Parca Nostalgia

Por acaso, abri hoje uma pasta Comentários do Blog do meu já inutilizado hotmail, datada de 2004, quando meu primeiro blog ainda estava em atividade:

Enviado por: Duds
Weblog: http://realidadesonhadora.blogspot.com/
Comentário: Meu pode ficar tranquilo que, se realmente eles vierem pra te mandar embrora, vc vai ahar algo melhor, que te deixe sonhar, que te deixe ser um bororé livre. Quanto a música, muito boa mesmo! Como vc disse que aceitava sugestões e é o meu guitarband favorito (e que se foda o Tom Morello), eu vou nessa: Que tal “Tristes Verdades”? Bem, enfim…. é só uma sugestão e tal….. Cara um grande abraço e vamo agitar o natiruts! Duds, Por que Os Bororés também tem problemas.

Enviado por: Duds
Weblog: http://realidadesonhadora.blogspot.com/
Comentário: “Começando com aspas”…. Não sei se devo fazer este tipo de comentário, mas achei realmente que suas palavras foram as mais sinceras possíveis; e digo mais, sinceras e corajosas, pois em um mundo onde um machismo imbecil impera, é preciso ser muito homem para expor seu sentimento de uma forma tão sutil e verdadeira. Cara, parabéns mesmo, toda sorte do mundo, e que se fodam todos aqueles que não amam, pois só odiando muito um dia eles chegarão a lugar nenhum. Ps.1: Os livros! Ps.2:A gente precisa tocar! Abraços na sua alma garoto!!! Duds: “este foi o melhor show da minha vida”.

Enviado por: Lipe (ou ‘Doido’, na época da escola)
Weblog: http://tentativasdemim.blogspot.com/
Comentário: Robas quando vc ficar um escritor famoso e ir no Faustão , eu aparecerei naquela televisão e direi que tudo começou com uma redação que começava assim “A sou brasileiro com muito orgulho…” Lembra disto, roots né!! Doido, Bororé

Me fugiu uma lágrima. Duds e Lipe são amigos eternos. Difícil mesmo é lembrar quem ensinou a tabuada do nove pra quem. “Ah, sou brasileiro com muito orgulho…”, comecei uma redação na sexta série com essa frase.

Pegamos uns filmes também

Simplesmente Complicado, com a versátil da Meryl Streep interpretando uma mãe divorciada, o Steve Martin – que comecei a chamar de Leslie Nielsen Jr. – num papel meio derrotista e o deselegante do Alec Baldwin fazendo piadas sem graça como no 30 Rock. Se eu assistir mais um filme com a Meryl Streep cozinheira, sério, me mato.

Coração Louco, com o Jeff Bridges, inspirado em um livro que ainda não descobri. Sobre a história de um astro falido da música Country, um renegado, um true.  Esperava que fosse uma história real, por conta do roteiro meio lento que faz sentido quando é o Johnny Cash ou o Elvis, mas não quando é um Bad Blake, Bad Who? Bem, até agora achei pouca coisa sobre. De qualquer forma, o filme tem uma excelente fotografia e trilha sonora com umas músicas do Jeff Bridges mesmo. Me fez baixar novamente uns discos do Hank Williams.

Um Homem Sério, filme em que os Irmãos Coen tentam te confundir, criar causalidades em casualidades e jogadinhas de câmera, com a moral de dizer “aceite o mistério”. Gostei do humor negro das situações, da idéia do “até quando?” do Bukowski, dos anos 70, não curti o jeito de não te explicarem nada direito.

Coming Soon

Ontem, troca de um quarto para o outro. Tirar prateleiras da parede, realocar livros, discos e filmes, esconder material pornô, espalhar as gavetas, reunir milhares de sacolas de lixo e a parte mais difícil: retirar os cartazes da parede.

Meus cartazes são minha história, ou parte dela, entende. Desde o primeiro que descolei do muro do Hangar 110 (pra só anos depois descobrir que o cara que cola no muro fica puto quando alguém tira seu cartaz de lá por any motivos) até os shows que toquei, produzi ou fui do street team que descia a rua Augusta com uma lata de cola caseira estampando levas de cartaz em cada quadro de distruibuição telefônica que parecesse amigável.

