The clock is ticking

Daí o médico disse um monte de coisas sobre parar de fumar porque eu era um jovem gordo e deveria cessar de uma vez isso, dizia sobre minha baixa imunidade e perguntava se eu estava tomando alguma medida para emagrecer. Começou a dissertar sobre como meus hábitos eram errados (não que eu tenha revelado algum) e, principalmente para que optasse pelo refrigerante light (sem saber também que passo semanas sem dar um só gole em qualquer refrigerante). Mas a principal parte foi quando ele começou a fazer umas contas rápidas depois de ter dito a frase emblemática “se você continuar assim…” seguido de “na próxima copa, digo não na próxima, mas na outra, você não vai estar aqui para assistir”.

Eu podia apenas ter feito a piada que contei no MSN logo em seguida, no celular (ainda não me adaptei) em que dizia “nossa doutor, mas sou apaixonado pela seleção, vou ter que me esforçar mesmo”. Aquele senhor me entenderia errado e faria de tudo para que eu tivesse a moral mais dilacerada ainda antes de sair do consultório. Mas bem, ele me deu um prazo de vida de uns seis anos e, ao listar isso de maneira concisa na minha cabeça eu entrei naquele pânico silencioso, em que a gente tem vontade de gritar, mesmo sabendo que vai ferir ou ultrapassar alguns limites sociais, mas a gente nunca grita. E no final as barreiras sociais não fazem a menor diferença.

Agente* passa toda uma vida planejando pra talvez chegar numa certa idade e parar de pensar no futuro para viver o futuro. Talvez eu estivesse certo quando pensava que só o presente era importante. Ninguém sai ferido, ninguém se magoa tanto, você não dispõe de tantos empecilhos e barreiras naturais para fazer a porcaria que você quiser da sua vida, porque no fim das contas, se é tudo “uma corrida radical rumo ao esquecimento, que ao menos possamos fazer isso com estilo” como lembra Bradley Trevor Greive no prefácio do Guia do Mochileiro.

Eu acabei saindo do hospital com uma receita de anti-inflamatório e meus dias contados. Acho que ainda não disse que entrei lá apenas por estar com uma gripe forte, disse?

*O termo “agente” no lugar de “a gente” é em homenagem ao Piano Black, mártir caga-regra do twitter, segundo #carlos, o grande.

Gloria Kalil do gueto

É um impasse foda quando os únicos bares que você frequenta funcionam no meio do bairro mais assustador que você poderia indicar para os seus amigos (e esse é o seu bairro, a propósito). E a gente não cogitou a hipótese de recusar quando D. sugeriu ‘Vamos pro Maracá, no bar do Negão, ali pra cima, é tranquilo, sou de casa’.

Uma Jukebox tocava uma das últimas músicas novas do Dexter, uns quatro caras na porta que só te estranham nos cinco segundos antes de você passar por eles e lançar um natural “opá, beleza?”, que quebra qualquer gelo e pode ser considerado a maior vacina para não causar problemas em lugares que você não conhece. E esse sou eu dando dicas de etiqueta da malandragem, ok, já percebi.

Acontece que havia esse tiozinho com macacão de mecânico, a quem apelidamos de Walking Dead após uma amizade criada à base de conversas sem sentido como:

-Onde o senhor mora?
-Bebi não, bebo nada
-Não, perguntei onde o senhor mora
-Me deixa cantar uma música pra vocês, posso cantar?

Não sei outra forma de contar que eu empurrei ele com o pé nas costas, enquanto parado na porta do bar, tamanha afinidade que tínhamos após a segunda dose de conhaque com limão servida pelo Negão himself.

Sabendo dizer/fazer tudo nos momentos certos, você não precisa se preocupar em estragar festas ou criar um climão maneiro com qualquer grupo de traficantes/irmãos à paisana. Mas esse é apenas meu lado Glorinha Kalil de etiqueta para a quebrada falando novamente.

Tudo isso era pra dizer que o bar, apesar de infinitamente bom e impregnado de boas e escabrosas histórias, talvez não entrasse para review no nosso mais novo empreendimento:

http://somentebareslegais.com.br

Cês que se virem

Lembrei com saudades de uma época que não vivi em que prestava atenção em cada mínimo detalhe da vida. Desci do metrô a passos lentos para contemplar a Paulista e chegar até meu único lugar no mundo, a rua Augusta. Comprei água de três reais para poder usar o banheiro do restaurante de rico, mas essa parte era desnecessária no texto, desculpem.

