Exercício de Depressão

Imagine que você vá morrer amanhã. Sem tragédia, um acontecimento qualquer, fique tranks. E então acredite que, por uma intervenção mística, você fica sabendo da fatalidade com um dia de antecedência. O dia de hoje.

Comece a pensar nas cartas que escreveria para cada pessoa que conhece e se importa. Não pegue caneta e papel, apenas imagine o que iria escrever para cada pessoa. Considere também que ninguém mais vai ler a carta, além do destinatário. Tudo o que estiver escrito ali será contado para aquela única pessoa.

Não é preciso escrever a carta num papel de verdade, pois isso torna tudo mais verdadeiro e perde o foco através da subjetividade que você imprime em cada assunto tratado, em cada sujeito. Digamos que, para minha namorada eu ia querer ‘decorar’ a carta com palavras bonitas para que criasse algo que ela jamais esquecesse, mesmo que isso não representasse exatamente o que eu gostaria de dizer. E não é esse o intuito. Você quer apenas dizer o que está em seu coração. Sem bons adjetivos, sem piadinhas riscadas sem floreios. Dessa vez é só você e as palavras que começam a sair quase que involuntariamente.

Para tudo isso é preciso adentrar a sua existência, mergulhar em reclusão, apego e individualidade, coisa de trinta minutos resolve. Você precisa apenas pensar no que deixaria de lembrança aos seus. É simples, mas pode ser também assustador. Você pode se pegar escrevendo cartas para pessoas que não imaginaria e tocando em monstros adormecidos que nunca deu maior atenção.

Não se esqueça dos lenços de papel. Sério.

Essa é uma forma que encontrei de descobrir meus erros, assuntos inacabados, o amor que não sou capaz de distribuir, as dívidas emocionais eternas, as desculpas que esqueci de dar, os segredos que deixei de contar. Apesar de um exercício triste e depressivo como sugere o título, me foi muito útil para descobrir onde realmente estava meu coração, or shit like that.

Fiz isso no início de um pequeno surto depressivo, dias atrás. O processo é meio doloroso, talvez até um pouco angustiante quando você começa a pensar porque diabos você simplesmente não fala isso para essas pessoas e acaba logo com essa porcaria. Mas quando terminar, você estará mais relaxado do que prometem as seções de yoga compradas no Peixe Urbano.

Pode não funcionar pra todo mundo, mas pra mim foi excelente. Não vou fazer com frequência porque preciso de paz, uma casa vazia e fazer isso toda semana pode se tornar um costume entediante, quando não, repetitivo. Mas hora ou outra, naqueles dias que estiver com um tiquinho de afasia e depressão, volto a ‘escrever’ minhas cartas.

Weirdos e Thom Yorkes do mundo, uni-vos!

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Por alguma razão lembrei do Living Funeral que aparece no filme The Weather Man, uma obra-prima para a depressão com o Nicolas Cage.

SAC da droga e perca o medo de dirigir

Dois causos, porque a vida, amigos, sempre volta ao normal.

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Dois amigos meus estão afastados das drogas há uns bons seis meses, pelo menos. E isso é muito sério, não vou fazer a piada padrão do CQC e dizer que eles deixaram de ouvir Calypso. Eram drogas, mesmo, substâncias ilícitas que podem levar à prisão ou a uma forte dependência química.

Daí que um terceiro conhecido liga em casa ontem, 23h30 me perguntando se sabia outro telefone de um deles, porque havia ligado e nada. Respondi que só sabia aquele número mesmo e faz tempo que não o vejo etc. Dou o telefone do outro amigo. Ele retorna e diz que ele não está em casa.

E é quando eu descubro.

– Po, zuado, mas ele nem tem mais celular – digo naquela vibe, ‘porra, mano, não posso mais te ajudar, se vira!’
– Sério? Ele transformou o celular em pedra?
– heheh, pode crer. ¬¬
– Então, velho, é que eu queria um esquema pra pegar um papel
– Ah, é foda, mas então…

E essa é a história de como meu telefone de casa se tornou uma central de relacionamento para viciados. Isso sem contar minha inabilidade para perceber que o cara queria pedir drogas para dois amigos que estão se esforçando no level hard para manter a sobriedade.

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Vindo para o trabalho hoje, na avenida perto de casa, a mulher do carro da frente pisa no freio como se estivesse à beira de um precipício e quase me faz voar pelo vidro na tentativa de não encostar no carro dela.

Se eu pelo menos a conhecesse, ela teria acesso à minha aula psicológica para novos motoristas que consiste na única frase: “dirigir é a mesma coisa que andar na rua, você só não pode esbarrar em ninguém”.

Ando vendo muita gente dirigindo devagar e só pode ser uma das duas alternativas: ou (a) estou sempre muito atrasado e querendo todo mundo fora do meu caminho ou (b) meu bairro se transformou numa vila para auto escolas clandestinas “perca o medo de dirigir” style.

Mens sana in corpore sano

“Quando você vai cuidar do corpo você pendura o cérebro no vestiário. Esse problema se tornou ainda mais sério nas academias quando as máquinas de movimento guiado explodiram. E movimento guiado não precisa ser pensado. Isso é algo muito sério.”

[…]

“Minha história é a de alguém que foi obrigada a não acreditar em limite para sobreviver. Os limites que contaram para mim que existiam.”

Marília Coutinho, irmã do cartunista Laerte, bióloga ph.D e uma das maiores halterofilistas do Brasil, conta em entrevista à revista Trip como, através da dedicação ao esporte, se livrou de um distúrbio mental destrutivo que a acompanhou por quase toda sua vida.

Late adopter

Essa semana chegou o Samsung Galaxy Tab da Gi Gomes e eu estava tão ansioso quanto ela, que levou no trabalho pra que eu pudesse ver em funcionamento. Ele é pequeno, tem sete polegadas, mas é um tamanho ideal para ler, usar a internet, atualizar redes sociais, assistir vídeos e levar no ônibus. É do tamanho de uns 3 celulares Blackberry, achei suficiente.

O problema é que ele também custa como uns 3 celulares Blackberry. 2 mil reais fora a conta do chip 3G, que se torna uma mensalidade além do aparelho, mas dessa não se tem como fugir, a não ser que você tenha um amigo que compartilhe a rede wi-fi e esteja disposto a tomar uma multa da Anatel.

Daí que o malandro que entrou essa semana trouxe seu iPad logo no segundo dia. A parada é linda, bem acabada, os jogos são sensacionais, a usabilidade, a velocidade na leitura dos ebooks e pdfs, mas, tudo tem um mas, acabei achando as quase 10 polegadas um trambolhão desnecessário se comparado ao Galaxy.

A vantagem é que o cara pediu para um amigo trazer de fora e acabou pagando sem impostos uns módicos 750 reais além do trabalho atrás de tutoriais para desbloquear o aparelho.

Minha resolução final sobre esses gadgets é que eles são ideais para mobilidade, para quem anda de trem, para quem precisa escrever dentro do taxi ou do ônibus, pra quem precisa uma forma boa para apresentar um portfolio (no caso da Gi), ou apenas abandonar seu PSP (no caso do cara novo), mas ainda consigo viver alguns anos sem eles.

Como nunca tive um MP3 player, só comprei meu primeiro celular com internet no ano passado e tive meu primeiro pendrive só esse ano, claro que não sou parâmetro.