Day 23 – a song that you want to play at your wedding

Fui num casamento certa vez em que cada casal de padrinhos tinha sua própria música de entrada, o que é muito legal pra eles e extremamente boring para os convidados. Claro que a Denise não deixaria eu entrar com a Cavalgada das Valquírias ou Jungle Boogie, então eu teria que encontrar um banda que tocasse alguma coisa do Philip Glass, o cara que fez a trilha de ‘As Horas’.


Philip Glass, Choosing Life

Um amor pra recordar

Sabe quando alguém deixa de viver e você, mesmo sem conhecer direito a pessoa, fica abalado a ponto de querer dizer um milhão de coisas que talvez não venham à cabeça por conta de sua infantilidade premente? Ou talvez porque não devam ser ditas, ou não seja o momento. Bem, esse é o dia. A gente trabalha demais, se afasta demais, planeja demais, quando na verdade tudo que importa é aquele milésimo de segundo antes do sorriso brotar, que enruga os músculos da boca e faz a gente esquecer todo o sofrimento, toda a dor. Nos segundos ou minutos seguintes, nada pode dar errado.

Acho que essa menina que se foi não deve ter conseguido mensurar tudo o que pôde atingir apenas lutando contra uma doença miserável e não merecida. No fundo, tudo o que eu queria ter dito a ele que ficou aqui pra viver, é que o tempo, além de rei, é o grande methiolate da alma.

Day 22 – a song that you listen to when you’re sad

É, eu tinha esquecido o meme, depois de tantas reviravoltas por aqui. A sequência é essa, a música triste. Eu jurei que não ia repetir, mas fiquei com a preguiça extrema de ver todos os dias. Então é isso, “que diferença o dia é igual pra mim”, esse 4 do Los Hermanos poderia se perder no espaço e ser o maior compêndio de sentimentos humanos que já exisitu.


Os Pássaros, Los Hermanos

Day 21 – a song that you listen to when you’re happy

Eu lembro do clipe, sempre, e de umas tardes na rua, todo mundo de skate errando os flips, aquela inocência, o Caio tentando fingir que acertava a bateria da introdução, minha primeira banda, tanta coisa. Mas não é tudo sobre nossas memórias. Sempre que estou feliz eu quero ouvir o Blink pra lembrar que a vida é engraçada, dramática e nostálgica, nas suas devidas proporções.


Blink 182, First Date

Faz parte do meu show

Houve uma época em que eu queria ser sozinho. Ter meu apartamento alugado, perto do centro, provavelmente com uma boa vista pra nove de julho, usar araras ao invés de armários, ter o Playstation instalado permanente no rack da sala, aquele tapete de banheiro do Wu-Tang clan, o o espelho da revista Time. Afinal, quem mais gostaria de ficar em casa lendo, ou no escuro à luz de um abajur ouvindo Paralamas do Sucesso? Quem gostaria de debater as notícias mais rasas e frias do jornal com a profundidade de várias ciências sociais que eu debatia sozinho? Não havia nada desse mundo que me movesse da minha visão de futuro que era eu falando sozinho sentado numa escrivaninha à meia luz batendo o cigarro num cinzeiro do Malvados.

E aí, houve a Denise, o plot twist da história da minha vida.

Eu poderia dizer que as coisas mudaram e que agora eu sei o que é certo e o que é errado na vida, essa coisa de namorado adestrado. Mas não funciona assim. Na verdade eu tenho sorte de ter encontrado aquela pessoa que aceite essa maluquice de curte debater comigo todos esses pontos profundos em notícias cruas, enquanto ouvimos Lanterna dos Afogados na luz baixa da sala. E não consigo ver mais sentido na arara porque os vestidos dela talvez empoeirassem e a integridade física dos vestidos dela talvez façam tanta diferença quanto meus livros ou meu DVD do Clube da Luta. Acho que naquela época eu precisava entender que ela não estragaria nada dos meus planos, ela entraria neles junto comigo. Talvez acrescentasse alguma coisa e tentasse me dizer que aquilo do cigarro deixaria de fazer sentido em alguns anos. Naquela época que eu projetava o futuro do meu apartamento com vista pra Nove de Julho eu achei que outra pessoa atrapalharia todos os meus planos, hoje eu digo que não consigo pensar mais os planos sem colocar ela no meio.

É como um desses romances bonitinhos, inocentes e simples das músicas do Cazuza que a gente acha bobo e dedicado e afetado demais, e que na verdade é tudo isso mesmo.