Aconteceu muita coisa na noite de sexta. Dei uma moeda a um solitário tocador de sanfona que executava a música triste mais linda que já ouvi na vida. Conversei com um andarilho do Heliópolis a quem reservei outra moeda. Me tornei amigo de um carismático malabarista de rua que falava espanhol. E poderia dedicar todo esse texto a essa galera a quem esgotei meu bolso de moedas e ao BOOMSHAKALAKA de estar entre alguns dos poucos e bons amigos que conheci na vida.

Mas nunca é só isso. Os detalhes da vida começam a se auto arquivar para um outro momento quando a história do post começa a acontecer de verdade.

Descia o escadão da Frei Caneca/Nove de Julho lá pelas cinco horas da manhã (não recomendo etc). Um cara subia meio assustado, mas balançando a cabeça negativamente. O bom senso me faria olhar antes e hesitar. Uma noite de Brahmas na minha cabeça me fizeram seguir em frente, afinal, ‘a responsa de chegar garante o seu retornex’, lembrei de termos concordado com o Criolo em grande parte da noite.

Ao descer o primeiro lance que dá acesso ao restante da escada, percebo dois garotos de calças abaixadas praticando sexo ao ar livre. Exato. Numa normalidade como se estivessem trancados num quarto, longe dos julgamentos preconceituosos da sociedade. Não era um local ermo, não às cinco da manhã quando gente já passava indo trabalhar ou voltando do trabalho, era no canto do lance de escadas.

O garoto que comia o outro olhava pra trás com receio e continuava, como se não visse ninguém, mesmo sabendo que os passantes viam tudo, numa notável habilidade de I don’t give a fuck. Eu passei batido, óbvio. O que você tem a ver? Já vi acontecer com prostitutas, com pessoas comuns e se fosse um homem transando com uma foca adestrada eu passaria incólume da mesma forma.

Ouvi uns gritos de socorro quando cheguei ao final da escada e, graças a Deus, nenhuma notícia triste no jornal de hoje. Foi uma correria, um pega pra capar, uma treta feia provavelmente de cunho moralista dispersa em segundos, quando perdi de vista todos os envolvidos.

O moralista ideal escroto diria que o casal pediu pra apanhar, ou facilitou. Eu só diria que toda essa falta de bom senso numa sociedade cheia de moral e bons costumes como a nossa só garante o arrimo ao preconceito, uma militância ao contrário, um reforço ao pensamento “Tá vendo? Esses viados não respeitam ninguém. Só querem saber de sacanagem”, como lembra o idiota feliz. O que estou tentando dizer é que já deve ser difícil ser homossexual no Brasil por motivos óbvios e transar na rua não ajuda em nada.

Como lidar quando está tudo errado? Existe ponderação ou é um conceito absoluto? Quem está mais errado neste caso, o cara que se intromete, o cara que não tem bom senso, o ovo ou a galinha? Respostas que dariam eficientes teses de doutorado sobre sociologia, acredito.

Se você cavar bem fundo é até meio moralista pensar nisso, porque no fundo eu fecho com todo mundo pelado ganhando desconto. Mas aí vocês se virem pra julgar também.

E o meu erro foi crer que estar ao seu lado bastaria

Prefiro postar aqui, enquanto esse blog é um recanto relativamente escondido. Comecei com tantos lamentos no Facebook que comecei a ter pena de mim, o que é preocupante.

***

É difícil aceitar uma vida que atualmente não é a sua. Beira o impossível. Mesmo sabendo que é isso que você um dia vai precisar pra viver e que enquanto você ama, vale a pena, como diz uma amiga. Minha vida de hoje eu não imaginava aos 20, como provavelmente não imagino como será ano que vem etc. Acho que mais triste de tudo isso é querer levar pra frente alguma coisa que faz tão mal pra nós dois.

Nada era tão difícil quando era só a gente.
Só tá me faltando essa coragem de mudar o status no Facebook.

=/

Trabalhando para melhor atendê-lo

Tive um writer’s block justo em dezembro, o mês mais legal para repensar o que quer que seja e fazer uma análise pessoal sem base nenhuma, embora no final tudo faça sentido dentro da sua cabeça. Não existe teoria psicológica mais fácil de ser assimilada do que a própria verdade.

Tudo o que escrevi esse mês veio com uma espécie de carga extra que eu não quis ou não consegui bancar. Qualquer errinho ou pensamento sem lógica, qualquer frase que soasse terrível já era motivo de sumir com os parágrafos e desligar o computador num tédio quase compulsivo.

Ano passado estive mais ciente do que o final do ano pode fazer com a cabeça de quem trabalha com dados, conteúdos, números, listas de excel e letras, ao mesmo tempo. Esse ano achei que tudo pudesse ser mais maleável, mas o tempo veio me estapear, como quando a gente aprende alguma coisa pra valer e não melhora a situação apenas esquecendo o problema.

