Copacabana, Bitch

“(…)São as primeiras gravações do Gil no exílio, feitas em dois canais e são só seis músicas, mas, repito, destrói com garbo, elegância e bicho-grilice, toda a onda atual de violãozinho. É tipo você se achar foda porque é designer de flyer duma balada de moderno e de repente descobrir que seu vô inventou o LSD”

Trecho extraído da resenha do disco Copacabana Moun Amour, de Gilberto Gil, na revista Vice desse mês.

Manifesto para que nos deixem em paz

O envelhecimento precoce traz à tona o que temos de pior, aflora as angústias, polui os pensamentos e cataloga nossas depressões em ordem alfa-numérica. Uma das características dessa minha fase é a aceitação do que não seremos em nossas vidas. Saber que você tem quase 30 e um carguinho ‘na área’, acaba se tornando a única forma de se sentir mais humano e menos especial, como todo mundo.

Tudo o que me incomoda, que me joga um balde de água fria, tudo o que faz com que eu não tenha sonhos, ambições ou metas a cumprir (pra enlouquecer de vez a Denise) é saber o que eu não posso mais fazer, seja porque não cabe mais a um homem de minha idade sair para colar cartazes de shows punks na rua Augusta, seja porque é inviável financeiramente manter bandas, zines e posturas.

A teoria aqui mostrada é que o desenvolvimento do homem dá margem para que toda a sociedade lhe diga o que fazer, como ser, ou defina que espécie de aparelho portátil para abdominais e geladeira duplex você deve comprar para que alguém mais além da sua mãe tenha seu nome na agenda telefônica.

Desde pequeno você ouve seus pais. E alguns anos depois de uma conturbada juventude permissivamente rebelde, você volta a ouvi-los. E, inconsciente, gostaria de ter apenas eles para ouvir, como quando era um bebê nos colos sangrentos da sociedade (ok, nessa eu peguei pesado).

No fundo, ninguém quer ser criança novamente. Ninguém quer se machucar nos brinquedos do play, quebrar a perna pela primeira vez ou ser enganado pelo tiozinho do cachorro-quente que jurou que ia voltar com o troco da sua mãe.

Só queremos menos regras, menos gurus dizendo o que temos de fazer para que nossa vida dê certo, menos Patrycias Travassos e garotos propaganda usando verbos imperativos. Só queremos que nos deixem viver nossas vidas da maneira que bem entendermos.

E quando digo isso tudo em terceira pessoa estou apenas tentando colocar toda minha geração junta nessa depressão que é tão minha. Desejo um forte abraço a todos os envolvidos.

Quase fiz uma piada com ‘panela depressão’, mas não o fiz. Podem me agradecer nos comentários.

Walking Dead, tudo na rede

Walking Dead é uma série com zumbis. Isso me bastou para passar o último mês completamente maluco por cada notícia e cada cena das gravações, novos trailers, o de sempre. Até quando o episódio vazou* na rede, assisti sem legendas, numa qualidade terrível. Porque, inacreditavelmente, eu não tenho vergonha desse tipo de atitude de adolescente fã de Crepúsculo.

O primeiro episódio, dizem, é melhor do que a HQ. Não posso comparar, uma vez que só li a primeira edição da revista, que não conta todo o piloto, mas boa parte dele. O que posso dizer é que o seriado começa com uma variação de cenas nojentas, corpos mutilados e um elenco de zumbis e outros personagens menos caricatos do que em Zombieland, por exemplo.

Apesar de tudo, a Fox conseguiu cortar uns pedaços da série. E não digo ‘pedaços’ sem necessidade, que resumiriam a história, por motivos comerciais e bullshits. Estou falando de trechos importantes, que dariam outro contexto à história. É como não pagar o dublador do Homer Simpson na hora que o público mais precisa dele. Como teste, assista os dois (primeiro a versão web e depois a versão da Fox) e preste atenção no cavalo. Você vai entender.

E, bem, para me culpar completamente pelo copyleft da obra, você pode ler no WalkingDead.com.br toda a série de HQs.

*’vazou’ neste contexto significa viralizar por trás das cortinas, pra parecer um simples engano de logística. Conspirações, amigos, conspirações.

Procrastinate now & Panic Later

Poucos souberam explicar a procrastinação como algo palpável. O ato de abandonar obrigações sem motivo – ainda que sabendo dos resultados desastrosos a que podem levar esta ação – é elucidado em O demônio da Obstinação, escrito em 1845 por Edgar Allan Poe.

O texto é um ensaio sobre o fator irracional nas decisões humanas, induzidas por um mal supremo que nos obriga a fazer o que não se deve. A última parte trata da história de um homem encarcerado que, vítima dessa obstinação se vê obrigado a confessar um crime que esteve sem solução durante anos.

