Proselitismo Troll

É que quando algo é muito novo pra mim eu tenho aquela tendência a ser esquisito. É um comportamento que varia de acordo com a demanda psicológica que a situação exige. Fica tudo mais fácil quando apenas alguns simples small talks resolvem: ‘porra, é foda’ vem junto daquele raciocínio meu e do Wolvs que palavrões geralmente resolvem qualquer conflito social, além de serem claros demonstradores de interesse. A teoria é grande, um dia eu explico melhor.

O fato é: nesta fase eu não consigo puxar assuntos, manter conversas saudáveis e começo a cogitar trazer minha caveira para fazer de porta trecos. É como se eu tentasse convencer todo mundo que sou um maníaco inveterado até a crise passar e eu voltar a ser só um malandro risonho e educado, que não sabe se vestir bem.

Inferno Astral, a brand new season

Nunca me disseram que eu podia sonhar. Acho que isso foi fundamental para que eu crescesse sem grandes obsessões. Descobri isso de uma maneira um pouco pesada demais que, afinal, é o melhor jeito de aprender. Não vou contar toda a história, mas posso dizer que envolve a Denise, condomínios de luxo dos Jardins e uma carta.

Ultimamente, o que tem me atormentado a mente são as respostas que não consigo dar para auto questionamentos até simples demais. É a perfeita ironia concretizada daquelas perguntas que me faziam nas entrevistas “onde você se enxerga daqui há cinco anos?”, ou “me fala que é o Robson Assis?”, ou “quais são seus planos pra vida, afinal?”. Max Gehringer manda lembranças com um sorrisinho sacana no canto da boca.

Daí que o inferno astral desta temporada está me trolando de forma que ninguém mais possa perceber. Por enquanto, vamos lidando relativamente bem. Aguardem os próximos episódios.

Living on the little edges

Enoch é um senhor de nome bílbico que tem um bar nas redondezas da casa dos meus pais, onde, merda, detesto dizer isso, ainda moro. O bar do Enoch tem uma mesa de sinuca, quatro freezeres e uma sala devidamente escondida para máquinas de caça-níquel. Possui uma clientela que gira em torno de tiozinhos desesperançosos pagando doses de Fogo Paulista com o dinheiro do INSS, traficantes à paisana (se você puder considerar “à paisana” um moleque de 19 anos de bermuda, sem camisa, usando corrente e relógio de ouro) e vez ou outra um pessoal descolado da vila que fica ouvindo aquele clássico do Pharoahe Monch no som do carro e relembrando bons tempos que viveram.

Aquém desse universo, Enoch e seus funcionários costumam ter táticas matreiras de expulsar seus clientes com civilidade, fingindo ao mesmo tempo que isso tudo é apenas parte do trabalho. Primeiro, eles param de vender fichas de bilhar à meia noite em ponto. Depois, cadeiras vazias dessas de metal começam a ser entrepostas sobre a mesa, de forma que uma batida de olho gera o raciocínio imediato de que o bar está encerrando suas atividades. Coidigênio, uma aula de semiótica, bem ali, no coração do comércio local.

Então, eles deixam de vender bebida. Se você quiser alguma especialidade como o notório Dreher com limão, eles vão te servir em copos plásticos e você deverá esperar um bocado, pois os três funcionários já estarão executando a terceira parte desse processo de exorcismo ao varrer a calçada, seu pé e o de quem mais estiver na equipe de resistência. Alguns muitos rebeldes teimam em permanecer no local e então segue-se um plano alternativo em que, após varrer a calçada, eles lavam tudo com água e sabão e o bar fica com apenas uma das portas entreabertas.

Se ainda assim sobrar alguém, apela-se para o lado afetivo. Neste momento, os três funcionários saem com cara de sofrimento e dizendo, po, “amanhã eu tenho prova da faculdade”, ou “minha mulher e minha filha, cara, minha mulher e minha filha” ou ainda clássico “eu também tenho uma vida fora daqui, cara”.

É uma maneira do Enoch dizer, adoro vocês, caros clientes, mas agora chega, vão procurar uma conveniência ou mercado 24 horas. Não é nada pessoal, mas eu preciso da minha liberdade pra poder estar aqui amanhã às 7h preparando o primeiro garrafão de café do dia, mas agora não dá mais, vão embora, eu imploro.

Um belo compêndio introdutório para dizer que (excetuando a relação dono x cliente) a sensação de viver com meus pais às vésperas dos 27 anos é exatamente a mesma de estar no bar do Enoch às 00h15. No final, as táticas para expulsar clientes indesejáveis e filhos beirando os trinta são as mesmas.

