GTFO, Inferno Astral!

É, o inferno astral acabou. Pra fechar, meu pai teve um princípio de ataque cardíaco e minha avó morreu esta semana. Mas tá tudo bem agora, sério. Não tem jeito fácil de dizer essas coisas terríveis. Tive uma conversa com meu irmão, ambos sabíamos que era melhor pra ela, a galera devia ficar mal antes, quando ela sofria, não agora. Parece meio óbvio, mas não dá pra saber o que é para um filho perder uma mãe, se você não viveu isso. Então, eles estavam todos lá, meu pai e meus tios, tristes e consoláveis, mais sozinhos no mundo. Pelo menos vi meus primos, essa gente toda distante e, de certa forma, próxima. Deu pra lembrar porque amo o jeito particular e intraquilo da minha família.

Sério, tá tudo bem. Não senti tanto, acho que senti mais da vez que fui vê-la doente e o Alzheimer não a deixou me reconhecer.

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Porra, essa segunda temporada de LOST é neurose atrás de neurose. E nem falo do Charlie, o rockstar falido, tá ligado? A crew toda mesmo. Nego nóia numa fita, se desespera, acha que tá sendo seguido, vê coisas no meio da selva, toma atitudes desesperadas. I mean, mano, você tá fudido, caiu no meio de uma ilha foda, que, no fundo, não faz mal a ninguém. Então vai cortar umas lenhas e pára de ser esse viciado paranóico que você é. Minha teoria, pelo menos nessa temporada, é que tá todo mundo on drugs demais.

Ah, tenho uma semana pra ver as outras quatro temporadas que me faltam até o season finale da season finale.

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Acabei de ler numa discussão via email corporativo a expressão “para evitar dissabores”. Tive que concordar sem ver o resto da mensagem. Ainda nesse e-mail – que tratava de uma idéia estapafúrdia de um dos cabaços dessa merda nossos sutis e espirituosos colaboradores -, a moça citou leis de creative commons e questionou a chefia. Respect.

Mark as SPAM

Daí que eu trouxe pro trabalho meu fone Philips com tecnologia Noise Reduction, que me livra até 75% do mundo real no escritório. O único problema é que tem um telefone na minha mesa. E ele jura que eu preciso atender algumas ligações.

Vez ou outra esqueço e, ele toca intermitente, até que alguém me avise. Foi o que aconteceu. Quando atendi, uma moça de garbo elegância e digna colega de trabalho (Abravanel feelings) – conversava com alguém:

Mulher: Pede pra ligar e não atende, aquele gordo do caralho.
Eu: Ponto Frio…?

Ela desligou e então coloquei o fone no gancho pensando na hipótese de ter me tornado alguém insuportável pra essa gente bonita e respeitável.

Sérião, tenho um ou outro amigo que me chama de gordo do caralho. Não tenho problema algum em ser um gordo do caralho, geralmente dou risada e replico com qualquer outro jargão ofensivo ao conviva em questão.

Ouvir isso de alguém que trabalha com você, por telefone, tendo a certeza de quem foi que deixou isso escapar passa a exata sensação de ser um catador de lixo no natal e assistir o programa do Boris Casoy porque, oras, você acha ele um ótimo profissional.

Se nego chegasse na minha cara e me tratasse mal, dissesse abertamente que me acha um gordo do caralho, não me importaria. Voltaire com aquele papo de “Posso não concordar com uma só palavra sua, mas defenderei até a morte o seu direito…zzzz”. Enfia seu direito no meio do olho do seu cu e sai quicando. Não me importo, sério.

Esse é o tipo de coisa que acontece e você precisa jogar a informação fora. Excluir as imagens para um lugar esquecido no subconsciente, onde estão aquelas brigas que você perdeu e as namoradas que te traíram.

No fim das contas, esqueci a parada. Dei, na verdade, um belo Mark as spam mental.

FUCK YEAH, LOVE

O problema não é minha falta de apreço pelo Corinhtians, pelo contrário, tenho até certa estima pelos alvinegros. Meu avô era corinthiano, grandes amigos também são. É a porra da maior torcida do Brasil, velho, você não tem como estar em um debate sobre futebol sem a presença de alguns deles.

Tenho um pouco dessa idéia de pensar que o futebol é o ócio do povo, mas ela não vai muito longe, porque eu gosto de assistir qualquer jogo.

Mas tem essa parada que me irrita.

O que é realmente insuportável do corinthiano, é que o time do Parque São Jorge conquistou isso de decidir o jogo nos últimos minutos, o que faz o malandrão chegar no dia seguinte, estufar o peito e dizer a frase default da Gaviões:

-Com nóis é assim, sofrido memo, filhão, mas no final você tá ligado!

To ligado. Só que hoje, amigo, quem comemora é o Love.

Quando tudo mudar

“Janie’s a pretty typical teenager. Angry, insecure, confused. I wish I could tell her that’s all going to pass, but I don’t want to lie to her.”
Janie é uma típica adolescente. Nervosa, insegura, confusa. Eu gostaria de dizer a ela que tudo isso vai passar, mas eu não quero mentir pra ela.

–Beleza Americana

Algumas coisas simplesmente não vão passar. Gostaria de dizer que a cada mudança vamos saber exatamente como e quando tudo aconteceu, em que parte do plano abrimos mão de algo que nos transformou, mas nem sempre vai ser assim. Precisamos do conflito, da dúvida com o passado, para que possamos viver um presente solene, que pode não voltar mais. Nietzsche disse uma vez que a beleza de ter uma memória ruim é poder encarar cada fato como uma novidade ímpar, como se fosse a primeira vez.

