhar no corte do vidro, com a cara desfigurada e torta tentando entender qualquer coisa que nos leve a um nirvana singelo, uma experiência extrassensorial que aguce os sentidos e nos torne melhores, convictos, certos de um futuro que nos espera ansioso.

E quem sabe assim poder deixar todo esse pesadelo esquecido na mesma gaveta de tudo aquilo que já não vinha dando certo e a gente teimava em narrar como se nossa sanidade mental dependesse disso.

Vai ver dependia.

Disorder unleashed

Faz tempo.

As coisas não têm andado exatamente como queria aos 33. Mais crises existenciais do que de costume e menos pensamentos alegres, como de costume.

Você olha pro país que você vive e descobre que tá tudo no modo chaos ad. A gente é um oriente médio que não aparece no New York Times. Aqui tem guerra todo dia, mas é pobre matando pobre e gente rica fazendo conchavo, assumindo cargo de modo suspeito, mala de dinheiro, gente tomando champagne e falando que quem fode o empreendedor no Brasil é o empregado, pobre batendo palma, enfim, geral cagando fortemente no que serão os livros de história sobre o começo do século XXI. E desse lado eu, que quero que eles se fodam como eles querem que eu me foda.

É mútuo.

Acontece que, né, sem trampo. Fui valentão pra sair da agência, fui surpreendentemente maduro pra me tornar uber driver por dois meses e suficientemente infantil pra não me planejar e acabar faltando dinheiro no terceiro mês.

Daí aquele negócio. Caindo nas lorotas de Linkedin posts pedindo e-mail pra abastecer uma base de leads na pilantragem vaga, videozinho motivacional com uma propaganda japonesa de sabe-se lá quando, textos pré-prontos de uma leva de desempregados que preferem o uso do termo “buscando recolocação profissional” que não ilustra, nem de longe, o que é ficar sem grana pro icegurt em 2018.

Fui chamado pra quatro entrevistas, uma delas por Skype. As pessoas amaram meu currículo, amaram as empresas que já trabalhei, minha experiência “nossa, mas vc já fez de tudo né, que ótimo” e toda essa empolgação ia até o momento de ver que o candidato era o gordo com olheiras com fala anasalada e meio prolixo quando tenta explicar aquele estágio de 2005.

Já fui em entrevistas demais pra saber quando eu realmente não tenho a experiência pra vaga e quando a pessoa procura apenas um candidato branco hétero padrão europeu que se encaixe nos moldes da empresa. Aquela treta da Yasmin acontece com todo mundo, a não ser que você seja branco e cheio de si.

Então estou tentando sobreviver, novamente.

A banda acabou ano passado, claro que não falei, isso aqui tá mais largado que os últimos roteiros do Porta dos Fundos. Portanto sim, estou sem projetos, apenas compondo em casa. Descobri que essa é a única forma de não se frustrar com pessoas dentro de uma banda e sigo assim. Talvez refaça um homestudiozinho leve. O que talvez não refaça: bandas.

Meu coração anda com o mesmo sentimento de abandono de sempre, calejando porque é sempre um pacote de microssuperações em cada relacionamento (e, em especial, porque a gente não aprende nunca a superar merda nenhuma, não é mesmo?).

Portanto foi este um resumo do meu começo de ano, ou seja, tava ruim, tava bom, mas parece que piorou.

2017

Esse ano foi certamente o que eu menos escrevi em toda a vida deste blog. Tive motivos e se você der uma lida nos últimos posts, vai entender que não foi lá muito fácil (o que aprendi todos esses anos é que poucas vezes foi fácil também).

2017 foi o ano em que eu estourei meu tornozelo e fiquei 4 meses em casa, o que foi ótimo no começo e depois se tornou um martírio foda com falta de dinheiro até pras necessidades básicas de casa do tipo “vou lavar menos roupa esse mês pra não ter que comprar outro sabão em pó”.

Sem contar lidar com o fato de que muito possivelmente não vou poder voltar a jogar basquete nunca mais. Não que eu fosse um jogador frequente, mas saber que podia jogar quando quisesse era uma espécie de constante em que eu poderia sempre voltar.

Depois teve o mês em que eu toquei bêbado no Feeling errando músicas que tocava praticamente todo final de semana e tive de lidar com a culpa de tocar na festa de um amigo e ter cagado tudo, ter feito minha melhor amiga se sentir mal e ter feito o meu melhor projeto musical até hoje ter parado de repente por minha causa.

