Um dia vou recusar a Flip
E quando perguntarem
Só direi que é gripe.
Categoria: Pessoal
Day 15 – a song that describes you
Eu relutei muito antes de conhecer Los Hermanos. É uma parada dessas que tem data certa pra acontecer. Se eu tivesse ouvido seis anos atrás, a banda não teria o mesmo impacto, o mesmo sentido, sabe? Conheço há bem pouco tempo e desde então somos amigos de infância. Lembro de ter ouvido ‘De onde vem a calma’ repetidas vezes até me convencer de que realmente era outra pessoa que havia escrito aquilo e não uma versão minha num dia triste.
‘É o mundo que anda hostil, o mundo todo é hostil’
De onde vem a calma, Los Hermanos
Day 14 – a song that no one would expect you to love
Eu já toquei na igreja, okay, não me venham com pré conceitos. Posso dizer que minha versão acústica é muito mais bonita, pop e triste. Com uns bons violinistas faríamos uma missa com bongôs, melodias ciganas e camisetas amarrotadas do Nick Drake.
Jóia Rara, Vida Reluz
Day 13 – a song that is a guilty pleasure
Todo mundo curtu a oração da Banda mais bonita da cidade, vamos ser sinceros, vai. Mesmo os roqueiros pedregosos que conheço, mesmo os punks estrategicamente sujos e mal vestidos. Eu estava de férias e o notebook estava ligado no HDMI da TV, eu vi esse vídeo umas 20 vezes, peguei no violão e vi mais algumas vezes tocando junto. Só se tornou realmente um guilty pleasure quando acessei o Facebook e percebi que a maior parte dos meus amigos era hater dessa parada:
A banda mais bonita da cidade, Oração
Day 12 – a song from a band you hate
Não adianta, por mais que eu tente gostar de uma música ou outra pra não dizer à namorada que sou carrancudo demais, lembro que o Jota Quest tem essas pedras gigantes difíceis demais de suportar. Eu detesto o Luan Santana, por exemplo, mas eu não suportaria ser amigo desses caras tendo que comparecer aos show da banda.
Jota Quest, Amor Maior
Day 11 – a song from your favorite band
Talvez não tenha escolhido a mais bonita, mas a que eu mais gosto de cantar, certamente. O Foo Fighters é a banda que eu assisto querendo fazer igual. Como quando você é moleque, assiste os filmes do Van Damme e sai querendo enrolar seus punhos com gaze, cola e cacos de vidro pra bater nos amiguinhos da escola. É difícil escolher uma banda preferida, é toda uma escola de critérios, mas essa é a favorita das favoritas.
Foo Fighters, No way back
day 10 – a song that makes you fall asleep
Explosions in the Sky é certamente a banda mais amiga de seus fãs. Digo por receber umas mensagens do Bandcamp, umas newsletters que parecem endereçadas só pra mim, aquela coisa de amigo, dizendo que a banda dele fez um disco novo e seria legal se você pudesse ouvir. Lembro de uma época que eu dormi várias noites com a trilha sonora de Friday Night Lights. Foi basicamente quando conheci o post rock, essa música instrumental todos chora.
Day 09 – a song that you can dance to
Essa música podia ser colocada em vários dias. Segue-se aqui uma nostalgia que começou com a Karina lembrando a época do Madame, a qual, embora não tenhamos vivido no mesmo período, temos a mesma boa lembrança.
Viva La Revolución, do Adicts eu conheci na época do Hangar 110, quando trabalhava na livraria do shopping Santa Cruz e ia direto pro metrô Armênia, ver bandas que não conhecia, conhecer gente esquisita, alguns de meus melhores amigos hoje e ouvir músicas antes dos shows, de onde tirava uma frase, descobria a banda no Google, buscava no Soulseek e baixava uns discos. Antes de entrar, passava nos dois bares, escolhendo algo nada decente para beber e depois você poderia me encontrar pogueando (ou dançando desajeitado) sozinho, ao som de músicas como essa.
The Adicts, Viva la Revolution
Day 08 – a song that you know all the words to
Eu passei o dia tentando lembrar uma música boa que eu soubesse a letra inteira. Fiquei sem jeito quando descobri que são tão poucas. E aí tentei esmiuçar meu last.fm e nada, nenhuma banda descolada, nenhuma música nostálgica, nada. E então, nove e meia da noite, a lua veio me dizer.
Todo mundo deve saber até os ‘dererere-ê’s.
