Fiquei sabendo que meu amigo Wolvs ia me dar de presente de aniversário um ingresso para o show do Social Distortion, que aconteceu semana passada. O problema é que já tinham dado dois ingressos para o Megadeth e decidiram que não iam ceder mais um pra ele. #VDM
ps.: Social Distortion é o show de 2010 que mais me arrependo de não ter ido
***
Daí chega o maluco da gringa para terceirizar um serviço aqui na empresa. Aí nego quer almoçar com o cara e bancar o entendido da língua inglesa. Fila gigante, 12 minutos até a entrada do refeitório e uma frase:
-Here…..it’s…it’s…you know….all days, same place…tsc, tsc… [balançando a cabeça negativamente]
Impressionante o modo como as pessoas reclamam da vida pra qualquer um. Nego acha que a qualquer momento o Luciano Huck pode sair de trás de um arbusto e dizer: Amigo, você está no Lar Doce Lar dessa semana!
Colecionar flyers é uma arte que começou ao acaso, pelas tantas vezes que acumulei restos de papéis na gaveta. Certa vez, fui arrumar a coisa toda e encontrei mais flyers do que oxigênio, e então eu comecei a juntá-los.
A coleção data de 2003.
Separo os itens em categorias pra não me perder na hora de organizá-los. E geralmente a organização acontece em feriados no meio da semana, como o de ontem.
1. Publicidade Os de publicidade são aqueles que você encontra no caixa de algumas baladas, em lojas de roupa conceituais e cafés. Geralmente ficam em expositores e as pessoas têm vergonha de pegá-los e serem taxadas de… bem, de uma pessoa que pega papéis no expositor, sei lá.
Geralmente não gosto destes porque são cartões postais, mas se fossem SÓ cartões postais, seriam vendidos. Eles tem uma publicidade qualquer ao invés de uma paisagem bonita. Ao invés do Viaduto do Chá, tem uma televisão Samsung, ou o comercial de um novo seriado da Warner. O que lhes garante o direito de serem gratuitos.
Embora, posso dizer, alguns deles valem a pena:
2. OUTS Na verdade, tenho poucos flyers da OUTS, mas são, sem dúvida os que mais gosto. Pelo bom gosto do papel, da arte – mesmo os de material mais vagabundo têm artes bem-feitas. Sim, a OUTS é aquele club no final da rua Augusta, em frente ao Inferno. Toca Indie Rock, termo que muitos de meus amigos trocaram por “som meio outs”. Pra encaixar numa frase o exemplo: “sabe a DJ Club, ali perto da Nove de Julho? É meio abafado e tals, mas a música é boa, eles tocam um som meio outs”.
3. PUNK É onde está o auge desta coleção. De todos os flyers que possuo no total (cerca de 400), esta categoria ocupa pelo menos 70%. Coletados em geral na porta de shows, clubs e lojas da Galeria do Rock, os flyers de shows de rock são meu grande orgulho. E entre 2006 e 2008, se tornaram também um hobbie.
Óbvio que muitos destes shows eu não fui. Mais óbvio ainda que os flyers que peguei nestes shows estão mais maltratados que aqueles que peguei numa loja ou num club. Alguns têm fita durex na parte de trás, para garantir a integridade física. Algumas raridades como a passagem do Discharge, Vibrators e Agent Orange em SP, mais alguns clássicos como o NX Zero e Gloria no Hangar 110 e locais mais fuleiros (fãs alucinados que queiram comprá-los por preços escabrosos, me add).
Daí aquela operadora de cartões de crédito me liga no sábado. Reproduzo abaixo o diálogo:
-Ow, filhão, não quer fazer um acordo? Pelo menos seu nome não vai pro SPC-Serasa. -Demorou, fechadão. -Nossa proposta é tantas vezes de 600 paus. -Não vira. -Quanto você consegue pagar? -200 mangos. -Vou ver, faz uma média aí na linha. […após a média] -Olha, consegui em tantas vezes de 299 paus. -Mas só consigo 200. -Tá, olha, o que eu posso fazer por você é dar um desconto em cima da parcela, interessa? -Sim! Vê aí. -Olha, consegui aqui o desconto de 1 real sobre cada parcela. Assim você paga tantas vezes de apenas 298 paus. -Porra, agora sim. -Posso confirmar? -Claro, mas vai logo que não quero perder essa oportunidade única!
Não aconteceram as ironias finais. Tive pena da pobre atendente de telemarketing “eu-só-trabalho-aqui-moço”.
