Nós na fita

Vibe essa do dia dos namorados hein? Dei uns presentes bobos, uma foto, esse tipo de coisa pequena, mas bem significativa, como os presentes de verdade. Tivemos dois dias incríveis no final de semana, sem ‘mas’, sem neuras, só sorrisos, como espero que tenha sido o de todos.

Gravei uma mixtape também. Dessas que a gente pega as músicas marcantes e diz coisas bobas nos intervalos. Nunca tinha gravado uma. Nick Hornby disse algo bonito a respeito de gravar uma mixtape para alguém que você goste, embora eu eu nunca me lembre da citação (e acabei de descobrir que toda a demora para escrever esse post foi baseada na busca dessas aspas):

“I spent hours putting that cassette together. To me, making a tape is like writing a letter, there’s a lot of erasing and rethinking and starting again, and I wanted it to be a good one, because … to be honest, because I hadn’t met anyone as promising as Laura (…)  A good compilation tape, like breaking up, is hard to do. You’ve got to kick off with a corker, to hold the attention (I started with “Got to Get You off My Mind,” but then realized that she might not get any further than track one, side one if I delivered what she wanted straightaway, so I buried it in the middle of side two), and then you’ve got to up it a notch, or cool it a notch, and you can’t have white music and black music together, unless the white music sounds like black music, and you can’t have two tracks by the same artist side by side, unless you’ve done the whole thing in pairs, and… oh, there are loads of rules”
Nick Hornby, Alta Fidelidade, 1995

Só caguei para a regra sobre “música negra” e “música branca”, colocando Criolo e Paralamas do Sucesso no mesmo lado. De resto, as decisões são bem difíceis mesmo. É como ambientar cenas de filmes, da comédia romântica em que a Jenniffer Aniston e o Ashton Kutcher são vocês dois. Daí você tem que lembrar aquelas músicas que vocês ouviam quando tudo começou, as músicas sobre brigas e umas paródias engraçadinhas e as que emocionam em qualquer ocasião. Fechando com meu embaraço ouvindo ao lado dela todas as coisas que gravei no microfone por cima da trilha. Uma timidez quase bonita de se ver.

Os emendadores de piadas

Existem pessoas que se esforçam para fazer parte de grupos, para estar na cópia dos emails da galera, ser convidado em festas de aniversário no Facebook, esse tipo de forçação. E existe essa gente que tenta emendar as piadas. É normal estar com uns amigos no bar e espremer uma piada até que ela deixe de fazer sentido. É quando não há mais de onde tirar criatividade que eu e meus amigos dizemos “ou não” e fica claro que não dá mais pra emendar nada ali. E isso é normal, acabamos dando risada disso depois de tudo. How I met your mother tem algumas esquetes assim.

O humor, né, gente, virou commodity. Você precisa ser engraçado pra ser aceito, pra que as pessoas te vejam como uma pessoa legal. Denúncia: Ninguém que seja absolutamente sério e centrado é visto como uma pessoa legal, atente. Você precisa ser uma espécie de comediante a todo instante para que a vida seja mais fácil, para conhecer pessoas, para conseguir empréstimos no banco ou um chorinho de suco de laranja na padaria. Impressionante dizer, mas os “sérios e centrados” estão no mesmo patamar dos derrotados sociais. Ninguém liga se você é uma boa pessoa se você mantém sua cara fechada. Da mesma forma, ninguém liga se você aparecer como cara de derrotado na padaria, “eu hein? Pra esse aí não tem chorinho não” (“chorinho” e “derrotado” não foi proposital, juro).

Tem esse comercial da Toddy, com um garoto querendo saber uma verdade. Arrisco dizer que é o comercial mais triste dos últimos tempos, embora os personagens vestidos de vaca gargalhem como se fosse realmente engraçado o que estão falando. Depois da pergunta, as vaquinhas dizem que aquela garota que ele gosta pode estar invisível no MSN e ainda mais: pode tê-lo bloqueado. Eu queria que alguém me explicasse em que nível de demência isso pode ser considerado uma piada.

E tem o Rafinha Bastos e aquela piada infeliz sobre órfãos e uma outra sobre mulheres feias estupradas. De um lado os puristas, reclamando que ele não tem direito de dizer, não pode, deve ser preso, acorrentado, enforcado em praça pública. De outro, os admiradores de Nelson Rodrigues, argumentando o óbvio: se fosse vivo nos nossos dias, o anjo pornográfico se mataria. O que não posso entender em todo esse debate é, se você sabe em que ponto de idiotice o tal do Rafinha pode chegar numa piada porque você faz tanta questão de tratá-lo como absurdo apenas quando ele pisa nos seus calos?

Tenho uma posição bastante inofensiva a respeito disso: é preciso deixar o cara falar o que ele bem entender. Mesmo se ele achar o ato de amamentação nojento, ou que pessoas feias precisam ser estupradas ou lembrar os órfãos sobre como é terrível o dia das mães. Se existe um público para isso, Rafinha Bastos é apenas um fruto podre alimentado pelo tempo em que vivemos, é vítima de um auto estupro moral, com lembra o Dimenstein.

Claro, acabei de descobrir, perdi o tino completo desde post. Falava sobre essa gente que emenda piadas. Outro dia assistia um jogo qualquer, quando um dos comentaristas diz algo sobre como o futebol é cheio de surpresas: “bom o cara que fez esse filme futebol, não é?”, ao que Cléber Machado, do alto de sua magnitude complementa “digo mais, deve estar rico hoje!”, rindo naquela vibe de quem conta piadas para si mesmo. É preciso dizer que não há o que complementar se, logo de cara, você não entendeu o espírito. Era sobre isso que falava, acredito.

Day 02 – your least favorite song

Bom, certamente a banda que menos gosto no mundo é o Jota Quest. Coisa de não ir com a cara mesmo. O Lobão fala da falta de paudurescência do Restart e do Fiuk, mas e esses malandros? Podem ter umas músicas bonitinhas, até gosto dos timbres limpos de guitarra, mas esse xoxismo não me entra na cabeça. Essa música que coloquei pra ilustrar é só um exemplo que, além de pau moles, suas letras pecam em contradições menores. O cara diz “não adianta falar de amor ao telefone, isso é ilusão” e no final fala que “a obrigação da sua voz é estar aqui”. A voz já está aí, jovem, via telefone. Talvez fosse melhor trocar a letra por “a obrigação da sua laringe e das suas cordas vocais é estar aqui”. Eu daria um ponto.


Telefone, Jota Quest