——

ps1.: Inspirado na terça-feira em que ninguém estava numas de conversar comigo em casa. Provavelmente com o pensamento de que eu estou me aproveitando da situação e qualquer outro gasto que esteja fora do programa Minha Casa, Minha Vida será o estopim que vai me manter morando lá durante a próxima década.


ps2: Não vou nem comentar o quanto a frase principal de Simon Says (a música do link) tem relação com este texto.

Desktop



de Robson Assis
para Denise Bonfanti
22 de março de 2011, 19:30

“Ter sua foto na minha mesa é como ter você do meu lado o dia todo. não é pra lembrar de você. É pra saber que eu nunca vou te esquecer”

***

É um crescimento pessoal e tanto ter uma foto da namorada na sua mesa do trabalho. Diz muito sobre quem você é. Diz mais que essa frase piegas que você mandou por email. Diz muito sobre como você pensa sobre ela e a importância de toda essa história que vocês vão escrevendo. Não é o romance sereno e simples dos livros. E é bem melhor que seja assim.

Explica também uns sumiços no hall de amigos, explica porque você vai dormir cedo no sábado e começa a planejar com antecedência os feriados prolongados. E porque você prefere um jantar em casa e um clássico do cinema do que luzes coloridas frenéticas e gente bêbada te esbarrando.

Mas principalmente, explica que você rearranjou uns pauzinhos e destravou o firewall das suas ideologias insensatas pra colher um sorriso bonito que estará sempre lá quando você precisar.

she's the one

Os homens mais perigosos da América

Daniel Ellsberg é o nome por trás do caso Pentagon Papers, que revelou ao mundo as mentiras desferidas durante a guerra do Vietnã. O documentário The Most Dangerous Man in America, de 2005, descreve com detalhes seus feitos para a história da democracia, às vezes em citações, às vezes em declarações humanas como essa:

“Em 4 de julho de 1946, viajávamos para Denver passando pelos milharais de Iowa. Um dia muito quente, ao meio dia, meu pai adormeceu ao volante e o carro saiu da estrada rumo a um canal, uma parede no lado da pista e arrancou o lado do carro onde estavam sentadas minha mãe e minha irmã e as matou. Eu estava do outro lado, atrás do motorista, tive uma concussão e quebrei um joelho, fiquei em coma por 36 horas e no hospital por cerca de três meses e meio.
Creio que isso provavelmente me deixou a impressão de que alguém que amava, como meu pai, ou que eu respeitava como autoridade podia dormir no volante. E tinha de ser observado, não porque fosse mau, mas porque estava desatento, talvez, quanto aos riscos.
11 meses antes quando eu tinha 14 anos, Hiroshima e Nagasaki tinham sido destruídas. Fiquei muito preocupado com essa sequência de fatos humanos. Pensei que era muito sinistra. O que eu via como um ato moral extremamente questionável do nosso presidente que eu admirava, Harry Truman, confundiu-se em minha cabeça com a falha do meu pai em ficar alerta e permitir que o carro matasse minha mãe e minha irmã”

Narrado por ele próprio, a história é contada através de fragmentos, como de costume, e remontada por meio de locuções épicas, declarações presidenciais, entrevistas, capas de jornais. Apresenta o personagem por completo, não apenas um revolucionário tentando quebrar as regras do mundo, mas sim um homem simples e sensato, em busca do que acha verdadeiro.

Um documentário sensacional, por apenas 700MB no Torrent mais perto de você.

É pouca zuera?

Eu não assisto Big Brother. Algumas decisões a gente toma partido por ideologia, outras por decência, outras por pânico. Essa é por indiferença. Eu nunca vou entender o motivo de boa parte da população se interessar tanto por relações pessoais de estranhos (e, a propósito, que tiozinho estranho aquele afeminado tentando provar que é o ser vivo mais feliz do universo a cada trinta segundos. Não sei o nome, supere).

Toda essa introdução desnecessária pra dizer que ontem eu assisti um trecho do programa e resetei minha senha do Gifsoup só pra deixar registrado esse momento mágico do entretenimento brasileiro (acima).

Férias, cadê?