Cultivar uma barba não é um negócio muito fácil. Meus pontos:
-O amontoado de pêlos na cara coça demais; -É preciso tratá-la como um cabelo; -Demanda tempo e disposição. -Você vira alvo de uma porção de apelidos óbvios.
Apesar disso é bacana ter o que coçar na cara. É deselegante de um jeito bom. O @dlima indicou um dia destes o Build a Beard, um blog com fotos de barbas enviadas pelos usuários e acabo lendo diariamente. No geral, o blog encoraja o cidadão médio a fazer uso da barba.
Build-A-Beard realizes the courage to make the decision to grow – to forever put down the scissors and razors – a challenge not only to your character, but a test of will against a society who might not fully understand your DIY artistic expression.
Isso posto, segue abaixo meu testemunho sobre como ganhei notoriedade com a barba.
Hoje, ao passar pelo pedágio, a garota da cabine me olha estranho e, como que envergonhada, foca sua atenção nas moedas do troco.
Sem entender nada, peguei o troco e saí devagar. Pouco antes de tirar o som do mute, ouço a menina gritar pra cabine ao lado:
Kenan (guarde este nome para posts futuros) é um dos meus vizinhos mais insuportáveis de todos os tempos, daqueles caras que numa conversa trivial emendam assuntos como o nazismo, Lenin, ou questões sociais/morais pesadas. Foi o cara que passou um ano lamentando a perda de sua namorada e culpando o sistema pois, vale ressaltar, ele tem 23 anos e trabalhar não era algo que passasse pela sua cabeça. Ele também de despede de conversas com “paz”, “pega leve” e “vai na calma”.
Outro dia, no elevador, voltando do trabalho, ele me mostra uma pedra e diz que está tentando destruí-la usando apenas o poder da mente. Minha cara de O’rly? foi lamentável.
Mas também é um dos que mais influenciam minhas reflexões. Não sei bem dizer porquê. Talvez sejam os livros antigos que ele sempre carrega – Kenan foi o primeiro amigo meu que leu todos os volumes de O Capital – talvez seja só seu jeito de ser sincero e maluco sabendo que está sendo sincero e maluco.
Certa vez, estava em casa vendo TV ou qualquer coisa, quando ele toca a campainha após combinarmos de trocar CDs:
-E aí, Robinho -Fala, Kenan, certo? -Trouxe o CD do Forgotten -Ah, demorou, vou lá pegar o Weezer [após os CDs trocados] -E aí, você tá bem, cara? – Kenan sempre dá um jeito de enfiar um “cara” em qualquer frase, cara -A pampa, acabei de chegar do trampo. Você, tranks? -Ah, cara, parei de comer carne, faz 2 meses. Melhor, né, você sabe que não está comendo um defunto. Ficar se entupindo de corpos, né cara, não vira. To comendo muita soja e umas verduras que minha mãe faz, mas tem bastante variedade. O consumo de carne vai acabar com a humanidade, cara. Deixei de comer porque achei que é o certo, não por essa moda de idiotas aí. -Pode crer.
Uma semana depois disso eu passei dois anos e meio sem comer carne. Não pergunte. Não faz sentido mesmo.
Você tem que estar preparado para considerar ter sido um idiota a vida toda. Isso acontece em qualquer idade, com qualquer assunto, pra qualquer efeito. Você tem que estar preparado pra ver seu mundo virar de ponta cabeça, prestar atenção de que lado vai ficar e aí, amigo, segurar a pancada que essa mudança vai lhe oferecer.
***
Vivo uma fase sem motivos. Sem motivos pra ter um celular que faça ligações, porque não quero falar com ninguém. Sem motivos pra sair, porque não quero beber. Sem motivos pra ficar depressivo, porque, ora, quem vai me ouvir?
Porque são raras as vezes que falo sobre religião.
denise: pq vc parou de ir a igreja mesmo? Robson: A explicação simples? denise: A explicação denise: Quero saber o motivo Robson: Gente. Robson: É que sei lá, vc sabe como eu sou né… Robson: Eu levo as coisas a sério mesmo. Robson: E quando eu entrei na igreja era fiel pra valer assim, fervoroso, um maluco doidão mesmo de andar com o rosário enrolado no punho.. heheheh Robson: Só que aí passou o tempo Robson: E eu percebi que a igreja era só mais um lugar cheio de gente prestando atenção Na vida dos outros e, muitas vezes, pouco se lixando pro seu próprio lado espiritual… Robson: Gente que fica irritado, que faz picuinha, que faz fofoca, que mente, fala pelas costas.. Robson: Descobri que, pelo menos naquela igreja, Deus não gostaria de estar. Robson: Saí e pedi pra Ele vir comigo. Robson: boa explicação? denise: sim denise: mas ainda mantem a mesma fé? Robson: claro, mantenho sim… Robson: não deixei de acreditar em Deus. Deixei de acreditar nas pessoas.