Tirei cada um deles, retirei suas fitas adesivas, rasguei um dos principais sem querer, merda. Empilhei todos, lembrei de cada dia, cada atraso, cada sensação única, cada respingo de cola que ficava na mochila de recordação. Enrolei todos e passei a fita isolante. Porque ‘eu posso não acreditar em muitas coisas, mas na fita isolante eu confio’.

E aí veio aquela sensação de final de temporada, sabe, quando um ciclo é fechado e tudo que vier além daquilo pode ser constrangedor. Porque você não precisa abrir mão daquilo que te faz bem, mas um hiato pode criar uma segunda temporada muito mais interessante.

Deprê, quem curte?

Desde sábado esqueceram uma britadeira ligada no meu estômago. =(

Faz três dias que não fumo. =)

Pergunta se alguém tá afim de saber. ¬¬

***

Existe algo mais irônico para um gordo do caralho do que trabalhar no setor de Esportes & Lazer de uma loja?

Existe. Saber que seu peso já ultrapassou o peso máximo suportado pela maioria dos equipamentos de ginástica.

***

Sem falar nas confusões que me envolvo por tentar explicar meu ponto de vista pra Denise. Truta, eles deviam dar cursos para nego se formar homem.

Abs

Ontem Rousseau me disse…

No ínicio, o mundo era de todos. Não havia motivo para qualquer cidadão colocar uma cerca em uma área de terra e determinar que aquele espaço lhe pertencia. O homem era dotado de instintos animais primários que não o distinguiam de qualquer outra espécie. Lutava apenas com outros animais pela preservação da vida. Em A Origem da Desigualdade entre os Homens, Jean-Jacques Rousseau dichava destrincha o começo da história da humanidade e como chegamos ao ponto que hoje vivemos.

Em um discurso detalhado, ele questiona o que torna o homem selvagem um verdadeiro primata e o homem civilizado acima dessa posição. O que ele conclui é que o homem civilizado só conseguiu adqurir vícios e males inimagináveis ao homem enquanto simples animal. Isso foi amadurecido através da criação da linguagem que deu origem ao pensamento e, posteriormente, à lógica.

Outro importante ponto que ele me disse foi sobre o trabalho, sobre o sistema de servidão criado pelos primeiros ricos que fez com que os pobres nutrissem sonhos que nunca seriam concretizados e aceitassem a escravidão como algo essencial para sua inserção na sociedade. “Ninguém é mais escravo do que aquele que se julga livre sem o ser” (Goethe).

Rousseau é um cara mais gente fina do que eu imaginava.

“Luto por um mundo em que…”

Aconteceu comigo uma vez. Um amigo tentou me mostrar o caminho das pedras para encarar o período pós-faculdade de cabeça erguida. Acho que ele se esqueceu de que tinha terminado o curso dois anos depois de mim. Eu já sabia o que era o pós-faculdade e já tinha conseguido a minha cota de Valium pra conseguir dormir.

De qualquer forma, o cara tinha um plano: arrumar um trabalho decente pra pagar as contas sustentado por freelas em horários vagos e projetos promissores em que seríamos o Rupert Murdoch de nossas vidas.

E isso me lembrou outra ocasião, quando estava com uma jaqueta com alguns patches de bandas punk e um moleque no limiar de seus 13 anos puxa uma conversa sobre com-que-gangue-eu-andava. Depois de 15 minutos tentando convencer o garoto que eu não era o punk que ele sonhava encontrar e lhe contaria toda a história do Social Distortion, ele se vira pra mim e diz: “continua curtindo essas bandas aí cara, você tá fazendo certo”.

A vontade era responder: “Moleque, quando você nasceu eu já roubava Sonho de Valsa nas Lojas Americanas”. Ou então “Moleque, quando você nasceu eu já tinha visto duas Copas do Mundo”. Acredite, eu tenho em mente uma infinidade de variações destas frases.