Alguém precisa me dar férias em caráter de urgência. Se não rolar, vou cada dia mais implementar e evoluir meus métodos de responder correntes. E sim, isto é uma ameaça:

clique para aumentar e leia debaixo pra cima

Eu não acredito mais no mundo

imagem via André Dahmer

Podem me chamar de superficial ou de rebelde sem causa, ou de jovem Che Guevara, mas o que venho aqui dizer considero extremamente sério, principalmente por não ter solução: O capitalismo fodeu com o planeta. E não encontro no vernáculo forma mais clara de dizer isso.

Ora, não fossem as buscas e competições por empregos decentes, os filmes, a expectativa inalcançável de sucesso, a corrida dos ratos e a busca por essa vida média e fácil não teríamos tanta gente com empregos desnecessários por aí e, por conseguinte, não teríamos um mundo tão amplamente deteriorado.

É preciso que você tenha um emprego que as pessoas comentem, porque as pessoas querem saber o seu cargo antes de qualquer outra coisa. Não interessa se você está estudando a cura do câncer ou formas de eliminar o lixo do Rio Pinheiros. É uma cultura e pressão social que leva milhares de pessoas se tornarem jornalistas, publicitários, designers e marketeiros com o sonho de que suas vidas se transformem em documentários no Vimeo (ps.: estou criticando aqui, basicamente, toda a minha lista de amigos e conhecidos).

Quando eu era pequeno gostava de desmontar e montar despertadores, relógios, televisores, seja lá o que desse para abrir com algumas chaves, eu gostava de saber como era por dentro. Não fossem meus pais seres humanos médios ou de pouco tato, talvez hoje eu estivesse em algum simpósio falando sobre os avanços da rede neural robótica. Mas não, sou um jornalista, porque era o lugar mais fácil que poderia ter me encaixado. Uma faculdade média, quatro anos entediantes, sucessivos empregos entediantes enquanto o mundo e a evolução se fodem.

Essa é a primeira parte.

Em segundo plano vem a oferta e a procura. O negócio que fez as duas versões do iPad. As quatro versões do iPhone. Eles não podem ajudar. Empresas precisam crescer, tecnologias precisam avançar então “vamos lançar o primeiro sem webcam mesmo sabendo que podemos lançar com vídeo conferência e muito mais utilidades só pra ver o resultado”. A terceira versão vem com slot pra cartão de memória, quem sabe.

Mas este é apenas um exemplo ridículo sobre algo maior e extremamente mais ridículo. A constatação de que é o dinheiro que move o planeta. O trabalho não é mais uma causa, o trabalho precisa existir para mover qualquer instituição sem utilidade. Para ilustrar melhor e parar por aqui, digamos que as pessoas querem empregos mais fáceis ainda que não se sintam úteis para o contexto geral de suas vidas. Isso quer dizer que, se elas puderem viver uma vida decente, com três banhos por dia, um cachorro e uma TV a cabo, elas vão fazer isso mesmo que sejam contratadas para produzir conteúdo na internet servir cafés. É mais fácil não se envolver com a construção de um planeta melhor.

E então, a última parte.

Ser uma pessoa incrível e fazer uma descoberta incrível não tem mais tanta utilidade no mundo em que vivemos (ps.: me considero jornalista mesmo escrevendo jargões como “no mundo em que vivemos”). Se um cara descobre “a segunda roda”, por exemplo, ou uma forma dos carros voarem, ele vai fazer daquilo o big shot da sua vida. Não tem porque compartilhar seus feitos e ajudar a melhorar a vida na Terra se você pode guardar e montar toda uma estratégia empresarial para se tornar milionário e vizinho do P. Diddy.

Nada mais se usa em prol da humanidade. É tudo mercado. As pessoas vendem suas idéias, seu tempo, sua vida, só pra conseguirem um canto onde morar, um carro para buscar os filhos na escola e uma boa aposentadoria aos 65. Fico imaginando como seria caso no modelo de mundo que temos hoje, ainda não houvéssemos descoberto a roda (é, eu sei). Nego trabalhando pra conseguir comprar um carro com roda, nego maluco pra mostrar pros amigos seu novo carro com roda.

O ser humano deixou de se importar com o mundo para se importar com sua própria vida e, como temos visto nos noticiários, o planeta não anda muito contente.

Como disse no começo do texto, o Capitalismo não vai sair de moda e esse é o mundo que vamos ver acabar, as utopias de que um dia tudo vai mudar estão se reduzindo a pensamentos solitários em mesas de boteco. Então supere, it’s not gonna happen, kids.