Outro filme do final de semana foi o excelente Requiem para um Sonho (2000). Como lido em meu dicionário, “Requiém” é uma palavra de origem latina que quer dizer descanso, repouso, mas é vinculada à morte e, no geral, significa o descanso através da morte. E o título do filme faz todo o sentido, as tragédias e pequenas misérias da vida contadas de um jeito febril e, às vezes, sádico. Recomendado para quem não gosta de finais felizes.
Mas não é que durante o diabo do filme eu só pensava em achar esses gifs (abaixo) com as quebras no roteiro que apareciam constantemente. Provavelmente postados naquela época, em que o gif animado era a commodity do meme e de onde provavelmente vieram inspirações para a criação do Three Frames.
Neste final de semana, assisti um filme confuso chamado Franklyn (ou O justiceiro mascarado no cadastro em português claramente feito por pessoas que não são pagas para assistir ou entender filmes). Como bem escreveu minha garota, o roteiro de Franklyn faz uma viagem imprevisível percorrendo todo um tratado de psicologia em forma de longa metragem.
Um dos diálogos entre o faxineiro de um hospital e uma garota que cometia sucessivas tentativas de suicídio é um dos pontos altos do filme:
I’m just saying that it isn’t just about your family, your friends, the people you leave behind. It’s about the people you haven’t met yet.
Eu só estou dizendo que isso não é só sobre sua família, seus amigos, as pessoas que você deixa para trás. É sobre as pessoas que você ainda não conheceu.
E aí, nesta segunda-feira, me deparei com a vida e seu jeito extreme agressive de dar tapas na cara e explicar a moral do filme:
xJeffersonx: Robinho? Robson: fala mano! xJeffersonx: te falar xJeffersonx: vc conhece o Ulisses? xJeffersonx: do Grajaú Robson: Ulisses? não me lembro, cara.. pelo nome assim, não lembro xJeffersonx: então xJeffersonx: ele é do RAP X HARCORE xJeffersonx: HARDCORE* Robson: Ah, pode crer, lembro pouco xJeffersonx: ele faleceu esse fds Robson: porra, mano, sério? como que foi? Robson: putz… xJeffersonx: teve uma parada respiratória xJeffersonx: ele sofria de Bronquite asmática xJeffersonx: esse cara aqui ó xJeffersonx: vc deve conhecer xJeffersonx: [perfil do orkut] Robson: não conhecia ele diretamente não, mas lembro dele de algum rolê em São Roque, acho. xJeffersonx: mano…cara ponta firme! xJeffersonx: um cara que pensava! xJeffersonx: um dos poucos xJeffersonx: rs Robson: porra, velho, que merda hein.. xJeffersonx: fiquei em choque pra caralho
Daí que no final de semana fui até o mini shopping do Morumbi Sul tomar café com minha garota. Estacionamos o carro, entramos e o lugar tinha um clima estranho, como se girasse em torno de algum acidente de percurso, de algum ato maravilhoso e beirando o divino. Não entendi direito para onde devia olhar. Espero ser atendido enquanto a Denise procura um lugar pra sentar, quando um dos funcionários, detrás do balcão clama em voz estranhamente alta, forçando com que eu e os outros clientes ouvíssemos: “a comanda do Brown tá aqui guardada, a do Brown tá aqui”. E aí entendo. Mano Brown tomava café numa das mesas de dinner. Disse a minha garota o que aquilo representava pra mim, como todas as vezes em que o encontrei pelo bairro, mas não espero que ela entenda, nem peço isso. Um dos meus únicos ídolos está sentado na mesa atrás de nós e eu não consigo cumprimentá-lo, o que implica certa dose de tietagem e invasão de privacidade. Não gostaria de ser incomodado enquanto tomo café domingo, seja onde for, ou seja quem eu for. É uma sensação estranha e um tanto psicótica esse platonismo amigo.
E o Brown foi embora de Audi ou de Citroen, indo aqui, indo ali, só pan, de vai-e-vem.