Ulisses

Neste final de semana, assisti um filme confuso chamado Franklyn (ou O justiceiro mascarado no cadastro em português claramente feito por pessoas que não são pagas para assistir ou entender filmes). Como bem escreveu minha garota, o roteiro de Franklyn faz uma viagem imprevisível percorrendo todo um tratado de psicologia em forma de longa metragem.

Um dos diálogos entre o faxineiro de um hospital e uma garota que cometia sucessivas tentativas de suicídio é um dos pontos altos do filme:

I’m just saying that it isn’t just about your family, your friends, the people you leave behind. It’s about the people you haven’t met yet.

Eu só estou dizendo que isso não é só sobre sua família, seus amigos, as pessoas que você deixa para trás. É sobre as pessoas que você ainda não conheceu.

E aí, nesta segunda-feira, me deparei com a vida e seu jeito extreme agressive de dar tapas na cara e explicar a moral do filme:

xJeffersonx: Robinho?
Robson: fala mano!
xJeffersonx: te falar
xJeffersonx: vc conhece o Ulisses?
xJeffersonx: do Grajaú

Robson: Ulisses? não me lembro, cara.. pelo nome assim, não lembro
xJeffersonx: então
xJeffersonx: ele é do RAP X HARCORE
xJeffersonx: HARDCORE*

Robson: Ah, pode crer, lembro pouco
xJeffersonx: ele faleceu esse fds
Robson: porra, mano, sério? como que foi?
Robson: putz…
xJeffersonx: teve uma parada respiratória
xJeffersonx: ele sofria de Bronquite asmática
xJeffersonx: esse cara aqui ó
xJeffersonx: vc deve conhecer
xJeffersonx: [perfil do orkut]

Robson: não conhecia ele diretamente não, mas lembro dele de algum rolê em São Roque, acho.
xJeffersonx: mano…cara ponta firme!
xJeffersonx: um cara que pensava!
xJeffersonx: um dos poucos
xJeffersonx: rs

Robson: porra, velho, que merda hein..
xJeffersonx: fiquei em choque pra caralho

Brown na padaria

Daí que no final de semana fui até o mini shopping do Morumbi Sul tomar café com minha garota. Estacionamos o carro, entramos e o lugar tinha um clima estranho, como se girasse em torno de algum acidente de percurso, de algum ato maravilhoso e beirando o divino. Não entendi direito para onde devia olhar. Espero ser atendido enquanto a Denise procura um lugar pra sentar, quando um dos funcionários, detrás do balcão clama em voz estranhamente alta, forçando com que eu e os outros clientes ouvíssemos: “a comanda do Brown tá aqui guardada, a do Brown tá aqui”. E aí entendo. Mano Brown tomava café numa das mesas de dinner. Disse a minha garota o que aquilo representava pra mim, como todas as vezes em que o encontrei pelo bairro, mas não espero que ela entenda, nem peço isso. Um dos meus únicos ídolos está sentado na mesa atrás de nós e eu não consigo cumprimentá-lo, o que implica certa dose de tietagem e invasão de privacidade. Não gostaria de ser incomodado enquanto tomo café domingo, seja onde for, ou seja quem eu for. É uma sensação estranha e um tanto psicótica esse platonismo amigo.

E o Brown foi embora de Audi ou de Citroen, indo aqui, indo ali, só pan, de vai-e-vem.