Até não doer mais

Rasgar a pele e triturar a alma. Ter bons motivos para ficar em silêncio assistindo as vísceras da sua dor se debatendo. E ter ainda mais motivos para não acreditar em nada. E para acreditar em como tudo faz sentido, como as coisas se encaixam. Ser pra sempre essa peça a mais no tabuleiro, que consome os restos, devora as bordas, a pedra no sapato, o botão de pause e slow motion em “festas que estive e ninguém me viu atirando bolo aos peixes”.

Daí ter novamente comigo. Ter uma saudade de estar num bar na esquina sem se importar com as caras que passam, sem se importar com a vida que se encerra, ou com lugares ou pessoas melhores com quem poderia estar. Sem se importar com o sorriso dela. Sem pensar “onde quer que esteja”.

Abrir o ferimento como quem abre um buraco na terra. E cavar fundo, para ver a escuridão e morrer por alguns segundos. E começar a jogar terra por cima. Terra, infinita terra. E reabrir sempre que necessário. E remendar todos os dias. A cada tapa da aposta. A cada violência autopunitiva.

Até não dar mais.
Até não doer mais.

Kenan Knows

Hoje encontrei Kenan (sim, o mesmo Kenan que me fez vegetariano). Me disse sobre um amigo gay que estava com medo de se assumir e de como era o preconceito nos anos 90 em comparação aos dias de hoje. Disse também que está se alimentando bem e se exercitando muito, “porque a noite cobra demais da gente, cara”. Falou algo sobre o Love Story e no mesmo momento traduziu o nome da balada (motivo: jamais saberemos).

E então começou a me falar sobre como é preciso ocupar a mente com coisas melhores que o amor, “porque o amor nos desgasta demais, cara”, disse que todos nós temos um tempo de sofrer, é natural e necessário. Disse que é preciso tomar cuidado para saber exatamente o quanto dura esse tempo e não se maltratar mais do que o ideal, pois é a gente que escolhe sofrer quando todo o sentimento ruim já deveria ter ido embora.

Ele me deu essa semipalestra motivacional sem eu ter dito nada a ele.