Vibe boa

E hoje, em edição especial, já que não consegui ligar nessa caralha de celular o vídeo abaixo é para o amigo/bróder/irmão Leo Pollisson, que faz aniversário hoje (e essa é a parte em que eu omito que pensava que a data era ontem, por um negócio de relógio biológico desregulado por dormir tarde demais no natal), com o Beach Boys tocando uma das músicas-tema de sua vida, em meandros (que palavra) de 1979:

Daí que eu lembro do último show do Beach Boys no Credicard Hall, que vimos de perto, uma vez que o lugar estava relativamente vazio. E lembro da Golden Era da empresa que ele ainda trabalha, quando saíamos pra fumar e pensar como seria quando ganhássemos na mega-sena da virada e pudéssemos comprar a empresa, criando cargos como supervisor de Guitar Hero, que teria uma entrevista supervisionada pelos sócios e TERIA de zerar o jogo pelo menos no hard. Coisas do tipo. E lembro tanta história pra dar risada, tanta depre que passou, tanta piada interna que só a gente riu.

O ano virou, mas as boas vibrações nunca param.

Jingle Bells Rock

Daí que passei o natal mais uma vez sozinho em casa. Não acho ruim, sério, acho até confortante ouvir a galera estourar morteiros no vão livre do condomínio, onde ficam as janelas dos banheiros. Por mim, ótimo.

Desliguei a TV, continuei lendo o livro, reclamando que a Denise bem podia ter virado o natal na casa dela, ao invés de ir para um aniversário, evitando todo esse desconforto. Depois me envergonhei por ainda ter passado no Extra, às 23h30, imaginando que estaria aberto e que o destino me receberia de braços abertos para comprar uma garrafa de conhaque.

Acabei em casa, escrevendo um texto medíocre, que outro dia posto, se houver necessidade. E depois, pra não perder completamente a madrugada, fui encontrar meus amigos sem imaginar como essa poderia se tornar a decisão mais desacertada que poderia ter tomado no aniversário do menino Jesus.

O primeiro deles, foi o tal do Kenan (Lembrem-se: não repitam o nome dele três vezes que ele aparece, onde quer que você esteja. Isso é muito sério). Ele falou de todos os tópicos de sua vida atual que achava interessante, incluindo um monólogo sobre homofobia e neo nazistas, traduções de Sartre e todo um tratado sobre como o meu espumante não tinha álcool algum. Cagou pra noite de natal e pro salvador de cá (a piada que ninguém entendeu é gratuita).

Consegui despistar o fulano lá pelas duas da manhã, quando encontrei novos amigos e alguns viciados, quase subindo pelas paredes em busca de uma lojinha para comprar entorpecentes. Entre os amigos, estava o Wolvs, recentemente incluído na minha lista de ex-addicts e que estava longe daquela vibe Trainspotting no feriado mais cristão do ano.

Foi então que fomos encontrar outros amigos no bairro vizinho. Outros amigos roqueiros com mais de 30 anos, apaixonados por tempos musicais, escalas diatonicas e Jetro Tull. Mas digamos que foi meio embaraçoso estar de canto, fumando um cigarro, enquanto seis marmanjos cantavam Highway Star do Purple como se suas vidas dependessem disso.

Consegui voltar pra casa ainda sem tomar uma cerveja devidamente gelada às 4h30, quando encontrei outros amigos mais próximos e pude, enfim, terminar o dia com o sol amanhecendo, na companhia de uma caixa de Brahmas, um biscoito doce e um amigo desacordado no banco de trás do carro, que xingou todos nós quando acordou.

Outra leitura

“Acho que ler um livro é importante para você não estar aqui nem agora. Para você não ser você por um tempo. Para você ser os outros e habitar outros lugares durante o tempo em que estiver lendo. E, quando você voltar ao aqui e ao agora, a você mesmo, voltará com os olhos muito mais aguçados (…) Fala-se muito que temos uma grande afeição ao caos, que o mundo é informe e que a arte daria forma às coisas. Na verdade, temos pânico do caos. Nós não conseguiríamos viver sem alguma ordem na nossa história. E o que a literatura faz é desordenar um pouco isso, mostrar outras maneiras de organizar nossa vida”.

Beatriz Bracher, escritora, em trecho citado na última coluna da Eliane Brum em 2010, pela revista Época.