Mas voltando ao assunto.

Lá estava eu, confiante que algo bom poderia realmente acontecer ao meu currículo (além do inglês intermediário e do curso de montagem e manutenção de computadores), frequentando palestras culturais, escolas de arte, bibliotecas públicas, envolvidão com aquele clima estamos-amadurecendo-as-idéias-pueris-que-tínhamos-na-faculdade e estava tudo bem. Mesmo. Aí vieram os tais projetos.

Éramos jornalistas, certo? Criaríamos a Caros Amigos do Capão Redondo. Brinks. Mas a idéia até que ficou razoável depois de numa reunião em que retiramos da cabeça do “chefão” a idéia de fazer 10.000 cópias SEMANAIS de uma revista com 240 páginas.

E então, o mano me liga:

-Vamos entrevistar o chefe regional da igreja… whatever! temos que chegar bem CQC (!) tá ligado, na caruda, ele vai estar saindo do culto, você pega o gravador e vai atrás perguntando o que ele acha das atuais acusações de lavagem de dinheiro na igreja.

-Demorou… (bocejo) onde a gente se encontra?

-Então, mano, é que hoje é aniversário da minha irmãzinha, não vou poder, mas vai lá e já era, tamos com você.

Faltou dizer… “e relatório na minha mesa às 17h. Abs!”

Se você quer mandar em alguém, você precisa assumir que é apenas o executivo por trás da idéia, o “chefão” e não vai arredar o pé para qualquer pesquisa em campo porque é insensato alguém de tamanha genialidade se misturar à raça. Ou seja, você precisa deixar claro: o trabalho é pra vocês, medíocres. “I’m the boss, I make the jokes”, como diria o Sheldon.

Meu ponto é: mesmo se você assumir toda essa sua megalomania, você ainda pode correr o risco de ninguém querer trabalhar pra você, entende? E não, eu não te entendo. Quer as glórias de mão beijada? Cria um fake do Gugu Liberato no Twitter e vai ser feliz.

Não dou valor às pessoas lutam por sei lá, salários mais altos, uma vida melhor e não têm a decência de dar a cara à tapa, ou de dizer: “Aí, Folks, o barato é comigo agora e eu vim pra brigar”. Talvez seja por isso que não temos mais grandes heróis ou grandes prêmios Nobel. Ou grandes revistas em bairros pobres.

Prezo aquele maluco que vivia reclamando da gerência do condomínio e certo dia desceu com um amplificador e um microfone na reunião dos moradores e começou a cagar suas regras contra a síndica vigente. Ele não precisa estar certo. Voltaire, que também foi meio maluco, disse mais ou menos isso “posso não concordar com picas do que você diz, mas pelo seu direito de dizê-lo, tamo junto!”.

Luto por um mundo em que as pessoas desperdicem menos tempo falando, planejando e carregando meus textos com infinitas possibilidades de gerúndio.

Precious: Considerações Finais

Sexta, voltando pra casa, me senti mal por ter pensado nessa crítica (último post) à história de Precious, mas depois de tê-la escrito, vejo que não estou indo tão longe assim.

É um estilo de contar histórias que eu gosto, finais tristes, depressivos, trilha sonora com Janis Joplin e canções densas no piano. O julgamento final é que a história tinha potencial demais para ser contada dessa forma desajeitada.

Ah, outra coisa corriqueira: me apaixonei por essa Mariah Carey um-tanto-quanto descabelada.

Abs

Os sonhos frustrados de C. Precious Jones

Sabe, aquele filme produzido pela Oprah ano passado, que concorreu ao Oscar e tudo mais. Isso, Preciosa. Preciosa (Precious, 2009) é um filme que prova porque as receitas de bolo por mais matemáticas que sejam nem sempre dão certo.

Existe um tema pesado: uma garota de 16 anos, negra, obesa, analfabeta, grávida de seu segundo filho (a primeira filha tem síndrome de Down) e, mais tarde descobrimos, aidética. Sua mãe é uma megera que ultrapassa qualquer exemplo que aqui eu possa dar.

