Procura-se

Procura-se meu espirituosismo. Sumiu semana passada depois de ter ido à padaria comprar cigarros.

O que me faz pensar: Será que as pessoas que dizem ‘vou na padaria comprar cigarros’ e nunca mais voltam realmente passam pela padaria? Não faz sentido cumprir sua mentira, se você quer fugir de qualquer maneira. Seria a padaria uma espécie de limbo moral em que as pessoas decidem se abandonam ou não suas vidas medíocres, seja elas quais forem?

Mas bem, eu falava do meu espirituosismo…

Aconteceu quando a empresa de manutenção veio consertar o ar condicionado que fica sobre minha cabeça. Enquanto um dos fulanos subia a escada, o outro apoiava e, por acaso, bisbilhotava meu bloco de notas enquanto eu escrevia um texto qualquer para este blog.

E eu, que não admito leitores em tempo real, fechei o arquivo sem concluir o raciocínio.

Exatamente como neste texto.

Nota

Perto do dia 15 de cada mês começo a ter sintomas da minha depressão mensal, que a Denise chama carinhosamente de TPM financeira. Os sintomas são a queda abrupta do espirituosismo, acentuada por uma presença online menos frequente e que, no dia 15, chega a níveis tão baixos que os instrumentos mais avançados sequer conseguem detectar.

(outro sintoma é escrever textos com explicações absurdas como esta)

E como o trabalho não para de pulular estou offline e pouco orgulhoso disso.

Volto em breve.

Enquanto isso, no mundo em que vivemos

No começo da semana roubaram o carro do Rodrigo que, em suma, estava de madrugada, no meio do bairro, procurando os óculos que tinham caído atrás do banco. E, apesar de ter pedido ao ladrão para que pelo menos pudesse pegar os óculos, não teve o ‘direito’ concedido.

A polícia encontrou o carro horas depois, sem praticamente nada. Mas os ladrões acabaram fazendo essa gentileza de deixar os óculos intactos, no mesmo lugar onde estavam.

Ladrão com responsabilidade social. A gente vê por aqui.

Dilema de produtividade

Ou Leio meus feeds do Google Reader mais por raiva do que por vontade

Chega a ser meio esquisito, eu assumo.

Estou trabalhando, certo? Sentado na minha mesa, de frente para o ecrã, lendo meus feeds respondendo solicitações urgentes, a coisa toda. Pra isso tenho meu fone de ouvido com redução de ruídos externos.

Então coloco pra tocar uma música boa qualquer. E me transporto. Saio da sala, é como se estivesse trabalhando numa realidade paralela acima do escritório, da cidade, do mundo. Sozinho, tranquilo e distante.

Segundo Bob Black, bem-estar e trabalho são termos que automaticamente saem correndo um do outro. Acho que ele usa a palavra excludentes. Não tenho certeza.

Uma sensação ao menos interessante. Esqueço a mais valia, os processos burros. Começo a ser mais produtivo, mesmo para esses assuntos que não me importam tanto. Me torno uma autoridade em marcar planilhas, responder pendências antigas as quais eu realmente não dou a mínima.

Até que alguém me sacode:

-Ow, Robson, que isso, menino? Tá perdido? Tão te chamando ali no outro setor, hahahah, tá viajando? Que maluco! Aiaisóvcmsm.

Paro o que estou fazendo e, depois de atender o(a) fulano(a) e perceber que a sensação toda se esvaiu, eu leio meus feeds. Todos. Impreterivelmente. E talvez não volte a trabalhar mais durante o dia todo, nunca se sabe. Bob Black está comigo e nada me faltará.

O Mendigo Sofista

Certa vez, caminhava na Paulista com o Barba, provavelmente após algum festival independente na Outs, ou no Espaço Impróprio. Seguíamos em direção ao MASP, pra descer pelas escadarias assombrosas até a Nove de Julho onde tomaríamos o ônibus.

Eis que um sujeito nos interrompe no caminho. Tinha gingado, jeito de falar e vestimentas próprios de um mendigo. Dá pra sacar, certo? Veio com a velha história de que tinha perdido tudo. Num sotaque esquisito, é preciso explicar.

E num monólogo de dar inveja no Joel Santana nos pediu qualquer dinheiro para a passagem, pois tinha sido assaltado e zzzZZ…

Até aí OK, pensamos que o cara realmente fingia saber inglês, quando na verdade ele fingia saber português e, provavelmente estava falando sério quando nos perguntou num inglês perfeito: do you speak english? Man, I’m fucked up, you know? I need someone who talks.

