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Acordei no dia 25 com uma música na cabeça. Não era uma música de um disco, nem com link no youtube pra deixar o post mais bonito. Era uma música que marquinhos escreveu e fizemos à distância. Uma frase simples, de uma parte ainda mais simples que definiu tudo o que vivo, tudo o que tô querendo pra essa vida mais ou menos, pra cada desilusão que já tive, pra cada vez que tiraram a minha vontade de estar aqui com esse sorriso bobo, esse corpo desumano e esse bem estar aleatório que me faz essa pessoa que você provavelmente conhece. E o trecho dizia apenas: “say goodbye to bad memories”.

Feliz aniversário pra mim.

a/c Netflix

Robson Assis
30 anos
Brasileiro
robsonc.assis@gmail.com

Resumo

    • Intenso divulgador de séries antes delas se tornarem hype
      (i.e. Breaking Bad, Unbreakable Kimmy, Orange is the New Black, Orphan Black)
    • Acalmo geral sobre a chegada da última temporada de How I met your mother (e defendo o final maravilhoso)
    • Também acho Kevin Spacey o melhor garoto propaganda que um serviço poderia ter
    • Prefiro Claire Underwood loira

Formação

    • Uma adolescência assistindo séries para semiadultos
      (i.e Um Maluco no Pedaço, Full House, Marriage w/ Children, Anos Incríveis)
    • Sonho com uma faculdade igual a de Community (apenas pelo paintball levado a sério)

Experiência

    • Escrevi sobre o final de LOST aqui
    • Já fiz noites de filmes e escrevi sobre alguns.
    • Certa vez, classifiquei Pulp Fiction no gênero Gangsta Bíblico.
    • Assisti Clube da Luta mais de uma centena de vezes e Beleza Americana, pelo menos 50 vezes.

Atividades Extracurriculares

    • Comecei nesta vida de tagger ao baixar séries de torrents, P2P e só mudei ao conhecer o Netflix
    • Parei de ir ao cinema uma vez que o valor do ingresso às vezes é maior do que a minha mensalidade

Conhecimentos e Softwares

    • Antecipo falas de How I met Your Mother (qualquer temporada)
    • Uso chromecast para aprimorar a experiência

(A quem não entendeu nada, o Netflix publicou uma vaga inacreditável esses dias.)

Pormenores

Opa, mas é claro que escreverei quatro posts na sequência, tendo em vista que estou de férias fuck the police (e um agradecimento especial a Shhhu Caldas que me cobrou veementemente a periodicidade que eu prometi).

Portanto este é o segundo, apenas repleto de pormenores para dizer que Tyler quebrou o vidro da porta da varanda (gatos são específicos quando o assunto é quebrar coisas). Eu presumo que tenha sido Tyler porque (a) sempre é culpa dele (b) ele transformou a sala num ginásio de treinamento para as Olimpíadas dos Pets que acontecem em vai saber quando, uma vez que acabei de inventar o evento e (c) é sempre culpa dele.

Marla está cansada de tanta molecagem, quer apenas a sorte de uma mochila deitada no chão para acomodar suas patas, mas não, tem um irmão que derruba de cadeiras a equipamentos tecnológicos e ainda caga deliberadamente no chão da cozinha.

Não me entenda errado, Tyler é o mais fofo dos dois, quando está com preguiça e/ou simpático com as visitas (embora ele só tenha realmente conhecido meus pais, por ser este gato medroso que se escondia debaixo da cama quando ainda cabia lá e tinha mais alguém em casa) ou ainda quando deita sobre a minha face fazendo com que na manhã seguinte eu tenha mais pelos de gato no meu organismo do que ele nas costas. Porém, é o black block dos gato™ e necessita de intervenção do Estado.

Outro pormenor bom de contar é que hoje eu trouxe duas caixas de papelão do Sujão (meu fraterno apelido ao Ricoy de Cajamar) e agora Tyler está praticando salto ornamental nesta madrugada nada menos que fabulosa.

Tyler é Brasil nas Olimpíadas.

Bem, obrigado

O período em que deu-se a minha entrada de férias foi a semana mais maluca e psicologicamente confusa de todos os tempos tendo em vista que trabalhei como um revisor com metas inalcançáveis por uma semana inteira, fiz um rolê absolutamente lindo na véspera de feriado e no dia seguinte estava tocando com a banda que tá pra voltar, embora nunca volte verdadeiramente, numa noite em que tomei duas ou três intervenções de amigos e acabou dando tudo certo no fim das contas e no dia seguinte ganhei cervejas de Fefa e vimos a ocupação da Hilda Hilst comentando sobre o absurdo de você ter uma vida dedicada a arte e depois de anos da sua morte as pessoas passarem a venerar uma folha da sua agenda com um desenho tosco que você fez enquanto falava no telefone com a moça do Mappin pra saber se dava pra trocar aquele presente da sua tia que você ganhou e não servia.

