É pouca zuera?

Eu não assisto Big Brother. Algumas decisões a gente toma partido por ideologia, outras por decência, outras por pânico. Essa é por indiferença. Eu nunca vou entender o motivo de boa parte da população se interessar tanto por relações pessoais de estranhos (e, a propósito, que tiozinho estranho aquele afeminado tentando provar que é o ser vivo mais feliz do universo a cada trinta segundos. Não sei o nome, supere).

Toda essa introdução desnecessária pra dizer que ontem eu assisti um trecho do programa e resetei minha senha do Gifsoup só pra deixar registrado esse momento mágico do entretenimento brasileiro (acima).

Férias, cadê?

Alguém precisa me dar férias em caráter de urgência. Se não rolar, vou cada dia mais implementar e evoluir meus métodos de responder correntes. E sim, isto é uma ameaça:

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Eu não acredito mais no mundo

imagem via André Dahmer

Podem me chamar de superficial ou de rebelde sem causa, ou de jovem Che Guevara, mas o que venho aqui dizer considero extremamente sério, principalmente por não ter solução: O capitalismo fodeu com o planeta. E não encontro no vernáculo forma mais clara de dizer isso.

Ora, não fossem as buscas e competições por empregos decentes, os filmes, a expectativa inalcançável de sucesso, a corrida dos ratos e a busca por essa vida média e fácil não teríamos tanta gente com empregos desnecessários por aí e, por conseguinte, não teríamos um mundo tão amplamente deteriorado.

É preciso que você tenha um emprego que as pessoas comentem, porque as pessoas querem saber o seu cargo antes de qualquer outra coisa. Não interessa se você está estudando a cura do câncer ou formas de eliminar o lixo do Rio Pinheiros. É uma cultura e pressão social que leva milhares de pessoas se tornarem jornalistas, publicitários, designers e marketeiros com o sonho de que suas vidas se transformem em documentários no Vimeo (ps.: estou criticando aqui, basicamente, toda a minha lista de amigos e conhecidos).

Quando eu era pequeno gostava de desmontar e montar despertadores, relógios, televisores, seja lá o que desse para abrir com algumas chaves, eu gostava de saber como era por dentro. Não fossem meus pais seres humanos médios ou de pouco tato, talvez hoje eu estivesse em algum simpósio falando sobre os avanços da rede neural robótica. Mas não, sou um jornalista, porque era o lugar mais fácil que poderia ter me encaixado. Uma faculdade média, quatro anos entediantes, sucessivos empregos entediantes enquanto o mundo e a evolução se fodem.

Essa é a primeira parte.

Em segundo plano vem a oferta e a procura. O negócio que fez as duas versões do iPad. As quatro versões do iPhone. Eles não podem ajudar. Empresas precisam crescer, tecnologias precisam avançar então “vamos lançar o primeiro sem webcam mesmo sabendo que podemos lançar com vídeo conferência e muito mais utilidades só pra ver o resultado”. A terceira versão vem com slot pra cartão de memória, quem sabe.

Mas este é apenas um exemplo ridículo sobre algo maior e extremamente mais ridículo. A constatação de que é o dinheiro que move o planeta. O trabalho não é mais uma causa, o trabalho precisa existir para mover qualquer instituição sem utilidade. Para ilustrar melhor e parar por aqui, digamos que as pessoas querem empregos mais fáceis ainda que não se sintam úteis para o contexto geral de suas vidas. Isso quer dizer que, se elas puderem viver uma vida decente, com três banhos por dia, um cachorro e uma TV a cabo, elas vão fazer isso mesmo que sejam contratadas para produzir conteúdo na internet servir cafés. É mais fácil não se envolver com a construção de um planeta melhor.

E então, a última parte.

Ser uma pessoa incrível e fazer uma descoberta incrível não tem mais tanta utilidade no mundo em que vivemos (ps.: me considero jornalista mesmo escrevendo jargões como “no mundo em que vivemos”). Se um cara descobre “a segunda roda”, por exemplo, ou uma forma dos carros voarem, ele vai fazer daquilo o big shot da sua vida. Não tem porque compartilhar seus feitos e ajudar a melhorar a vida na Terra se você pode guardar e montar toda uma estratégia empresarial para se tornar milionário e vizinho do P. Diddy.

Nada mais se usa em prol da humanidade. É tudo mercado. As pessoas vendem suas idéias, seu tempo, sua vida, só pra conseguirem um canto onde morar, um carro para buscar os filhos na escola e uma boa aposentadoria aos 65. Fico imaginando como seria caso no modelo de mundo que temos hoje, ainda não houvéssemos descoberto a roda (é, eu sei). Nego trabalhando pra conseguir comprar um carro com roda, nego maluco pra mostrar pros amigos seu novo carro com roda.

O ser humano deixou de se importar com o mundo para se importar com sua própria vida e, como temos visto nos noticiários, o planeta não anda muito contente.

Como disse no começo do texto, o Capitalismo não vai sair de moda e esse é o mundo que vamos ver acabar, as utopias de que um dia tudo vai mudar estão se reduzindo a pensamentos solitários em mesas de boteco. Então supere, it’s not gonna happen, kids.

[antes que me xinguem de moralista, eu sei que faço parte de toda essa cadeia de gente que escolhe o mais fácil e não participa da construção do mundo. Por isso o título distópico do post]