Jesse e Jane



[Contém spoilers da terceira temporada Breaking Bad]

Uma das grandes cenas de Breaking Bad acontece nesse episódio S03E11, em que Jesse começa tendo um flashback de sua namorada Jane que morreu ao seu lado, enquanto dormia sob o efeito da heroína.

No episódio anterior ele estava pensativo ao ver um cigarro sujo de batom no cinzeiro do carro que foi deixado por Jane antes de morrer. Então seu pensamento volta no dia em que foi ao museu com a garota conhecer as obras de uma artista chamada Georgia O’Keeffe.

(os dois conversam dentro do carro)

Jesse: Sabe, não entendo. Por que alguém pintaria o quadro de uma porta uma dúzia de vezes sem parar?
Jane: Mas não era igual.
Jesse: Era sim.
Jane: Era o mesmo modelo, mas sempre diferente. A luz era diferente, o humor era diferente. Ela via algo novo toda vez que pintava.
Jesse: E isso não é loucura pra você?
Jane: Então por que fazer qualquer coisa mais de uma vez? Eu deveria fumar só um cigarro? Talvez devêssemos transar só uma vez já que é a mesma coisa.
Jesse: Não…
Jane: Ver só um pôr-do-sol? Ou viver apenas um dia. É porque é sempre diferente. Cada vez é uma experiência nova.
Jesse: Certo, tudo bem. Acho que as imagens do crânio da vaca eram legais, mas… uma porta? Digo de novo: Uma porta! Zzzzzz (fingindo sono)
Jane: Por que não uma porta? Às vezes nos fixamos em algo e nem entendemos o motivo. Você se abre e segue em frente, para onde quer que o universo leve você.
Jesse: Então o universo a levou até uma porta e ela ficou tão obcecada que precisava pintar 20 vezes até ficar perfeita.
Jane: Não, eu não diria isso. Nada é perfeito.
Jesse: É? Bem, algumas coisas são.

(momento romântico da cena, em que Jesse beija a garota)

Jane: Foi tão fofo que acho que vomitei um pouquinho.
Jesse: hahah, você não consegue admitir que pelo menos uma vez eu estou certo. Ora, vamos, a O’Keeffe ficava tentando sem parar até que a porta estúpida estivesse perfeita.
Jane: Não, a porta era importante e ela a adorava. Pra mim se trata de fazer o sentimento durar.

(Jane apaga o cigarro)

Como a sexta-feira começou bem

Sabe aquele seu amigo que fica bravo porque você tá indo embora do rolê às 5h30 da manhã, já fritado? Aí, numa reles sexta-feira, você fica sabendo que o malandro vai ser pai.

Robson: caralho, você vai ser pai?
FYAH: vou mano, 1000 grau, hahahahaha
Robson: é brin-ca-de-ra, ahuahuuhahuauh, sério memo?
FYAH: é serio mano. se não tá nem ligado, é caraio!
Robson: que fita!
FYAH: fitassa!
Robson: porra, mano, nem conheço sua mina, huahuahua
FYAH: hahaha, nem eu a sua 😉
Robson: é quente =/
FYAH: vc é um lixo!
Robson: putaquepariu! mas e aí, tá firmão?
FYAH: to suave… felizão, voo hoje no 1º ultrassom
Robson: suave, então, parabéns, caraio! ultrassom! mano, que preza. Quantos meses?
FYAH: 5 semanas hahahahahahah, não to acostumado ainda
Robson: pode cre, nem to acreditando
FYAH: ninguem acredita

A padaria default

Hoje decidi deixar de frequentar minha padaria default.

É na padaria default que tomo café da manhã pelo menos duas vezes por semana – enquanto a renda permite. Parte do meu alívio diário acontecia lá, quando eu pedia os dois pães na chapa e o café puro de sempre e gastava R$2,00 (sim, dois reais).

Acontecia.

O preço não era o único atrativo. Os funcionários da padoca eram educados, gente classe, que poderia estar gerenciando equipes em grandes restaurantes ou vivendo o sonho, sei lá. Mas não, estavam numa padaria de bairro, entregando o suor de seus corpos para manter a qualidade do serviço prestado (OK, sei que estou exagerando um pouco no drama).

Tinha esse tiozinho. Um tiozinho que servia no balcão. Fazia o café, pedia os pães na chapa, regulava o que era cobrado nas comandas. Conversava com todos, free talker assumidão. Puxava assunto com os que conhecia, mas as risadas eram divididas por todos numa só canção (“numa só canção”, Robson?).

E tinha esse outro personagem anônimo da cozinha. Tipo um Luther Blisset, intocável para os clientes, suponho. Fazia um croissant que tornava o lugar mais mágico do que qualquer outra padaria que já tenha conhecido. Sem contar a exatidão e maestria incutida nos outros salgados.

Esses dois personagens foram, durante algum tempo, a alma da padaria. Eu entrava sabendo que o tiozinho ia zoar um caminhoneiro chamando-o de mineiro ou qualquer coisa do tipo e todos teríamos um bom dia. E talvez visse alguém sair da cozinha imaginando que talvez fosse ele o Luther que fazia os salgados, talvez não.