Precisamos do que é velho, de nossa história, para que possamos marcar o passado com post-its e lembrar disso quando tudo for diferente. É preciso colocar a cabeça no lugar, menina.

Não é mais preciso saber onde você errou. É preciso descobrir como acertar daqui pra frente.

Everybody is Gonna Love Today?

Lembro daquele dia que a gente desceu até o posto perto do trampo. Éramos pelo menos 12 pessoas do mesmo departamento da empresa. Todos juntos, bebendo com uma naturalidade adolescente e bonita. O clima era inocente, sem censura, uma dessas ocasiões da vida em que realmente conseguimos sentir na pele a juventude.

Meus amigos, juntos, rindo de piadas e conversas fiadas mais interessantes do que qualquer edição épica do Roda Viva.

Alguma vez na sua vida você se deparou com amigos que quer ter para o resto de sua vida? Aconteceu comigo algumas vezes. Estes, de que falo, são alguns deles. Pessoas da minha geração, gente que não imagina como alguém pode gostar dos estrangeirismos emo, mas que não consegue ficar sem repetir “everybody is gonna love today, gonna love today, gonna love today”, quando pega um vídeo do Mika no Youtube. Eles me trouxeram de volta à minha idade. Naquele dia, estava com os meus.

Mas então, meses depois, relacionamentos e desencontros vividos por estas pessoas transformaram essa “galera” num emaranhado de gente conspiradora, fofoqueira e, por que não, egoísta (Veja que falo aqui de meus amigos próximos que quando lerem isso vão me ligar pra dizer “WTF, nigga?”). Numa disputa de egos e molecagem hiperbólica, eles entraram – e me envolveram, de certa forma – num período que chamo de A Era das Tretas.

E nunca mais houve uma descida ao posto como naquele dia. Nunca mais o ar de tranquilidade, nunca mais uma noite sem conversas esquecidas atrás de cigarros e rodas de gente reunidas pra falar de outras rodas gente que se reunia pra falar de… você entendeu: o tipo de gente que assiste a vida dos outros como uma novela.

Meus amigos não se reuniram mais. Desci no posto algumas vezes, numa ou outra sexta-feira meses depois da Era das Tretas. Vazio. Olhava na iluminação distante, alguns carros embolados, mas não eram meus amigos, eram outras pessoas, bebendo com aquele clima que falava no começo deste texto.

Um deles certa vez me disse que as pessoas se desentendiam fácil e entravam nessas brigas tolas porque a amizade era muito precoce, então o respeito e as confidências amadureciam e envelheciam rápido demais. Faz sentido. Individualmente falando, quanto maior era a proximidade, mais aceitável era julgar alguém por seus atos e mais distante ficava a culpa. No resultado final, ficamos todos sem programações de sexta no pós-expediente. Mudaram as estações, as conversas, as pessoas. Não haviam mais as conversas por e-mail com 350 respostas, não havia mais cerveja na sexta-feira. E, de repente, não havia mais nada.

Talvez seja o preço pago por querer envelhecer rápido demais.

Síndrome de Trilha Sonora

Daí que eu saio do prédio para fumar, vou até o carro e vejo que estão implodindo qualquer coisa na Pedreira próxima ao trampo. Explosões, um nevoeiro foda no horizonte e eu pouco me lixando pra tudo, quando ouço:

“Hard as a rock, it’s hard than a rock”

Um cara fumava no estacionamento ouvindo AC/DC no celular. How convenient.

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Certa vez, quando da minha fissura pelo The O.C – é, eu revelo cada coisa neste blog, depois explico melhor – gravei todos os seis CDs da trilha sonora para vir ouvindo no carro. Ligo no Dandy Warhols e saio. Esqueço a música quando começa a introdução com uns chiliques alternativos, vou passando pelo condomínio e vejo três amigos de infância sentados no banco da alameda, às 10h da manhã, porque ócio de verdade precisa ser demonstrado inloco. Me passou uma breve nostalgia ao ver os três e lembrar deles naquela fita cassete de um aniversário em 92. E então o Dandy Warhols começa a cantar:

“A long time ago, we used to be friends”

Eu tive medo.

Sou Winston

Comedido, inexplicável. Tornar-se adulto é fazer parte do bando, da multidão de gente sozinha. Engrenagem da máquina, funcionário, cidadão padrão. O “sistema” que antes parecia só uma palavra boba em músicas de protesto se faz presente como nunca antes. Preso sem correntes, numa verdadeira detenção sem muros. É proibido olhar e sentir, é proibido ser.

Sou Winston e aprendi a odiar o Grande Irmão.

Adeus, Internet Móvel

Bem, bloquearam minha linha telefônica um dia antes do meu aniversário (isso vai estar também no post final sobre o inferno astral deste ano). Não recebi ligações dos milhares de amigos espalhados pelo país de meus 6 amigos atuais, nem vi as mensagens, e-mails, nada.

Por que? Porque eu não paguei.

Primeiro, me cobraram o dobro do valor nos últimos dois meses. Quando li a frase “Chegou sua conta” no envelope, imaginei alguém da Vivo segurando a risada e me entregando o envelope.

E eu, que só usava o smartphone por conta da internet móvel, ainda tentei explicar para a moça do atendimento que era uma cobrança indevida. Mas ela só fez parcelar em tantas vezes e me cobrar até o mês que eu não usei.

Vivo, incompreensão como nenhuma outra.

Agora, se me derem licença, vou desbloquear o celular, esquecer a Vivo e abraçar o SPC-Serasa. Bem-vindos à minha vida.

Robson Assis abandona a vida móvel deixando uma conta ativa no foursquare com seis badges.


Nossos sentimentos à família.