Nos entreolhamos desesperados pois (a) se o cara falava inglês tão bem, talvez não estivesse nos sacaneando e (b) se ainda assim estivesse nos sacaneando, que diabos fazia um cara bilíngue na rua do desespero sem número?

Saquei uma nota de dois reais e respondi que não falava inglês tão bem quanto ele, mas talvez se ele tentasse explicar sua história devagar eu poderia entender.

-Oh, man, thank you! Really. This is embarassing, but I’m loose all my stuff and need this help. Aprecciate it. I’m a english teacher for brazilians, but I don’t know where is the school that hired me and now I’m lost in town.

Tudo compassado, quase melodioso. Era o mendigo provando que eu era um idiota. E eu, ainda no jogo, tentei empatar:

-hmm, OK, man [cara de decepção]. This is all I can do for you right now.

E, quando terminei a frase ele desembestou a falar depressa, como um Nilson César narrando o Superbowl. Se desculpou e continuou. Entendi que ele tinha perdido sua bagagem e seu contato [cara que segura a plaquinha no aeroporto]. Dois reais não iam ajudá-lo em muita coisa, mas pagava um ônibus na época ou ajudava a comprar um cartão telefônico.

Ele agradeceu novamente, tomou um papel do bolso e transcreveu o número e nome da escola em que iria ministrar aulas, caso quiséssemos aparecer por lá.

Foi assim que (a) ganhamos uma aula de inglês gratuita de cinco minutos com um professor fluente e deploravelmente sujo ou (b) descobrimos que os mendigos da paulista estão evoluindo para uma nova classe mais sofista e mind gamer do que nunca.

Graças a Deus é segunda-feira

Cheguei no trampo, estou ouvindo Mahler e gostaria de compartilhar. Period.


Gustav Mahler – Symphony No. 5: Adagietto

Mas só porque, diabos, pratiquei a solidão quase absoluta no final de semana inteiro. Também, precisava.

Acabei lendo dois clássicos da coleção. Vi dois ou três filmes pendentes, sei dizer de imediato a classificação do meu time no campeonato nacional. E sei dizer do seu time também, Léo, a propósito, que virada, hein, man?

Se eu tivesse uma semana inteira como esse fim de semana, na outra segunda-feira meu quarto seria interditado pela Defesa Civil como local utilizado para criação de zumbis.

Eu tenho isso de não me cuidar fisicamente quando estou sozinho. Tento imaginar como seria se não precisasse trabalhar, nem tivesse ninguém na vida. Salinger perde. Por sorte sou este gordo de classe média, menos detestável por escovar os dentes depois das refeições e tomar banho diariamente.

Como diria o NOFX, thank god it’s monday.

Tem um disco…

Ontem passei no mercado e, numa dessas promoções malucas de livros esquecidos (uma vez achei um disco do Cachorro Grande por R$3,00 no Extra, anos antes deles estourarem), encontrei a radiografia do Marcelo D2 de 53,90 por incríveis e módicos 9,90. É uma história contada através da carreira musical do cara.

Pensando no assunto, porque radiografia e não biografia, entendi a proposta de contar a vida de alguém através das músicas que fez, escreveu e, porque não, ouviu. Faz mais sentido saber em que condições estava sua vida quando ele gravou Mantenha o Respeito ou o disco ao vivo, por exemplo, do que simplesmente saber que ele cresceu ouvindo samba, fumando nas ruas de Madureira, essas coisas.

E foi então que pensei como realmente cada época de nossas vidas tem um disco. Um disco que liberta, um disco que desamarra, vocês conseguem entender. Aquele que faz você raspar o cabelo de raiva, aquele que faz você chorar sempre no mesmo exato segundo, logo ali, depois do solo de guitarra.

Não vou entrar nos méritos de quem ouve vinil e cassete ou quem ouve MP3 pelo celular. E nego vem com “ah, mas na gravação original de Hey Jude dava pra ouvir a frase ‘pega o cavaquinho’, cara, sensacional”. Amigo, you doing it wrong. Sério, supere.

Bem, ia falando do meu disco. O meu, desde que me foi apresentado pela tríade esperança do meu antigo trabalho (os três amigos que cumpriam bem o trabalho de salvar o dia) é o Pet Sounds, do Beach Boys.

Foi a unanimidade insubstituível de 2009. Sim, porque esses discos de nossas vidas não serão trocados nunca. Mesmo que daqui a 30 anos eu não me lembre do meu nome, tenho certeza que vou me lembrar do teclado que abre Wouldn’t it be nice.