Em uma semana a vida passou a ser uma Cajamar no sentido de que esta cidade tem mais subidas e descidas do que jamais poderia imaginar, eu moro no fim do morro, dá pra ver os arco-íris e toda a neblina cobrindo a cidade, por exemplo.

Faz tempo que não curtia a sensação do novo. A sensação de primeiras vezes, de não saber como lidar com a situação. Não sei se é melhor que a monotonia, mas certamente é mais divertido. Estou feliz, em muito tempo. Embora isso não queira dizer muita coisa, afinal, a felicidade é ponto de vista, passageira, cobradora e motorista (desculpem por isso).

Sinto meio que um feriado mental, não sei se é uma boa expressão, mas é como se minha mente me desse uma folga, como se o mimimi do overthinking já não fosse mais tão pesado.

Vai tudo bem quando a gente não se tortura tanto.

E estamos aqui chuva negra, paramos de crescer, passamos a envelhecer, a se degenerar. Meus dentes quebram toda semana e eu já não sinto muito que vou durar, essa é uma verdade que digo apenas para mim (e pros meus milhares de leitores, beijo brasil).

Desculpem a melancolia, passou um Edgar Alan Poe aqui por quinze segundos. E fica o aviso para Camila que o clube da depressão da madrugada, aparentemente, está de volta por 20 dias úteis, vemk me abraça.

Hora da aventura

O estado de transe é meio traiçoeiro, meio fugaz, de mentira. Ele apareceu ontem quando eu tava ouvindo a trilha de a vida secreta de Walter Mitty e, numa conversa, sendo esta pacata pessoa que faz piadas pra esconder o embaraço. E eu disse pra mim mesmo que era hora de saber fazer isso direito. Isso de viver. De ser displicente. Do direito de se esborrachar. Porque não é tão legal quando a gente se esborracha o tempo todo. Quero também o direito de estar de pé quando tudo o que restar for sonho e purina cat chow para ambientes internos. E talvez olhar pra frente e talvez sorrir desse jeito, como o kevin spacey no final de beleza americana que, olhando pra parede, vislumbra tudo o que passou até chegar ali (e aí toma um tiro na cabeça de um redneck homofóbico e gay enrustido, mas aí é outra história).

Um por dia

Taí, uma meta. Ou eu não escrevo mais nada, nunca mais (o drama é um patrocínio da segunda-feira).

Preciso tanto te contar umas coisas, cara. Tô compondo músicas depressivamente depressivas, mas prometo compartilhar quando eu achar que elas estão minimamente legais e um pouco menos constrangedoras. Só eu e o violão, porque a vida ensinou que se pans é mais fácil assim mesmo. Gastei com umas coisas do DX para gravar tudo em casa mesmo, mixar e levar para S. “””masterizar”””, o que quer que isso signifique para ele (eu sei o que significa, mas da última vez eu vi o cara abrir a música num programa e aumentar o volume, o que foi meio decepcionante).

Aderi ao 8tracks que é um serviço que ajudaria bem o John Cusack em Alta Fidelidade, criando listinhas de 8 músicas, embora eu ainda não tenha completado nenhuma, principalmente por não conseguir focar em listas simples e criar coisas como: “8 músicas funk com samples maravilhosos e/ou onomatopeias inesperadas que eu teria dificuldade em admitir que gosto” ou então “8 músicas de hardcore insossas e melancólicas milimetricamente projetadas para você não se punir tanto com a merda que deu a sua vida”.

Cansei de Cajamar, mas não da cidade, veja bem, aqui é lindo, as pessoas são bondosas e dão bom dia sem se conhecer, as coisas cheiram mato mesmo, cachorros de rua impecavelmente limpos e queridos (embora tenha um que me odeie e tenha tentado me atacar o que me impossibilita descer a rua a pé no momento). Cansei apenas pela sensação de estar longe de onde deveria estar, de ter compromissos no final de semana e ter que deixar meus gatos sozinhos (eles derrubaram a cadeira na porta de vidro no último fim de semana, calcule minha alegria – ou a alegria deles etc). É a primeira vez longe do Capão e eu certamente moraria aqui para sempre, embora tenha pernas pregadas nas quebradas da zona sul. M. descobriu ontem com os astros que eu tenho um sol voltado para a zona sul do meu mapa, nem o Racionais diria melhor.