De repente, num dia comum, percebi que a padaria default estava mais vazia que o normal. No caixa, percebi que o preço da minha comanda subiu para não tão admiráveis 3,00. E não acredito que exista um Copom especializado em preços de pães na chapa. E, semanas depois, os funcionários mudaram, entraram uns jovens que podem ganhar pouco e não vão reclamar inexperientes e uns tios mais sem graça que fazem café fraco.

Daí eu chego hoje, de manhã, como meus habituais dois pães na chapa comuns e tomo aquele café-tinta-de-impressora. E então peço, pra viagem, um croissant. Porque agora você não escolhe entre Queijo Minas, Calabresa com Queijo, Frango com Catupiry, Queijo e Presunto. Eles tem um único, que se chama apenas “croissant” e que o cara do balcão chama afetivamente de coraçán.

E então fui pegar meu Toddy, companheiro de aventuras, mas só havia um genérico, com uma placa ao lado “PROMOÇÃO: R$ 0,80” e claro, com o vencimento marcado pra hoje. No caixa, a garota indiferente me cobra a mais e, sem se desculpar, pergunta se tenho 70 centavos, pois ela não tem troco.

Foi só então que eu percebi que a padaria que eu conheci não estava mais lá.

Um feriado e uns filmes #cinemaday

Tá certo, tava sol e tudo, mas e o frio? Feriado prolongado, marginais vazias em SP, nada como atravessar a cidade para ver minha garota e alugar uns bons filmes – o que é relativo, bem relativo.

Como sempre erro o que escolher na locadora (aluguei A Senha Swordfish três vezes e não lembrava que já tinha visto antes), atualmente só assisto coisas que me indicam, clássicos, aqueles filmes pique “como assim você não viu”? Mas fui encarregado da missão de pegar três ou quatro blockbusters para passarmos juntos o Corpus Christi. Peguei, então, três filmes que ela ia gostar e eu não iria enjoar mortalmente a ponto de dormir na metade achar ruim e tudo, e tal.

Começamos com Zombieland, comédia boa com o Mickey, do Assassinos por Natureza (eu percebi que não consigo assistir um filme com esse Woody Harrelson sem repetir “Natural Born Killer” pelo menos dez vezes) e com aquela pivetinha que fez Little Miss Sunshine. Eles matam zumbis que correm feito malucos. É tipo uma visão paralela daquele Eu Sou a Lenda do Will Smith. Interessante. Ah, e tem participação do Bill Murray.

Aí veio Julie e Julia, numa vibe meio As Horas, aquelas histórias sendo contadas em épocas diferentes, mas com um climão vai dar tudo certo no final, que ajuda bastante. Ah, a Meryl Streep está impagável neste filme. A outra atriz principal também, Amy Adams (que a gente jurava ser a Zooey Deschannel de cabelo curto).

E, pra fechar Onde vivem os monstros. Primeiro achei que era desenho, depois achei que era desenho com filme, no melhor estilo Dick Tracy. Depois vi que era uns bonecos animadores de torcida gigantes com sentimentos aflorados. Mas sim, o filme é excelente. Claro que, no final, uma conversa sobre as teorias psicológicas contidas em cada personagem em relação ao personagem principal ajudam muito na hora de dar uma nota final.

E aí, após muita comida descartável e muito amor, carinhos e carícias, estava eu, voltando pra casa, pra aturar mais uma semana inteira de… mas porra, hoje é sexta-feira!

Abs a todos os envolvidos.

The lights thing

Look the bright side, maybe we would be better far away. Even when the lights goes off, we maybe just need it. So, lock your belts, we’ll fly away from here. If we came back, if the lights can be turned on again, I’d be glad like never before.

Bebida, blah!

Pois é, em 2010, consigo contar nos dedos minhas bebedeiras.

Existem algumas sensações um tanto dolorosas.

Uma delas não é a saudade do sabor do álcool, nem nada parecido. O que faz falta é a sensação de ter ultrapassado os limites de sua razão, de desligar o botão da civilidade, de se comportar como alguém que não dá a mínima pra nada.

Aquela leveza que te dá dividir 4 garrafas de cerveja e uma ou outra dose de qualquer bebida quente com um amigo em um boteco sujo na rua Augusta, em volta de uma mesa de bilhar, roubando bolas e colocando Raça Negra na Jukebox, só porque você lembra que o vocalista tem a língua presa e isso vai ser motivo de risadas pelo resto da noite.

E você, amigo do fórum, que está numas de me indicar o canhamo e imaginou que eu ainda não pensei nisso como uma solução tátil para o problema: Think again.

Outro fator: quando estou bêbado, qualquer lugar parece seguro, o que já me fez caminhar de madrugada pelo escadão da nove de julho, do Pq. do Lago ao Capão Redondo, como se fossem lugares vigiados 24×7, numa tranquilidade como se andasse com guarda-costas ou como se estivesse só no mundo.

Mas claro, dá pra sentir falta de whisky, por exemplo. Logo, a primeira decisão para 2011 é comprar uma garrafa de Jack Daniels e sair pelo Capão Redondo a pé.