Inclusive, está tocando na minha mente agora.

Então, uma continha rápida, cinco outros discos que mais ouvi em 2010 porque eu não estou em condições mentais de terminar esse texto de maneira decente:

  • Wilco, Summerteeth (1999)
  • Statik Selektah, 100 Proof: The Hangover (2010)
  • Brendan Benson, My Old, Familiar Friend (2009)
  • Jets to Brazil, Orange Rhyming Dictionary (1998)
  • Rashid, Hora de Acordar (2010)

Forte abs.

Meu próprio festival de curtas

Meu patrão é uma figura notória, dessas que você encontra em entrevistas pelas revistas da Globo, desses que aparecem poucas vezes, mas está sempre envolvido em algo social e “povão” demais, pra provar que também é humano, gente da gente. Um cara que parece gente fina, sim, mas bilionário que é, nunca deu as caras neste escritório.

E aqui começa a divagação.

Estou no twitter, como sempre.

-Alô @chefe, muito legal a proposta do show do Jorge Ben, obrigado e continue motivando nossa equipe! É disso que precisamos!

Corporativo assim. Acho que não faria. Escreveria a mensagem, pensando em todos que iriam ler, aquela coisa de relações públicas de mim mesmo. Mas não faria. Enfim, isso é outra divagação, continuemos. A próxima cena sou eu recebendo um reply de agradecimento:

-Claro, @bigblackbastard, é um prazer trabalhar com gente disposta e confiável como vc. Em que setor vc colabora?

Aí trocamos dois replys e ele começa a me seguir. Semanas depois, me dá um RT numa mensagem qualquer sobre corporativismo, óbvio. Aí eu ganho uns 3.500 followers, porque, afinal, sou “amigo” do figurão.

A divagação começa a perder sentido e avança para a cena em que estamos nós dois numa mansão irreal para minha imaginação classe média, sentados em cadeiras brancas reclináveis à beira de uma piscina gigante, degustando um vermute francês que eu jamais conheceria de outra forma senão sentado ao lado do meu “amigão” billionaire. Aí levanto os óculos escuros na testa, me ajeito na cadeira e olho diretamente pra ele:

-Vão me aloprar lá na quebrada quando eu disser que tomei um Boissiere Dry na tua casa, man
-Leva uma caixa. Bebe com teus amigos no final de semana.

Agradeço, coloco os óculos de volta no rosto e olho para o céu. A câmera vai se afastando, começa a tocar Either Way, do Wilco.

Sobe a legenda.

Poucas

E aquela parada, sobre  o jornalismo e tudo o mais que escrevi dia desses? Bem, consegui concretizar uma entrevista. A primeira, real, de toda minha vida. E fiquei feliz demais com o resultado. Diego Bernal, beatmaker norte-americano. Um cara gente fina, exatamente da forma que eu esperava que acontecesse.

Leia lá.

***

Ontem, vendo o jogo num shopping próximo, estava eu, uma ilha rodeada de corinthianos por todos os lados, assistindo o fatídico jogo de domingo em que o São Paulo perdia de 2×0.

Eu fingia neutralidade – uma vez que a primeira impressão da galera ao ver um negro de calças largas e cabelo crespo é que ele seja corinthiano.

E de repente, um desses malucos (sempre tem um maluco vendo o jogo, notem) se levanta NO.MEIO dos corinthianos cantando:

-Puta que pariu! Libertadores o Corinthians nunca viu! E nem vai ver!

Vaias e xingamentos a parte, nenhum são paulino se levantou da cadeira para apoiar o fulano. Segundos depois, me levanta um corinthiano cantando de peito aberto um conhecido funk:

-Ah, que isso, elas estão descontroladas!

E eu, que nunca tive nada contra o Corinthians, invejei pela primeira vez sua torcida espirituosa.

***

Daí que o trampo pagou um show do Jorge Ben, dia desses, exclusivo no Citibank Hall.

E a piada recorrente entre eu e a Denise nos dias que antecederam o show era a seguinte:

-Sabe que horas são?
-UMAPARAUMA, HOMEM GOL!

¬¬

123 Cassetes

Genial a idéia das pequenas listas (ou mixtapes?) do tumblr 123 cassetes. Criado pelo Ian Black traz listas como aquelas do livro/filme Alta Fidelidade, de Nick Hornby. A que mais escutei até então chama-se “Songs about girls with compound names”, com Paul MCCartney, Gin Blossoms e The Long Blondes. Promissor.