Os homens mais perigosos da América

Daniel Ellsberg é o nome por trás do caso Pentagon Papers, que revelou ao mundo as mentiras desferidas durante a guerra do Vietnã. O documentário The Most Dangerous Man in America, de 2005, descreve com detalhes seus feitos para a história da democracia, às vezes em citações, às vezes em declarações humanas como essa:

“Em 4 de julho de 1946, viajávamos para Denver passando pelos milharais de Iowa. Um dia muito quente, ao meio dia, meu pai adormeceu ao volante e o carro saiu da estrada rumo a um canal, uma parede no lado da pista e arrancou o lado do carro onde estavam sentadas minha mãe e minha irmã e as matou. Eu estava do outro lado, atrás do motorista, tive uma concussão e quebrei um joelho, fiquei em coma por 36 horas e no hospital por cerca de três meses e meio.
Creio que isso provavelmente me deixou a impressão de que alguém que amava, como meu pai, ou que eu respeitava como autoridade podia dormir no volante. E tinha de ser observado, não porque fosse mau, mas porque estava desatento, talvez, quanto aos riscos.
11 meses antes quando eu tinha 14 anos, Hiroshima e Nagasaki tinham sido destruídas. Fiquei muito preocupado com essa sequência de fatos humanos. Pensei que era muito sinistra. O que eu via como um ato moral extremamente questionável do nosso presidente que eu admirava, Harry Truman, confundiu-se em minha cabeça com a falha do meu pai em ficar alerta e permitir que o carro matasse minha mãe e minha irmã”

Narrado por ele próprio, a história é contada através de fragmentos, como de costume, e remontada por meio de locuções épicas, declarações presidenciais, entrevistas, capas de jornais. Apresenta o personagem por completo, não apenas um revolucionário tentando quebrar as regras do mundo, mas sim um homem simples e sensato, em busca do que acha verdadeiro.

Um documentário sensacional, por apenas 700MB no Torrent mais perto de você.

A palavra é superfaturamento

Daí que a Maria Bethânia ganhou incentivo de 1,3 milhão pra abrir um blog de poesia. E então o debate na internet gira em torno de gente da minha geração considerando isso um puta desrespeito e gente da geração anterior para quem somos todos um bando de garotos restart, dizendo que ela merece tudo isso por conta dos serviços prestados (sic) ao país.

Os blogs dessa gente são ameaçadores e ofensivos como o Jorge Furtado ou até fazem uma boa tentativa de reflexão, como a reprodução no blog do Nassif, mas eles chegam ao mesmo denominador comum: o pensamento de que criar um blog, fazer cinema e criar uma revista podem ser colocados na mesma colcha de retalhos da lei Rouanet.

Bem, analisemos superficialmente, como nos é de praxe.

Se eu fosse um cineasta, poderia justificar meus gastos com equipamento, cenário, atores, staff, figurino, iluminação, edição, montagem, sem contar a pós produção. Para uma revista, contratar jornalistas, diagramadores, editores, revisores, até gente atabalhoada para distribuir no farol, se necessário.

Um bom dinheiro. Mesmo se você quiser fazer um documentário sobre a vida e obra da sua mãe, é algo complicado que demanda conhecimento de técnica, aprendizado e esforço. Talvez por isso a sétima arte ainda seja um campo um tanto distante da orkutização (uso a palavra como significado de popularização para o contexto dessa epifania).

Com um blog como o da Bethânia e como toda a estirpe dos nossos, você não precisa gastar nada além de sua própria cabeça e uma conta no Google. Uma filmadora simples com Full HD, vai, pra não deixar tudo meia boca, talvez um microfone e uma hospedagem mediana, pro caso de muitos acessos. Dá pra comprar óculos novos também, pra fazer umas de que está se importando com o visual e que já deixou os anos 80 pra trás.

E.MAIS.NADA.

Agora nego vem colocar tudo no mesmo balaio como se todos precisássemos de 1,3 mi acusando blogs de não se importarem em ganhar dinheiro com o MinC (logo os blogs) e vêm comparar uma musa da MPB (sério, não sei de onde tiro esses clichês, eles simplesmente aparecem) com um bando de gente querendo escrever literatura que se perderá com os anos e os acessos negados das contas inativas? Não, ninguém quer ser a Maria Bethânia e não tem a ver com moral ou bons costumes, basta fazer as contas e descobrir que tem gente fazendo isso há tanto tempo e com excelência como o Sindicato dos Escritores Baratos (o nome nunca pôde fazer tanto sentido) e os agora provocadores 365 poemas por 1 real. Coloque na lista também O Bule, literatura na contramão. E, como disse, refaça as contas.

Ninguém está dizendo que a Maria Bethânia quer ganhar dinheiro fácil, estamos apenas discordando desse pensamento que o Blog da Bethânia merece ser criado e gastar todo esse dinheiro destinado a projetos culturais por um bem maior da internet. Será criado por um retrocesso, como os túneis que Maluf construiu em São Paulo, me ajudem com a palavra, é quando se usa muito mais dinheiro do que o processo demanda… Esquece. Minha geração está realmente perdida.