Dilemas da vida social

“A vida é feita de compromissos”. A frase que todas as pessoas chatas e/ou implicantes dizem. Embora eu tenha receio em concordar com esse tipo de gente que anda engravatado, com celulares à vista e óculos de sol ocupando o lugar de uma tiara, desta vez eles me pegaram.

Sempre que ouvia essa frase ou algo do tipo pensava em alguém que marca compromissos numa agenda igual a daquela comédia com o James Belushi cheia de datas e post-its, rabiscos e telefones, chaves reserva, sabe, aquele modo de vida executivo.

Mas existem outros tipos de compromissos para gente comum como nós (?) como o aniversário da mãe do seu melhor amigo que está doente e você precisa estar lá para apoiá-lo, ou a formatura daquela sua prima desgarrada que você não vê a dez anos, mas sua mãe acha importante que você esteja presente, dando aquela força. Não indo tão longe, tem aquele seu amigo da faculdade que você não vê a algum tempo, mas esbarrou na rua meses atrás e ele lembrou de te convidar pro seu aniversário. E aí você se lembra que o cara era gente fina na faculdade. E você vai.

As pessoas se entopem de compromissos e formam uma aproximação que muitas vezes não é saudável. E se esse meu amigo da faculdade se tornou um babaca insuportável? E se sua prima não dá a mínima? E se a mãe do seu amigo preferir estar em casa sozinha, com os seus, um bolinho e descanso?

No fundo, um decide pelo outro. Meu amigo achou que sua mãe estaria melhor com todos os amigos dele em volta dela. Minha mãe previu que minha prima gostava de mim e minha presença era realmente importante. E meu amigo pensou que todos os amigos dele gostariam de estar numa festa para o anviersário dele.

Bem, é preciso considerar o fato de que podemos estar errados quando decidimos pelos outros. Criamos ciclos de amizades falsas que, muitas vezes não rolam. Acho que estou dizendo que é possível as pessoas ao seu redor tem o direito de achar você um pé no saco, mesmo você tentando ser um cara gentil.

Portanto, não empurre seus chatings forçados pra cima de mim.

FUCK YEAH, LOVE

O problema não é minha falta de apreço pelo Corinhtians, pelo contrário, tenho até certa estima pelos alvinegros. Meu avô era corinthiano, grandes amigos também são. É a porra da maior torcida do Brasil, velho, você não tem como estar em um debate sobre futebol sem a presença de alguns deles.

Tenho um pouco dessa idéia de pensar que o futebol é o ócio do povo, mas ela não vai muito longe, porque eu gosto de assistir qualquer jogo.

Mas tem essa parada que me irrita.

O que é realmente insuportável do corinthiano, é que o time do Parque São Jorge conquistou isso de decidir o jogo nos últimos minutos, o que faz o malandrão chegar no dia seguinte, estufar o peito e dizer a frase default da Gaviões:

-Com nóis é assim, sofrido memo, filhão, mas no final você tá ligado!

To ligado. Só que hoje, amigo, quem comemora é o Love.

Quando tudo mudar

“Janie’s a pretty typical teenager. Angry, insecure, confused. I wish I could tell her that’s all going to pass, but I don’t want to lie to her.”
Janie é uma típica adolescente. Nervosa, insegura, confusa. Eu gostaria de dizer a ela que tudo isso vai passar, mas eu não quero mentir pra ela.

–Beleza Americana

Algumas coisas simplesmente não vão passar. Gostaria de dizer que a cada mudança vamos saber exatamente como e quando tudo aconteceu, em que parte do plano abrimos mão de algo que nos transformou, mas nem sempre vai ser assim. Precisamos do conflito, da dúvida com o passado, para que possamos viver um presente solene, que pode não voltar mais. Nietzsche disse uma vez que a beleza de ter uma memória ruim é poder encarar cada fato como uma novidade ímpar, como se fosse a primeira vez.

Precisamos do que é velho, de nossa história, para que possamos marcar o passado com post-its e lembrar disso quando tudo for diferente. É preciso colocar a cabeça no lugar, menina.

Não é mais preciso saber onde você errou. É preciso descobrir como acertar daqui pra frente.

Das Primaveras

Hoje completo o ano 26 de existência.

Comecei a enxergar o mundo com olhos estranhos de uns tempos pra cá. Clichê assim.

Não sei se foi o papo existencialista naquele vídeo do George Carlin ou essa filosofia de pensar no quanto se é pequeno em relação aos universos em nossa volta. Desaniversários, sabe, aquela história? Você comemora um ano cumprido, pra esquecer que só está um ano mais perto do final da vida.

Parece que não estou só envelhecendo, estou começando a tecer reflexões dramáticas e tristes como um velho.

Hoje é meu aniversário e não vou sair de casa. De presente, ganhei dois livros da coleção de clássicos da Abril. Minha garota, sempre. Meus pais já me pagam impostos, boletos e combustíveis o suficiente pra pensar em presentes. Dá pra se sentir um moleque toda vez que se pede dinheiro pra gasolina. Mas dá pra se sentir um otário também.

Feliz aniversário pra mim.