Tá foda? Tá, mas tem mais.

No mesmo dia eu dormi no volante e arrebentei o carro na traseira de uma perua. Dá pra ler uns 3 posts atrás o texto excitante no qual escrevo a sensação de ter feito possivelmente a pior cagada da vida adulta, portanto não vou me alongar muito nesse assunto, deixando apenas o evidente: foi sim uma merda completa.

Depois da épica jornada para voltar ao trabalho, enfim voltei. Tive a esperança de que todos estariam contentes em me ver, mas aconteceu que demorou uns meses e algumas conversas até me sentir ok novamente no lugar.

Conheci Kakau, minha amiga desde 2002. Ela conheceu alguns de meus amigos também. Aprendemos juntos que somos mestres em tomar decisões erradas na vida e vivemos perigosamente como adolescentes depois dos 30.

A banda começou a dar problemas que dava pra ver que iam desaguar em choro e desapontamentos, mas eu fui levando até onde deu (e acho que pra mim chegou num limite foda quando me vi perdendo o casamento do Leo por conta de um show no litoral, o qual me fez chegar em casa de manhã e perder a cerimônia, que era bem cedo).

Voltei a namorar com a Mari, para encher baldes de choro das inimigas o que tem sido o lado de aprendizado da vida que é construtivo e me dá uma certa esperança para o futuro, note que eu digo “certa” porque vocês imaginam como esta cabeça funciona.

Em outubro pedi demissão da agência, depois de muito refletir sobre o fato de demorar duas horas e meia de transporte coletivo para chegar no escritório e sentar em frente a um computador para preencher uma planilha. Sério, gente, home office: deixem de lado esse baixo astral e pensem sobre o assunto.

Claro que eu saí de lá com um plano: ser Uber driver nos meses em que ficasse desempregado. O que deu certo em novembro e cagou em dezembro, por motivos que não sei bem explicar, embora eu deva voltar em breve.

Portanto, 2017 foi um ano complicado em muitos níveis. O ano em que me desfiz de coisas demais, mas não o suficiente pras pessoas começarem a perguntar se estou mal. Esse desapego dos meus pertences tem sim muito a ver com algo mais profundo e melancólico com aquele pé na depressão que a gente não tira por pura birra.

Que 2018 seja um ano de passar a vassoura na casa e renascer. De novo.

“Eu vendo puta”

Estou arquitetando um texto sobre minhas primeiras impressões como uber driver, mas como são muitas, estou lotando o keep e assim que tiver tempo para formular este texto eu coloco aqui. Por enquanto, apenas uma história real.
Eu tenho costumado acordar muito cedo para ir dirigir em pinheiros no começo da manhã. Acabei aprendendo que trânsito mesmo a gente pega daqui até lá, porque lá as ruas tão mais tranquilas e, enfim, deve se viver melhor etc.
Fiz umas 4 viagens quando caí no aeroporto e fui chamado até moema. Cheguei na rua colada ao shopping Ibirapuera quando um rapaz acenou e um tiozão bêbado o cumprimentou.
Obviamente o passageiro era o tiozão bêbado.
Comecei a viagem meio consternado, porque ele viria pro taboão, ou seja, eu estaria de volta pra perto de casa antes das 8h da manhã.
Nesse ínterim, tiozão, com a sua garrafa de skol retornável na mão, aproveitou pra deixar claro que eu sou gordo com frases como “quer uma cerveja? e um lanche? um hambúrguer?”, “acho que não cabe nós dois no carro hein” gargalhando meio descontroladamente depois de cada frase.
E então o monólogo do tiozão passou a girar em torno de:

– Ele conhecer todas as ruas de Moema, Brooklyn e região;

– Ele não pagar pau pra “coxinha” nrm pra bandido;

– Ele conhecer o Daniel da lotação;

– Ele chegar em casa todo dia bêbado depois de tomar uma garrafa de whisky old parr ou buchanan’s;

– Ele estar com dois revólveres .40 numa mochila velha da adidas;

– Ele trabalhar na noite há 23 anos vendendo puta.

Vamos excluir aqui o trecho dos revólveres, que eu realmente não quis muito entender, ou explanar, muito pela minha segurança também.