M. ♥, a propósito, melhor pessoa em atividade.

2014

No fim das contas, um ano de reconstrução. Comecei 2014 arrumando a caverna, deixando com uma cara minimamente agradável e me preparando para um tempo maior do que realmente fiquei por lá. Começava o ano depois de um fim de relacionamento febril, torturante, sei lá se existe alguma palavra boa pra resumir toda aquela neurose.

Acabei deixando de lado o diário preto em que eu me exibia pra solidão, ouvi uma palestra de Kenan e foi em meio a tanto choro dentro das paredes que Marla chegou pra me salvar dessa escrotidão. E estava lá eu, com um trampo novo, na mesma vida sozinha e autodepreciativa de sempre. Nessa época minha mãe sonhou que eu era ~anticristo e me culpou por tudo (o que certamente foi plagiado pelo Porta dos Fundos esses dias).

Comecei a trabalhar longe. Quer dizer. Eu já trabalhei longe. Em lugares que tinha de pegar trem, metrô, ônibus que passava pela estrada. E dessa vez me superei, passando quase dois meses indo do Capão Redondo a Cajamar, acordando às 3h30 da manhã por causa do horário bacana do fretado. Somo isso a todo aquele choro que ainda tava em casa, toda aquela angústia nas paredes, toda aquela solidão da feijoada de sábado. Já não havia mais fantasmas, eu era o fantasma. Aí, better leave town né mano.

Daí eu tinha uma casa nova, num emprego novo numa cidade nova. E uma sala cheia com minhas de coisas espalhadas pelo chão. Minha mãe fazia um pão com salame enquanto eu ajudava meu pai a colocar as coisas no lugar. A casa era só minha mesmo. Eles estavam lá porque vão ser sempre assim.

Me lembro que deixei de escrever aqui nessa época. Copa do mundo, pré-eleições. Não era bem a falta de assunto, era mais a falta de vontade aliada a uma preguiça insuportável das opiniões alheias. E de repente, num dia que acordei sem despertador, fiz café e coloquei um radiohead no spotify, percebi que estava tudo bem.

2014 foi o ano em que eu tinha de ter levado mais coisas a sério. Foi o ano em que saí do Sig Sauer também, a última banda em atividade. O ano em que eu deixei de comprar carne no mercado (e abandonei a recente prática da linguiça calabresa em cubinhos). Tentei o vegetarianismo, na verdade ainda tento, mas não me liberto dos fast-foods primários.

Foi o ano em que passei a viajar 45km e pagar dois pedágios para encontrar meus amigos. O ano em que tirei o Mastodon e coloquei no Sensação ao vivo sem a menor culpa. 2014 provou que esquecer os traumas e ver a vida por outro ângulo que não seja o de minha plena miséria fez/faz as coisas andarem pra frente de verdade. Fez com que eu me enxergasse uma pessoa no espelho. Ainda que uma pessoa carregada de bagagens emocionais não resolvidas, um malucão™ que acredita ao menos em si mesmo.

Portanto começarei 2015 com uma esperança-monstro no coração.

Obrigado a todo mundo que leu isso, ou que leu qualquer coisa neste blog atemporal, nada fictício e completamente despretensioso.

Tadinho

Algumas vezes tenho um medo repentino da morte. Algumas duas ou três vezes por dia, pelo menos. Não o medo do terror, do apagão, mas o terror da inexistência. Toda a decepção que daria familiares e amigos, morrendo de uma causa banal como ter pedido uma pizza que parou-lhe o coração, “tadinho”.

Um terror de coisas comuns, como quem vai dar comidas para os gatos antes de descobrirem minha tragédia. Então eu penso nos gatos sozinhos, se acomodando sobre o meu corpo distorcido e já involuntário. E os trâmites financeiros. Minha conta negativa, o smartphone novo que preciso pagar para minha mãe, meu limite estourado, quem vai ter de lidar com isso? Vou embora e ficam aqui as minhas inconsequências financeiras. Partiu desta devendo, “tadinho”.

A morte é essa coisa pouco prática para todas as partes. Não é como se fôssemos embora e houvesse um processo que tomasse conta de tudo, sumisse com os corpos instantaneamente. Imagina que louco se ao invés de pagar todas essas pequenas contas, reconhecer corpos e assinar papéis, tivéssemos apenas que lidar com a falta insuperável e única de alguém que esteve sempre aqui e agora não está mais. É preciso borrar de lágrimas documentos impressos em papel sulfite, comprar flores do tiozinho antes de entrar no cemitério, talvez até acertar com alguém o preço do jazigo. Não podia bancar. Morreu cedo, “tadinho”.