Day 20 – a song that you listen to when you’re angry

Prefiro beber com raiva do que triste. Quando você bebe triste existe uma intenção boba de se autodestruir, como se resolvesse alguma coisa. O máximo que você consegue no fim da noite é ver que sua edição de As flores do mal está irreversivelmente manchada de vinho barato e que essa inconsciência toda quebrou uma taça e deixou o chão fedendo. Já beber com raiva faz aquilo dá uma sensação de liberdade. Mas veja bem, apenas a sensação. Te abre caminhos, faz você conhecer novas pessoas, ouvir conversas as quais não daria a mínima se estivesse consciente. Tudo para esquecer a raiva de uma semana pesada no trabalho, ou para alimentá-la e vagar nômade em trezentos lugares inapropriados durante a madrugada de sábado.


Matanza, O Chamado do bar

Day 19 – a song from your favorite album

Lembro do dia que pedi aos meus pais a permissão para comprar um disco de rap que tinha palavrão nas letras. E de ganhar os 20 reais do meu pai, ir até a loja perto de casa, comprar o ‘Sobrevivendo no Inferno’, dos Racionais MCs por R$ 17,99. Voltar quase tremendo de ansiedade, colocar no aparelho de som. Ouvir o disco inteiro, parte com minha mãe e meu irmão do lado (talvez meu irmão mal entendesse o que queriam dizer alguns dos palavrões).

E tinha essa música 11, que eu considero épica. É como o tema principal da minha ligação com o meu bairro. Talvez não só a minha, mas a de um monte de gente. Eu lembro de um disco que tinha uma vinheta de um cara falando algo do tipo ‘quando o Racionais lançou Pânico na zona sul foi como se eles tivessem me mandado uma carta me chamando pra guerra’. Posso dizer que essa música e todo o disco me fizeram enxergar de outra maneira o mundo que eu vivia, tudo o que exisita ao meu redor, de uma hora para outra começava a ter mais significado do que antes. Era como se me tirassem de frente de um televisor CRT de 14″ e me levassem pro IMAX.


Racionais, Fórmula Mágica da Paz

Day 18 – a song that you wish you heard on the radio

O Hardneja Sertacore eu conheci num programa de TV (eu ainda não consigo expor publicamente o fato de ter assistido Altas Horas algumas vezes). É uma banda que faz covers de música sertaneja, as mais conhecidas, numa versão hardcore. Sim, mais ou menos o que o Ramones fez com Do you wanna dance, do The Mammas & the Pappas. Bem, eles me ganharam e eu que não fiz três gols (mais uma referência a um programa da Globo e eu deleto esse blog, sério) gostaria muito que vocês tocassem essa.


Hardneja Sertacore, Pare!

Day 17 – a song that you hear often on the radio

A coisa mais impossível da minha vida atual é ouvir rádio. A não ser algumas transmissões de futebol com o Nilson César ou algumas poucas vezes com a Denise, indo pra praia, quando eu esqueço de selecionar bem os discos do pendrive.

Aí, toda aquela patacoada de sempre, remix de remixes, mashup de mashupes (Chupa, Equador!) e uma infinidade de locutores com vozes felizes, bem, vocês sabem. E procuro entender como a Denise tem tanto tempo para conhecer as letras de todas as músicas que tocam no dial.

E tem essa música do David Guetta e da Rihanna (isso eu só descobri agora, sério) que toca às vezes e para a qual eu reinventei o refrão para “desta vida bem vivida, desta vida quem não gosta… Who’s that chick, who’s that chick?”, Cognatas style. Não perguntem.


David Guetta & Rihanna, Who’s that chick?

Day 16 – a song that you used to love but now hate

Passei dias pensando nessa. E então cheguei a conclusão do quanto é difícil odiar uma música que alguma vez você já amou. É como trazer de volta uma época e, por mais que você não sinta o mesmo que te fez ficar olhando pro teto feito besta anos atrás, mesmo aquela lembrança pueril carrega em si alguma ternura.

Então deixo aqui uma música da qual já comecei a ouvir bem adolescente e que só não ouço mais todo dia. De uma época em que eu mataria qualquer viajante do tempo dizendo que anos mais tarde o Chorão escreveria que “azul é a cor da parede da casa de Deus”.


Charlie Brown Jr, Essa é por quem ficou pra trás
(clique no botão do youtube no player pra ouvir)

Pra provar todo esse mimimi da ternura daquilo que você ouvia 10 anos atrás, procurando alguma do Charlie Brown Jr. pra “dar o exemplo”, acabei criando uma lista de reprodução chamada ‘Charlie Brown Jr, Essencial’, me processem.