A cadeira vermelha

Postando aqui a redação que pediram na primeira entrevista de emprego depois de tudo. A íntegra do texto com aquela pequena dor de ter errado uma concordância nominal (redação no papel, até quando?)

*
 
A cadeira vermelha

Eu vejo à minha frente uma cadeira vermelha. Simples, útil e, porque não, promissora. Um objeto que diz mais do que os objetos comuns geralmente nos dizem, ou seja, tem muito mais vida que o silêncio das coisas inanimadas. Me encara serena, calada, com perguntas demais e poucas respostas. Eu a admiro pelo calor que aprendi a doar pelo que me motiva, pelo fervor dos desafios que ela representa. Uma nova meta, planos mais bem construídos e algo novo pelo qual acordar todas as manhãs. A cadeira vermelha me conta uma belíssima história sobre o que reserva o futuro e ao mesmo tempo diz que sou eu quem deve escrever essa história. Os melhores livros, afinal, são aqueles que vivemos.
 
Aparece um momento de nossas vidas em que tudo começa a fazer sentido. Algumas peças novas passam a se encaixar melhor do que as antigas e você finalmente passa a decidir o que realmente pretende em toda essa jornada.

É preciso todos os dias viver o novo, o desafio, a experiência que não tivemos. E assim acumular livros e histórias pra contar, com o mérito de ser protagonista. Ir atrás de um mundo todo novo em que nada lhe pareça familiar. No começo vai parecer absurdo e impossível, vai parecer que você nunca vai se acostumar. E então você vai descobrir que a melhor forma de manter sua vida ativa e intrigante talvez seja jamais se acostumar com o que quer que seja. É assim que você vai sentir o sangue correndo em suas veias, pulsando quente, forte e vermelho como a cadeira que agora parece lhe sorrir.

Uns dias melhores que outros

Não gosto tanto assim de presentes e festas nos dias certos. Os dias “errados” carregam algo de muito mais humano, uma trivialidade cheia de privilégio. Eles não precisam de campanha de marketing, ou de gente te pressionando sobre como se deve ou não presentear quem você ama. Sou mais a grandeza dos dias simples que a pequenez da obrigação datada.

Hoje somamos o segundo dia dos namorados juntos. Os melhores de todos, sem preocupações maiores ou pressões, porque Aline, assim com eu, pensa que a felicidade acontece mais nos dias comuns do que em datas marcadas. Sem grandes mimos que não podemos pagar, jantares e excessos, talvez nos baste saber o que representamos de verdade um ao outro.

Daí que ela, num desses dias “certos” (12 de junho, hoje) posta uma frase aleatória do Belchior que eu encaro como um presente indireto e, mesmo invalidando parte de tudo isso que escrevi, faz da nossa cumplicidade ainda mais autoexplicativa.

A ela, de volta, outro trecho, outra música:
 

“Mas quando você me amar, me abrace e me beije bem devagar
Que é para eu ter tempo, tempo de me apaixonar
Tempo para ouvir o rádio no carro
Tempo para a turma do outro bairro, ver e saber que eu te amo
Meu bem, o mundo inteiro está naquela estrada ali em frente
Tome um refrigerante, coma um cachorro-quente
Sim, já é outra viagem e o meu coração selvagem
Tem essa pressa de viver”

Um feliz dia comum pra nós.