Bem, já que o tema é tenso, então, vamos inserir em um contexto pior. Os sonhos frustrados de C. Precious Jones, a grande jogada do filme. Precious sonha, sempre com um mundo de glamour, um namorado rico, repórteres, fama e então volta à realidade silenciosa de sua vida.

E já que o tema e o contexto vão sacudir as pessoas e dizer a elas que o fato de ter sido demitido do trabalho não é o pior sofrimento do mundo, vamos piorar a vida de Precious com o inusitado, com o…

Deu pra sacar?

O roteiro foi tão voltado pras desgraças da protagonista que se esqueceram de dar um final decente pra parada, ou pior, se esqueceram da moral da história. Entendo que abrir o coração para os problemas dos outros faz com que você veja como a vida pode ser terrível. Como existe gente que sofre por aí e você não percebe.

Mas acredito que a história de Precious é tão ímpar, tão inigualável que a moral merecia mais do que uma idéia geral existe-sofrimento-aí-fora-enquanto-você-reclama-da-sua-barriguinha.

Preciosa tem um problema simples: foi dramático, caótico, singelo e triste numa medida que estourou a balança.

Sem trocadilhos.

Porra, J.J Abrahms

Num plano ideal, eu não veria problema em trabalhar na função que exerço hoje, porém teria (a) um plano de carreira (b) um salário que desse pra pagar minhas contas, juntar dinheiro pra previdência e tomar meu Java Chip na Starbucks toda semana sem peso na consciência; (c) trabalharia a menos de 10km de casa.

Haveria um (d) que diria, trabalhar 6 horas diárias. Mas não há, porque se eu trabalhasse a uma curta distância de casa não me importaria de ficar 10 horas na frente do ecrã.

Todavia, esse oplano ideal não ocorre porque (a) vou morrer escrevendo textos pra câmeras digitais e aparelhos de ginástica (b) como disse outro dia mal consigo manter um café da manhã diário de R$3,00 (c) a empresa fica a 45km de casa somando, no mínimo, 90km diários. É como se eu fosse pra Mongaguá todos os dias.

Porra, J.J Abrahms, cadê minha realidade alternativa, mano?

Seu carro, sua cerveja e as canecas do seu pai

Fim de semana dos namorados. Um dia, tenho certeza, vou te pagar com juros tudo o que faz por mim. Hoje não posso oferecer presentes caros, jantares fabulosos, viagens inesquecíveis. Só uma lembrança simples e de coração, um café na cama com flores (antecedido por uma tortura no frio esperando a floricultura funcionar) e os carinhos, a cama, os edredons, filmes, conversas, devaneios, sonhos.

E passamos um dia que não vou esquecer. Ganhei de você uma caixa cheia de presentes que sei, não vou esquecer jamais. E mesmo que meu dinheiro não pague, a coisa toda fez valer a pena cada segundo deste último fim de semana.

Já tive uma fase da vida em que pensava nas datas comemorativas como criações do mercado, feitas para nos exaurir de razão e pensar apenas com a emoção. Hoje ainda acredito nisso, só não consigo enxergar onde está o erro de pensar apenas com o coração e querer dar a alguém que você ama aquilo que você pode oferecer (mesmo que isso, no fim, não chegue aos pés do que você realmente merece).

Quando estamos em casa percebo como será a vida daqui a alguns anos e abro um sorriso pelas possibilidades, pelo que não é decidido por nós, pelo que é admirável por ser tão impreciso. Nosso futuro, Denise, não importa quanto tempo demore pra acontecer, será meu feito mais importante. Precisamos apenas um como uma constante do outro no presente.

Daí você sentou do meu lado. Começamos a ver fotos antigas, nos álbuns de meus amigos. “Seu carro, sua cerveja e as duas canecas do seu pai”, você disse numa delas. A gente riu, você me perguntou se eu não sentia falta. Sinto falta sempre que você não me sorri, se é isso que quer saber. Porque no momento em que você sorri não existe nada mais no mundo que eu me importe mais.

Obrigado, meu amor, por este dia terrific e por tantos outros. Eu te amo.