Já que adentramos este lado do meu cérebro, outro pensamento que sempre me ocorre é o fato de que, cinquenta anos depois da sua morte, as pessoas vivas que vão lembrar de quem você foi já devem estar praticamente todas mortas. A não ser que você marque a história de alguma forma. E convenhamos que gastando tanto tempo em empregos e pequenas diversões a gente acaba meio que sem disposição para marcar a história de alguma forma.

Cinquenta anos depois da sua morte você poderá contar nos dedos as pessoas que se lembrarão das suas principais conquistas. Daquela vez que acertou o enigma do garçom naquele bar atrás do shopping Morumbi. De como foi legal aquele show do Foo Fighters no Jóquei em que vocês roubaram uma placa na saída.

Vai ter mais gente numa democrática manifestação pró-ditadura (sic) do que gente lembrando das suas pequenas e ínfimas glórias perante a história. Não tinha tempo, “tadinho”.

Campanha de vacilação

Desde que mudei para a linda, pacata e funkeira cidade de Cajamar estou buscando todos os meses no site da prefeitura alguma informação sobre a vacinação de cães e gatos local, uma vez que fica meio inviável ficar viajando com os gatos no carro por muito tempo (“meio inviável” pra eles que não se sentem bem com o calor de dentro do carro, eu mesmo acharia ótimo vê-los tomando vento na cara – desde que de maneira segura obviamente não me julguem, credo vcs).

Daí teve um mês que eu não acessei o site deles. Sim, o mês antes do natal, o mês da Black Friday, o mês em que pegam a cabeça do redator de e-commerce e jogam aos porcos e depois devolvem. No mês de novembro não acessei o site da Prefeitura pra saber se já havia alguma data disponível.

Tendo isso em vista, gostaria que adivinhassem em que mês foi a campanha de vacinação.

Valendo.

Cracking Music Chronicles #2 “Home, Money, Love”

Adquiri o costume de colocar um som do celular durante banhos no escuro (já contei dos banhos no escuro? Talvez a melhor maneira de pensar na vida). O EP do Better Leave Town é realmente a escolha mais eficiente para o estado de espírito em que me encontrava nos dias mais pesados desse ano.

Já adianto que esta certamente é a banda que mais ouvi em 2014 também. Já falei pra muita gente que é o novo Foo Fighters, que devia abrir o show daqui, banda de estádio, cara, banda-de-estádio! Um som tranquilo, embora com guitarras distorcidas e muito sentimento, uma banda linda, pra mim, capaz de shows em grandes festivais, banda que não dá pra entender como pode ser desconhecida, ou pouco famosa, ainda que nos meios hardcore seja uma das grandes.

Home Money Love traz três músicas tão completas com os sentimentos complexos de olhar sua companheira reclamar do trabalho e tentar acreditar que vai ficar tudo bem, que o dinheiro vai dar, desejar um dia bom, mesmo sabendo que o trabalho vai ser uma merda, que vamos ficar tristes de ver o dinheiro ir embora com o vento. Em “Memories and numbers” eu estava no chão do box, lamentando cada sonho e cantando “and I hate myself for all the plans I made, for things that never change”. Talvez não haja saída. Era escuro, era água caindo nas costas e a sensação de não ser nada.

No ano passado, por muitas vezes tive vontade de quebrar a casa inteira. E não digo isso poeticamente, digo isso porque pensava em como estaria a estante por cima do sofá ou a geladeira da porta estourada, mesa da cozinha, meu pequeno armário, eu sentia uma indescritível raiva e “Mr. Banana Monster” me trazia de volta, ainda sendo uma bem triste, uma balada sobre alguém que perde “who’s gonna be the first one to cross that door?”, eu tentava me levantar, dizendo a mim mesmo que as coisas precisavam ser do jeito que viriam e “good night, sleep tight”.

Landless Hearts me zerou. Com a empatia por uma canção feliz que diz “Just give a man a place to go like a reason to live. So take this reason and he will drown set adrift on his own fears”, me levantei, tomei uma água gelada no rosto, a coisa parecia revigorar a vida, eu já cantava os backing vocals “cold eyes, staring inside”, vendo a mim mesmo uma luz dentro que parecia vir do infinito, mas vinha do vizinho que acabara de entrar no banheiro da janela que dá pro meu prédio.

Porque a vida é bem menos milagrosa e poeticamente bela do que a gente acredita.