Mas como assim vender puta, tio?

Não obtive uma resposta concreta, uma vez que tiozão mal conseguia formar palavras inteiras. Só entendi que ele não trabalha com puteiros pequenos “isso aí é lixo”, mas ouvi ele falar lovestory em algum momento. Ouvi ele dizer que vai pegar folga e vai “no Swing com as menina pra comer as mulher dos troxa” fazendo uma cara de ¯\_(ツ)_/¯.
Acho que já disse isso, mas vale frisar: isso tudo aconteceu antes das 8 horas da manhã.
Exatamente.

Coisas Estranhas

Contém spoilers da segunda temporada de Stranger Things, portanto leia apenas depois de terminar de assistir. Não, calma, acho que “contém” não é suficiente. Isso aqui é um texto basicamente só com spoilers, uma central, um encontro anual de spoilers, uma feirinha da benedito calixto de spoilers. Fique atento.


Eu lembro dos primeiros seis episódios de Breaking Bad, série que assisti intrigado pela história, embora todo mundo que acompanhou assim que a série saiu tivesse achado cult demais, cinematográfica demais, de nicho demais. E então, quando as outras 5 temporadas saíram, vimos Walter White e Jesse Pinkman protagonizarem uma das melhores coisas que você já viu na TV. É a sensação de “eu carreguei esse moleque no colo olha ele agora voando baixo” aplicada a um universo completamente distinto. É basicamente a mesma sensação que estou ao terminar de assistir Stranger Things 2.

A segunda temporada de Stranger Things está infinitamente melhor do que a primeira em muitos sentidos: mais vibrante, com um monstro maior e mais complexo que o anterior e sagas individuais mais intensas para cada personagem principal.

Will segue sendo o centro das atenções (e a melhor atuação da série) centralizando os problemas maiores como sua ligação casual com o mundo invertido e a eventual possessão malígna com o monstro habitando seu corpo, o que nos leva a uma cena digna d’O Exorcista, com a mãe sendo quase estrangulada, voz bizarra, Nancy encostando uma haste de aço em brasa na barriga do menino, culminando na fumaça preta saindo pela boca de Will, o libertando.

Da metade pro final da temporada acabam rolando também algumas ligações de personagens que não imaginaríamos tendo qualquer proximidade, como Dustin e Steve, este último sendo um dos mais legais da série, especialmente por ser quase que um ex-vilão que apanha bem, vive o drama adolescente do coração partido e amadurece demais sempre no último (ou perto do último) episódio.

Apesar disso, a série pecou em alguns outros pontos como acrescentar dois novos personagens sem muito background (Max e Billy) fingindo que eles têm um tremendo segredo, quando no fundo são apenas irmãos de consideração, se é que você pode chamar de “consideração” alguém fazendo mind games de possessividade, uma agulhada no pescoço e muita gritaria durante toda a temporada.

Como bem apontado no Reddit, a série continua matando personagens cujos nomes começam com a letra B: primeiro Barb, depois Brenner e agora Bob (se cuida Billy).

Recomendo assistir também os sete episódios de Beyond Stranger Things (O universo de Stranger Things) um after show com muitos dos personagens da série, onde a gente descobre várias referências, inclusive que o tal do Billy era o Power Ranger vermelho e o Bob era o Sam Gamgi do Senhor dos Anéis e um dos Goonies, por exemplo.

A próxima temporada ficou aberta e sem muita indicação do que vem pela frente (por opção dos produtores), fechando apenas com o tal do Mind Flayer em cima da escola. Espero que libertem Will finalmente dessas tretas todas e que ele possa contracenar em algum momento com sua bestie (Will e Eleven praticamente não interagem na série, embora sejam os personagens principais das duas temporadas).

A única parte ruim de Stranger Things 2 é a) assistir tudo tão rápido e terminar sabendo que a próxima temporada vai custar até chegar e b) o joguinho pra smartphone que saiu no começo de outubro e só consegui chegar até os 97,1%.

Um ano

Eu todos os dias acordo pensando que a gente não devia estar aqui nessa cidade, com essas pessoas, com esse trânsito e essa insensatez.

Todo o meu tempo feito de horários curtos.
De prazos.
De novelas que não pedi pra estrelar
Problemas que não cogitei um dia ter.