Amanhã preciso escrever três páginas de produto e, caso embale, tenho outras 15 na lista. Sem contar o parágrafo do freela que não me pagou os 30 reais que faltavam. É um consolo saber que existe alguém pior que você. Talvez das próximas vezes eu adote o caráter simpático do Di Vasca nessas micro contratações (sério, leiam esse blog).

E até sexta, espero que uma amiga esteja certa, ficamos sobrecarregados em dezembro pra recomeçar o ano novo zerados. É meio que aquela história de que na sexta a gente trabalha pelos dois outros dias do final de semana, mas como deu pra perceber, ando meio sem ideias pra levar isso pra frente.

Preciso de um tempo, algumas semanas longe do blog, o que não quer dizer que vou parar de postar, pode ser que surja uma inspiração e um post melhor que esse monte de choramingos também sem fundamento. Quem sabe umas imagens do This isn’t happines com textos de seis linhas, pra não perder o ritmo (qual?). O tempo dirá.

Feliz ano novo a todos os envolvidos.

*A imagem é adaptação dessa daqui, via this isn’t happiness =)

Balanço 2011


Esse ano estive mortalmente indeciso sobre meu trabalho depois de umas respostas negativas aí. E então tive umas reuniões descompromissadas na sede do trampo e depois de quase me mudar pra Jandira acabei voltando a trabalhar na capital. tenho me tornado a cada dia uma pessoa muito mais roubável, mas isso pode ser considerado uma coisa boa. Consegui um freela do qual já não sinto tanta saudade.

Esse meu amigo em recuperação, mesmo passando dias planejando roteiros comigo desistiu de ser meu amigo (entenda isso como quiser), foi coisa de época, conversei com o cara, mas olha, talvez isso tenha me feito desistir um pouco mais de acreditar no mundo. Aí veio um moleque no metrô dizendo que Jesus me ama e que ficaria tudo certo.

Algumas coisas seguiram iguais. Continuo frequentando o peremptório bar do Enoch, por exemplo, minha cota mensal de vagabundagem nas proximidades da casa dos meus pais. Continuo tendo sonhos dentro de sonhos ou sonhos malucos com o William Bonner e o Danilo Gentili (sim, soou estranho mesmo). Ah, e continuo postando tutoriais simples e angariando visistas às custas da indexação manera do Google.

A Denise continua lutando contra minhas imaturidades namorando comigo mesmo depois de tanto tropeço e tanta diferença entre nós. Fomos duas vezes para o litoral norte, que conheci esse ano, calcule o sofrimento da classe média. Continuamos morando distantes demais pra quem já entrou na terceira temporada do relacionamento. A verdade é que a gente já sabe o que quer (aos novatos, essa sentença para as mulheres só quer dizer uma coisa, casamento). Ela já ganhou uma mixtape esse ano, então tá tudo bem encaminhado, eu acho (prioridades, não trabalhamos).

Foram embora deste mundo algumas pessoas notáveis, como minha tia Paula que passou maus bocados num hospital terrível no interior do Maranhão, mas pude me lembrar de tudo o que tenho de bom dela, o que alivia bastante. Outra perda lastimável não só pra mim, mas para uma cena musical de gente de verdade foi a partida do Redson, vocalista do Cólera, parte da mitologia da música independente nacional.

Fiz uma apologia à depressão, mas nada demais, aquela mesma ideia do bullying pedagógico, de que você vai se ferrar, mas no fundo é pro seu bem. Tentei ir no médico e não há mais nada a dizer sobre o assunto. Descolei uns sonhos velhos, empoeirados, meu irmão tá namorando uma garota gente fina. E, bem, vamos fechar isso aqui que já deu de links em 2011, não? Prometo que ano que vem reduzo isso aí.

***

Sério, que 2012 seja bem legal pra todo mundo. Seguindo o raciocínio de Azaghal, num Nerdcast do começo do ano, aproveite 2012 como se fosse o último ano de sua vida (ask maias about it).

Um abraço a cada um dos meus 20 leitores imaginários, aos amigos de sempre e aos de agora que passam por este pequeno relicário de vibes desconexas. Amo vocês, até mais e obrigado pelos peixes (ainda não terminei – FUUUUU, outro link).

3rd season

Dentre as coisas mais difíceis que já conheci está ‘namorar’. Juntar duas vidas completamente distintas em uma só instituição, lidar com prioridades diferentes para um e para outro, conciliar as divergências para evitar problemas e, para que, ao final disso tudo (e com alguma sorte) conseguir um beijo displiscente e desamarrado do mundo.