E no trecho abaixo, Poe coloca uma luz de castiçal envenenada sob sua obra e destrincha nosso conceito contemporâneo de procrastinação:

“(…)Estamos diante de uma tarefa que cumpre terminar depressa. Sabemos que a demora significa a ruína. A crise mais importante de nossa vida nos chama, com um toque de clarim, à ação enérgica e imediata. Estamos radiantes, consumidos pela vontade de atirarmo-nos à tarefa, antecipando o glorioso resultado que nos põe a alma em chamas. Devemos, precisamos começá-la hoje, e, no entanto, a deixamos para amanhã – por quê? Não há resposta, salvo que nos sentimos obstinados, usando a palavra sem compreender seu princípio. O amanhã chega, e com ele uma ânsia ainda mais exasperada por desempenhar nossa tarefa; mas, junto com essa ânsia, surge também um desejo inominado, deveras temível – porque incompreensível – de postergar. O desejo ganha força à medida que o tempo passa. Chega o último momento em que podemos agir. Estremecemos com a violência do conflito interno – do definido contra o indefinido – da substância contra a sombra. Mas, se o embate chega a esse ponto, a sombra prevalece – lutar é inútil. É quando os sinos dobram por nosso bem-estar. Ao mesmo tempo, é o cantar do galo para o espectro que há tanto nos oprime. O fantasma esvoaça – desaparece – estamos livres. Recobramos a força de outrora. Já podemos trabalhar. Mas – ai de nós – é tarde demais.”

Edgar Allan Poe, em O Demônio da Obstinação, 1845

Interpretações

Essa noite tive um pesadelo com uma aranha. Desculpem, só depois de ter escrito é que a frase soou assim, awful. A verdade é que sempre tive essa parada com aranhas-monstro. Assim que conseguir minha coleção do Freud, vou tentar me explicar – e explicar a vida de todos vocês, por conseguinte.

Encontrei umas explicações sem fundamento nesses dicionários de sonhos que prefiro não compartilhar porque não acredito nisso – alguém acredita?

Mas tenho certeza que foi por dormir ao lado do meu exemplar de O Gato Preto e outras histórias, do Edgar Alan Poe. Não tem outra explicação.

Ou tem?

Crescer

Estranho demais crescer. Sério, fica a dica para o filho que ainda não tenho, como naquele tumblr. Crescer demanda programação, empenho, determinação. Honrar compromissos, criar dívidas desenecessárias, se desesperar por situações que você jamais imaginou, ser tratado como ‘sr.’ por um cara mais velho do que você, em um banco, por exemplo. Sempre tenho vontade de responder que essa cordialidade não é necessária, mas tenho medo de soar mais repugnante ainda.

Sem contar os casamentos, chás de bebê, festas de despedida, open houses, visitas, dois beijos, três beijos, abraço desconfortável, a falta de conversa, cada coisa. É preciso saber onde se meter, onde rir. É quando você começa a perceber que os padrões, nossas conversas e situações são tão pouco verdadeiras que mais parecem uma ficção tola, que perde pra qualquer novela das oito em termos de tédio. Ou vai me dizer que se você estivesse assistindo sua vida como um seriado de TV acharia ela realmente interessante?

Ainda falando ao meu filho não-nascido, aproveite seus amigos o máixmo que puder, esteja sempre ao lado de quem você ama, não dê muita atenção a gente que só reclama de tudo – com exceção de seu pai, claro. Você poderia encontrar essas dicas nas prateleiras de auto-ajuda que eu espero que você jamais frequente (e espero também, do fundo do meu coração, que você um dia leia aquele livro do Will Ferguson e nunca acredite nesses autores que têm respostas pra tudo).

And you’ll be where you want to be…


Wilco, When you wake up feelings old

Livros digitais e meu presente de natal

A questão dos livros digitais me deixa curioso, mas raciocine comigo: as pessoas vão aceitar comprar arquivos de livros digitais por 20 ou 30 mangos? Apesar de saber que é um modelo de negócio e os investidzzzzz… Sou descaradamente a favor da MP3zação do e-book.

Então minha fissura pelo e-book reader finalmente despertou quando encontrei o Reader Daily Edition da Sony. Ele não tem essa besteira do Kindle de ler apenas os arquivos vendidos pela Amazon e custa o preço de uma consciência tranquila, que convertidos a nossa moeda soa algo como 500 reais. Mas isso se você tiver um amigo que viaje para o exterior e traga. Isso se você comprar com a cotação do dólar de hoje. E isso se você aguentar a espera até ele ser lançado, porque só agora descobri que é pré-venda.

Tantos poréns e uma Santa EIfigênia tão perto de mim.

Um novo retorno

Após uma singela passagem pelos servidores inúteis do WordPress, este blog está de volta ao Blogger.

Neste meio tempo, dispensei uma oportunidade de emprego ótima simplesmente porque não ia dar pra pagar as dívidas (fuck), escrevi uma crítica sobre o reality show dos mineradores do Chile antes que o Observatório da Imprensa o fizesse (RÁ!). Terminei de ler o Um Grande Garoto, livro meio boring, mas que acaba sendo como um compêndio geral sobre as famílias desestruturadas dos últimos 20 anos. Guardei algumas idéias para o meu futuro que jamais devem ser colocadas em prática. O Itaú conseguiu me rejeitar uma ajuda básica (consegui de novo, amigos) e o Jack Ribs provou ser a pior merda em fast-food de shopping. Entre outras felicidades, o Meleca voltou e eu me declarei fã do Nilson César.

Obrigado pela vista. Agora sim, programação normal.