Em prol dos sapatênis

Dentre quase todos os meus amigos inteligentes, de esquerda ou modernos, existe uma coisa em comum: o fato de relacionar os chamados sapatênis a um estilo de vida tão coxinha quanto o de um rei do camarote. Uma visão de mundo em que todas as pessoas que usam sapatênis frequentam o Franz Cafe e baladas da Vila Olímpia (o que em alguns círculos é o mesmo que dizer que come cocô e usa pochete).

E logo eu que sempre fui o mais crítico neste assunto, certo dia peguei-me numa loja de departamentos tendo de comprar um sapato que custava um tanto caro em comparação ao que costumo gastar e acabei levando também um sapatênis que não me parecia de todo mal, num primeiro momento (a foto está no post anterior, julguem). Ele custava menos da metade do preço do sapato e era, inclusive, mais barato do que os tênis que uso frequentemente. Mas tá, ainda era um sapatênis.

Fui condenado a um paredão de injúrias, de humilhação pública. Pessoas pasmas me olhavam com feições que diziam “como você pôde fazer isso com a gente?”, rostos chocados nos quais podia-se claramente ler “eu pensei que você era diferente”.

Foi o primeiro movimento que traí.

Agora vem a parte em que me defendo. Olha, fazia tempo não usava um tênis tão confortável. Eu acabei comprando outro na sequência e posso dizer, sendo um sapatênis mais rasteiro, ou mais robusto, ambos tem níveis de conforto inacreditáveis. O outro acabei não gostando muito por ser realmente meio coxinha demais, mas esse da foto praticamente calça sozinho.

Daí vem uma pequena dúvida: não sei se todos os sapatênis são baratos ou apenas os que se encontram em lojas de departamentos, mas até agora, não me decepcionaram.

O fato é que também dane-se, né?

Segundo melhor lugar do mundo

O rolê hipster de ocasião no domingo foi uma manhã e tarde quase noite de risadas para desafogar com N. e R., desde a Augusta até a adega, passando pelo chá da tarde na Benedito Calixto e R. chamando as pessoas de Angélica e o garçons de Alfredo, basicamente, resumindo bem porcamente o rolê mais legal do ano até então.

Voltamos um tanto tarde, eles precisavam viajar de volta pra casa e então os deixei em Pinheiros e passei por um lugar que não ia faz muito tempo (é, esse da foto), um lugar que eu costumava frequentar, do qual tenho uma pancada de lembranças, mas um lugar que ficou pra trás, como todos os outros lugares ficam pra trás.

Este lugar é um retiro. É uma praça que você só encontra errando muitas ruazinhas no começo do Alto de Pinheiros. Feita para tiozinho brincar com cachorro e fazer exercício pela manhã. Uma praça na qual o primeiro cigarro que você acende faz você se sentir automaticamente um punk sem futuro – especialmente pelas caras de ódio e negação que fazem as tiazinhas ricas praticando corrida, seu lixo.

Deitei no banco da praça tentando te esquecer adormeci e sonhei com você apenas para esvaziar a cabeça, admirar as árvores, receber picadas de uns pernilongos mais ligeiros que meus tapas. Não tinha ninguém lá. A tia que corria em volta parou depois de um tempo, provavelmente com receio de dar alguma merda, uma vez que apareci do nada, como um fantasma ou um sequestrador (não julgo, mas #freerolezinho).

É o segundo melhor lugar do mundo. O primeiro melhor lugar do mundo é a internet obviamente fica dentro de clube para funcionários públicos perto do Jd. Horizonte Azul. Não tem nada a ver com o clube. É apenas um espaço de grama que dá pra ver a represa de Guarapiranga como nenhum outro lugar (ninguém passa por lá também, o que é uma excelente prerrogativa para ser candidato a melhor lugar do mundo).

Os lugares continuam sendo lugares, os fuscas azuis continuam sendo fuscas azuis. E a vida vale cada vez menos, escorrendo pelos dedos sem a gente notar. Parece poético, mas eu estava num estado de embriaguez semi transtornado nível 7: precisando demais de um teletransporte pra casa.

(sobre a foto: sim, é um sapatênis, me processe. prometo, para breve, uma elegia ao sapatênis. 2014, bitches)