Porque é nesse momento que as coisas se desprendem, sabe qual é? Aquele momento que você diz pra ela que gostaria de ser eterno, pra parecer fofo e/ou plagiar o Nando Reis sem ela saber. Porque, afinal de contas, é tudo um grande poço de responsabilidade, dívidas, compromissos, especulações e brigas. Aquele momento, aquele único, em que os lábios se encostam é quando tudo se desfaz, quando tudo que é ruim se perde numa ignorância que nos faz felizes e completos.

Sim, amigos, hoje faço três anos de namoro com a Denise. E que venha a terceira temporada.

O natal do desapego

Entendo o clima de natal, as crianças, os shopping centers, entendo até mesmo as luzes da avenida Paulista. Ontem, durante o expediente, ouvi uma galera comentando sobre como as correrias de natal mudaram de uns anos pra cá. Deu vontade de dizer-lhes que tudo mudou porque cresceram, mas preferi não me intrometer no horário de almoço dos outros com essas conversas deprimentes (não tão deprimente quanto o Ronald Rios contando à crianças de 5 anos que o papai noel não existe, essa está entre as coisas mais tristes que vi esse ano).

Eu lembro dos natais que passei junto com a minha família (e por família, entenda-se: pessoas que moram na minha casa). A mesa cheia de Cherry Coke e cachos de uva, um peru que parecia tão gigante, umas garrafas de bebidas as quais eu não entendia muito bem porque só meu pai podia tomar. Depois aquelas festas com os vizinhos, eu devia ter uns 16 anos me achando o máximo por ‘roubar’ uma garrafa de espumante enquanto todos olhavam os fogos.

Vieram então os anos dez. E toda aquela solidão que senti até uns 19 anos foi perdendo o sentido. Meus pais começaram a viajar e posso me lembrar do meu primeiro natal sozinho, em casa. Um monte de frituras, outro monte de bebidas, a TV ligada passando algum especial da Globo e eu numa tranquilidade solitária que, de longe, poderia até parecer desespero. Não era.

Todas as vezes que passei o Natal longe de casa eu me senti errado. Mas o fato não era estar longe da minha família, era simplesmente estar longe de casa, tentando fingir que estava tudo bem para pessoas as quais eu pouco conhecia. E sorrir sem vontade se torna, no fim das contas, o pior dos castigos.

Essa não é outra ode à tristeza, sério. É só a aceitação de que eu prefiro passar o natal sozinho na frente da TV do que em qualquer outro lugar que não me sinta em família. E tem aquilo de agora ter outra família pra comemorar. E de ser aniversário de namoro, justo no dia 25. Só precisava dizer que o natal se transformou em mais uma dessas convenções que me desapeguei, mas essa, pelo menos, sem críticas ao establishment. Gosto muito de ver todo mundo comemorando, desde que eu esteja na minha, com uma caixa de nuggets e duas latas de cerveja na geladeira.

Ok, falando assim até parece desespero mesmo.

***

Só espero que o menino Jesus cumpra seu trabalho no dia de hoje e que tudo acabe bem.
Feliz natal aos desbravadores que conseguiram ler até o final e aos que pularam o texto só pra ler a mensagem. =)

Telefone portátil

Em novembro, comprei dois celulares (já deu pra notar que não trato de finanças aqui, né?). Um smartphone para aquela necessidade que inventamos de estar sempre online, onde quer que a gente esteja, mesmo com a bipolaridade do sinal 3G da TIM. Veja, eu poderia falar sobre a conta reativada do Foursquare ou qualquer outra bobagem, mas eu vou falar do outro celular.

Sim, porque este, amigos, é um celular. Um aparelho telefônico portátil de volume alto para conversar, de falantes sensíveis para compensar seu tamanho e a falta de um flip que extenda o telefone da sua orelha até a boca. Ele armazena todos os seus contatos, possui um relógio, alarme e tecnologia de ponta: ele narra o horário em voz alta. Sim, você pode pedir para que ele narre a qualquer momento, ou decidir que seu alarme seja: BOM DIA, É HORA DE ACORDAR, SÃO SETE HORAS E VINTE MINUTOS.

A diferença é comprar um gadget com função celular e um aparelho de uso único. Quer dizer, tem calculadora, MP3 e rádio FM, mas nem por isso se torna multimídia. Não suporta fotos, sabe, não tem câmera. Sem contar que sua bateria dura mais de uma semana. Talvez uns 4 dias usando o MP3 player todo dia.

Isso era pra ser um review de produto.