Katinguelê, Recado à minha amada (só quem é sabe o nome dessa música, hhahahah)
Day 07 – a song that reminds you of a certain event
O filho do Regino tinha acabado de nascer. Eu tinha me desentendido com a Denise, por um motivo bobo qualquer. Estacionei num hotel na parte bonita da Augusta e caminhei até a Paulista, onde encontrei meus amigos naquele bar central com uma porção cadeiras na calçada, gente rindo descontrolada, a gente no caixa tentando fazer o cara entender que eram quatro cervejas e não três. Pensamos trezentas vezes para que lado da Paulista seguir, se para os ricos e aconchegantes pubs da Consolação ou para os lamurientos bares esquecidos nas travessas e ruas paralelas. Fomos até um bar caro, paramos em frente, vimos aquela galera descolada. Não precisou muito para voltarmos sem dizer uma palavra. A gente sabia que não era ali. Acabamos dando a volta. Entramos no carro de um dos amigos do novo pai. Era um japonês chicano, pelo que minhas anotações mentais me permitem lembrar. O apelido era Japa ou algo assim, mas ele parecia ter acabado de sair do filme Marcados pelo sangue, aquele dos Vatos Locos ou ser primo distante de um integrante do Cypress Hill. O carro era desses importados velhos, mas com um som potente, uma gritaria infernal e guitarras na afinação mais baixa do universo. Ele dirigia feito um maluco. Fui na frente, ele ultrapassava os carros como se fugisse de algo, quase bateu em todas as curvas, passou por esses buracos do trânsito que a gente não tem culhões pra entrar. Era um cara experiente, mas eu sempre fico com o pé atrás de quem dirige fumando um baseado conversando e olhando pras pessoas enquanto fala.
Descemos a rua Augusta até sua parte mais feia e superlotada com os piores bares do mundo e as caras mais conhecidas também. Encontramos um antigo conhecido em comum, paramos na frente daquela sinuca velha com um banheiro terrível “não importa onde esteja, é sempre onde tem mais barulho, maior cheiro de bagulho, disso eu me orgulho”, bem podia ser essa a música. Cumprimentei um cara na fila, pedi quatro cervejas. Conversamos na frente do boteco. O Regino agora era pai, seu filho tinha nascido pré-maturo, acelerado como meu amigo. Neste dia aconteceu uma briga perto de nós, um sem fim de bêbados grandiloquentes esbarrando nas pessoas e querendo entrar na confusão. Fiquei com o Cabelo vaiando de longe ‘os pipoca’, como chamamos a trupe dos malandros de ocasião.
O Regino foi embora cedo para o Pro Maitre, encontrar sua garota, já maluca por saber onde ele estava. Eu não a conhecia, a gente nem podia ir visitá-la ou coisa assim. Fiquei pela Augusta com o Cabelo, na esperança de outros amigos que chegariam mais tarde. Já era uma da madrugada, cantávamos o refrão de Grajauex, que tinha acabado de ser lançada e conversávamos sobre rap, sobre livros, sobre a vida. Conheci um cara que se dizia primo do Glauco, disse que estava hospedado na casa do cara até uma semana antes da tragédia toda. Eu acreditava em tudo. Eu tinha acabado de ler Cartas do Yage (diz-se iagé) e fiquei interessadissimo na conversa sobre payote e os rituais todos. Tudo graças ao lubrificante social, a cerveja inocente que tomávamos.
Chegou outro pessoal. O Biu ‘be god’ (Bigode) me passou algumas músicas por bluetooth, uma delas tão absurda que não consigo me lembrar. Conversamos até bater um sono intranquilo. Decidi ir pra casa, me despedi, eles também iriam. Nos cumprimentamos, eles desceram a Augusta, eu ia subir até a Paulista, encontrar meu carro. Logo que comecei a andar lembrei de ter pedido mais duas cervejas e esquecido de pegar. Não vou perder nove reais assim, à toa. Parei na frente do bar e terminei uma, ainda vendo meus amigos descerem a rua. Subi com a outra garrafa na mão, a despeito do dono do bar. Encontrei um mendigo na subida, que me pediu um cigarro. Lhe ofereci a garrafa. Ele agradeceu. Perguntei onde morava, ele acenou, sem saber direito o que responder. Refleti sobre a imbecilidade de se perguntar a um mendigo onde ele mora. Finalmente disse que tinha perdido a família e não quis se estender no assunto. Me cumprimentou com as mãos sujas e eu que já não me importava dei aquele meio abraço, que reservamos aos amigos.
Encontrei meu carro no estacionamento de um hotel na Paulista, cansado de tanto subir a rua. Esperei e gostaria de ter dinheiro suficiente pra dormir ali. Acendi um cigarro e voltei pra casa na ilegalidade. E eu já não me importava.
Criolo, Grajauex – no dia que o Romeo nasceu