[antes que me xinguem de moralista, eu sei que faço parte de toda essa cadeia de gente que escolhe o mais fácil e não participa da construção do mundo. Por isso o título distópico do post]

Carnaval on demand

Tiramos o carnaval para fazer o que não temos tempo durante dias normais, como ficar juntos, por exemplo. Nem que seja apenas por pizzas de forno, um monte de filmes western e episódios de How I met Your Mother que desajustam tudo o que vínhamos pensando sobre nossa juventude. Só queríamos uma cama pra deitar e ver o tempo passar.

Pela primeira vez na vida não assisti absolutamente nada sobre o carnaval e neste clima de assistir o que se quer por demanda, acabamos exigindo não ver nada na Globo (apesar dos quatro minutos vendo um filme do Didi que devo apagar da memória).

Não previmos que as tias dela voltassem antes do ‘combinado’ e acabamos surpreendidos com sofás nos lugares errados, mesinhas dentro do quarto, dois colchões bem no meio da sala e minha TV em cima da mesa de jantar. Momento awkward em vários níveis, eu sei.

E hoje, terça-feira de carnaval, chove lá fora o que extermina nossos planos de ir pro parque passar a tarde lendo e recriando nosso mundo todo a parte da necessidade de diversão extrema.

Esse foi, sem dúvida, meu carnaval mais tranquilo em anos. Todo esse silêncio e distanciamento fomos nós que escolhemos também. É como um final de temporada (e aqui você insere o comentário mental sobre o fato de eu estar vendo séries demais), estar longe de uns amigos que vivem experiências parecidas em outros lugares olhando a mesma lua que você e acreditar no que vem pela frente enquanto a câmera se afasta e eu recoloco o cabelo dela atrás da orelha.

Roll Credits.


Sufjan Stevens, To be alone with you

Radiohead, The King of Limbs, 2011

Esse novo disco do Radiohead saiu sem frescura, rápido, sem mística, capa num dia, track list no outro, teaser no outro e due no sábado. ‘Sem frescura’ porque não deve ter sobrado nada depois da gravação do disco. Não consigo me lembrar com exatidão quando foi que o Radiohead perdeu a mão pra situar você nesse meu pensamento, portanto, abaixo segue o meu faixa a faixa:

The King of Limbs abre com ‘Bloom’, uma espécie de samba-jazz que para não dizer inrotulável e criar um termo novo, vou apenas deixar assim. ‘Bloom’ tem uma vibe das músicas do Otto que todo mundo idolatra e você não se enxerga suportando mais que um minuto completo. Acho que se eu começar a usar a palavra experimentalismos não vou mais parar até o final do texto, portanto, digamos que todas as músicas soam experimentais.

Apesar disso, de minha parte nem tudo são críticas. A voz de Thom Yorke continua remetendo a uma época em que o Radiohead ainda era uma banda e não essa tribo indígena tentando acertar sempre. Difícil mesmo foi ouvir ‘Morning Mr. Magpie’ sem querer desligar o player. Repetitiva e ultrapassada. Eu quis parar por aí, evitando todo o quarto de hora que viria seguir.

A impressão que me deu ao ouvir ‘Little by little’, a terceira, foi algo recorrente em quase todas as músicas do disco. Parece que tem uma outra banda com um DJ de drum n’bass terrível tocando por cima de uma gravação original. Talvez seja uma ótima forma de reduzir os custos. Talvez seja só experimentalismo, OH CRAP, de novo. Sério, ‘Little by little’ é uma excelente música infelizmente abduzida por batidas esquisitas e sons medonhos.

Então vem ‘Feral’ e novamente o Otto e aquela patifaria de gravação sobre gravação, quando um artista perde a mão e acaba colocando em sua obra muito mais do que ela precisa. A seguir, ‘Lotus Flower’, aquela da dancinha, uma das melhores do disco. Sem muita putaria, se é que dá pra me entender. Foi o teaser e eles estragaram tudo revelando a parte boa, usando assim a mesma técnica dos trailers de filme. Depois disso ‘Codex’, a quinta do disco, que traz seu piano intenso e menos confuso, a única música que poderia parar numa trilha sonora de filme, por exemplo. ‘Codex’ dá a consistência e a tranquilidade que o disco deixa estava deixando a desejar a té então.

Aqui podemos dizer que se eu pensava ter apenas não-músicas (como bem disse Chico Barney ao Popload) babacas, o disco volta a se tornar interessante com as duas anteriores e ‘Give up the Ghost’, no violão, aparentemente o segundo instrumento musical usado em The King of Limbs até aqui. Pra finalizar, ‘Separator’ e a música menos entediante de todo o disco, sem dúvida.