2011, um brinde

Reveillón sempre traz de volta aquela sensação da sua tia do interior que você gosta tanto, embora ela cozinhe porcamente. Então ela te oferece o clássico bolo de laranja grudento e doce demais, você diz que está uma delícia, mas não quer outro pedaço.

Todos nós temos sonhos, desejos, fazemos promessas, queremos uma vida perfeita. Listas de desejo para o ano seguinte tendem a fracassar, embora todos as façamos. Emagrecer, estudar mais, parar de fumar. Queremos todos nossos próprios shows de Truman, nossas dramédias particulares, que o mundo gire em função de nossa vida, não o contrário. Don’t get me wrong, o errado nisso não está em querer ou desejar alto demais, mas em não enxergar no espelho exatamente quem somos e o que precisamos para que nossa vida melhore significativamente.

O afastamento da infância me criou sérios problemas de ordem psicológica e comportamental. Substituí a vergonha de conversar com as pessoas por dificuldades de convívio, sublimadas pelo post rock e trilhas sonoras instrumentais de filmes; troquei também alegrias de jogos lúdicos pela rotina de escritório. E também tem isso de perguntarem o que queremos ser quando crescer.

Não viver o que queríamos ser quando crescêssemos é de uma intrincada melancolia. É isso que gera pessoas vazias, enfeitadas e escondidas em seus avatares. Ter o conhecimento de causa, saber que não fui o astronauta, nem o cientista com um laboratório maluco me fez perder a confiança em muita coisa, me fez pensar que o mundo não foi feito pra gente como eu. Mas para tudo, diria Einstein, existe um meio termo (ele diria que tudo é relativo, mas vamos lá).

Uma música um tanto desconhecida diz, ‘Sim, a vida é maior que nós‘. Podemos contar com inúmeros momentos felizes, sempre, por mais passageiros que eles sejam. Costumam dizem que é isso o que ‘dá jogo’ à vida. Estar com seus amigos, lembrar de seus pais, olhar o futuro com esperança e incerteza, é o que nos faz seres humanos. E a felicidade está nesse limbo, nesse meio termo, na linha tênue que separa nossas insatisfações do caminho correto, da vida que esperamos.

A virada do dia 31 para o dia 1º significa então o momento da conclusão do caminho, ou da continuação do caminho, não importa, desde que seja um inevitável rumo à mudança.

Sua tia vai sempre tentar melhorar seu bolo, tal qual o tempo vai sempre tentar melhorar o ano seguinte. E décadas se passam assim. Vão embora deixando algumas saudades e lembranças de outros sabores ruins que gostaríamos de esquecer. No final de tudo sigo dizendo que gostei, embora não aceite mais outro pedaço.

Balanço 2010

Neste ano eu assinei um pacote de internet móvel e desisti dele, por causa de uns absurdos da VIVO, fui chamado de gordo do caralho, mesmo que hoje isso me garanta estranhamente um certo orgulho, comecei a desenhar no sketchbook que a Denise me deu de presente, tive um bom ano – apesar de bastante confuso – com ela, minha namorada, até nos desencontramos um dia desses (como?).

O Guto deixou a empresa em que ainda trabalho, fazendo uma falta inacreditável no dia a dia e eu finalmente li aquele Rousseau mais empoeirado do que todos os outros livros. Terminei de ver Lost numa frenética temporada diária que teve fim no dia em que foi exibido o útlimo capítulo e vi também a fantástica (me processa) primeira temporada de Walking Dead.

Meu pai foi internado e eu fiquei em desespero quando fui visitá-lo na enfermaria do hospita do servidor público. Roubaram o carro do Rodrigo, mas deixaram os óculos intactos, no banco de trás, a pedido da vítima. O Regino agora é pai, essa é uma dessas paradas que a gente não acredita quando acontecem.

Pra finalizar, comprei o ingresso mais caro, mas consegui ir ao SWU ver o rage Against the Machine, perdi minha padaria preferida para uma confusa nova direção, sonhei com o Adolfo e o Daniel brigando, não, não, melhor ainda… sonhei dentro de meus próprios sonhos, é tem um filme assim – E ainda não sei se o que estou vivendo é real ou imaginário. Como esquecer que o Brasil perdeu a Copa e eu postei uma poesia antiga desastrada.

Para 2011, eu só espero estar andando num caminho mais certo, em tudo.

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Obrigado por estarem sempre por aí, meus chegados, amigos virtuais e leitores anônimos.