What’s up, doc?

Eu tenho isso com consultas médicas.

Acontece sempre que você está do lado de fora aguardando chamarem seu nome naquelas cadeiras infantis confortáveis esperando que o(a) médico(a) seja ultra paciente com seu problema atual, entenda seu lado, passe a mão na sua cabeça, diga algo parecido com “pois é, eu sei como você se sente”, lhe entregue um pacote de doces no final e diga, “seja um bom menino e tome os remédios, ok?”.

É então que, de dentro da sala, uma voz furiosa ecoa pelos quatro cantos da clínica dizendo seu nome. Ela precisa ser furiosa para ecoar, pois o médico está sozinho lá dentro e o último paciente possivelmente com algum problema de ordem mental deixou a porta quase encostada. E no segundo antes de levantar você pensa porque diabos esses consultórios nunca avaliam a necessidade de sistemas de som e microfones nas salas de consulta. Você não culpa o médico por não ter feito o esforço básico de levantar e ir até a porta. Você não pode culpar alguém com uma voz tão assustadora.

Você também não quer mais entrar no consultório, mas acaba levantando apenas pelo frio na espinha que aquela voz alta, dirigida e ríspida lhe provoca. E no fundo você sabe que não existe uma forma dessa voz alta, ríspida e dirigida lhe acariciar a cabeça dizendo que entende seu problema. Não há outra forma, você vai ter que abrir a porta com um sorriso de esperança e enfiar na cabeça que é tudo o que você tem. Lá dentro, em segundos, vão estar juntos você, seus problemas atuais e a dona de uma intimidadora voz cansada de ouvir problemas menores e indicar xaropes e que certamente não vai lhe dar um pacote de doces quando terminar de escrever a receita.

Starts e atitudes

Eu assistia a Discovery e veio um desses comerciais de programas que são exibidos sábado de noite e ninguém assiste porque, bem, é sábado de noite. Era sobre um cara que frequentava lugares inóspitos da humanidade como tribos indígenas, ou vilarejos isolados na floresta, esse tipo de alucinação.

E o apresentador falava sobre o programa, quando lançou: “é importante conhecer esse mundo que daqui há alguns anos não vai mais existir.”

Comecei a pensar nos meus possíveis filhos. E não sei como, cheguei ao pensamento quase febril de que um dia eles teriam de conviver com esses personagens babacas dos desenhos animados de hoje.

Foi então que tomei essa louvável decisão e acabei baixando 195 episódios de Pica-Pau de 1940 a 1972 e as cinco temporadas dubladas da Liga da Justiça.

Porque, né, nego entra na minha mente com uma frase e espera que eu salve a humanidade?

Vida de Sitcom S01E01, “As neo senhoras”

[claquete, cena 1, neo senhoras no metrô]

Voltava do trabalho no metrô, sentado bem verão (e apostando que ‘bem verão’, essa gíria do meu amigo Nebi, um dia vai pegar) ao lado de duas neo senhoras que conversavam sobre seus maridos e me forçaram a abandonar a leitura como se eu tivesse que prestar atenção no que diziam.

Falavam dos seus respeitáveis cavalheiros. Juro que tentei dormir durante o processo e não ouvir a conversa, mas não era possível, dado o nível de ruído que as duas produziam. Reclamavam de como eles eram rudes, de como se portavam, de suas roupas:

– Outro dia ele veio caquelas bermudas jeans, ele tem um monte, mas menina, são aquelas que vão até as canela (olha a apostila fazendo sentido aí, amigos)
– Jura? Ah, o meu também!
– É, mas vai até lá embaixo, eu digo pra ele que quem usa essas coisas são aqueles manos com aquelas calças largas…

[primeiro olhar de canto de olho para mim]

Nesse momento, a neo senhora que falava percebeu que eu era uma dessas pessoas que usam calças largas e, em segundos, tranquilamente tentou reverter a situação:

-…e que usam aquelas botas grandes, sabe!?

[segundo olhar de canto de olho pra mim]

Preciso dizer que eu também estava de botas ou fica implícito?

[risadas aqui]
[corta]

Cidades para Pessoas

Ontem, como um patrocínio da greve da CPTM, trabalhei em home office (obrigado, internet, abs), tudo depois de uma ingênua e mal sucedida tentativa de me locomover até a empresa de ônibus. Numa conversa no MSN sobre o medo da quarta temporada de Breaking Bad ser a última, o amigo Fábio sugeriu que eu tivesse vindo de bike, mas pelo jeito até a ciclovia estava de greve (e eu consegui imaginar os seguranças me barrando, ‘não, não vai entrar, tá fechado, não dá, não pode’, ‘mas amigo, não é pra pegar trem, amigo, olha a bicileta aqui’, ‘não dá, não dá!’). Tudo isso, claro, num mundo ideal em que eu tivesse uma bicicleta.
E aí, trabalhando com o SPTV ligado, passa uma matéria sobre o prefeito de Copenhague que saiu por aí bem verão com a reportagem da Globo tentando usar a faixa reservada para bicicletas, ficou com medo e tal, reação bem normal pra quem vive numa cidade que tem 350km de faixas reservadas aos ciclistas. E o Kassab, inovador como sempre (NOT), está reservando uma faixa de trânsito exclusiva para quem tem duas pessoas ou mais no carro.

Deu pra notar uma atenção maior ao trânsito, agora que estamos quase entrando num colapso com tantos carros na cidade. É um debate muito grande, envolve economia, cultura local, não mexer com os pequenos culhões da classe média, essas coisas grandes e confusas. Mas que está perturbando a vida na cidade, isso já deu pra sacar.

Embora os ciclistas sejam tão chatos quanto vegetarianos e essa galera que usa mac segundo o e001, inovar é muito mais que começar a pensar em abrir as faixas reservadas a bicicletas durante a semana. Se o trânsito de São Paulo tem solução, não sei, mas tem gente bem interessada em descobrir.

Em defesa do Bullying Pedagógico

Não sou muito afeito a comentar assuntos mais polêmicos, principalmente os que estão na moda, nas revistas, no Fantástico etc. Gosto de deixar cansar na TV e então talvez procurar alguma coisa no Observatório da Imprensa. Nunca comentar, nunca.

Aí, o Bullying.

Gente falando que era menosprezado na escola porque tinha orelhas grandes, era gordo, usava óculos, era nerd, era negro, usava roupas baratas e de doação. Aquele hit do menino jogando o outro no chão foi um estopim que criou para cada um de nós uma carapuça e um convite para participar dessa rede de derrotados que deram a volta por cima e oh, olha só, vivem felizes, todos esses anos depois.

O que ninguém consegue ver nessa parada toda é que esse tipo de bullying é mais pedagógico do que traumatizante. Quando se chama o gordo de Bola, o orelhudo de Dumbo, a menina de sardenta, o tempo acaba criando uma capa natural de resistência, como o calejar de um osso que deixa de doer depois que você passa suas tardes dando chutes no coqueiro (isso é de um filme do Van Damme, alguém lembra?).

É assim que a gente cresce. É assim que o gordo começa a se aceitar como ser humano como todos os outros porque, diabos, dar ouvidos a esse monte de moleques é estupidez.

Estava eu outro dia, no aniversário do Fernam, aqui pelo bairro. Alguns moleques de 12, 13 anos, provocando os mais velhos, naquele velho estilo de falar merda e sair correndo. Até o mais velho se irritar, ir atrás, rasgar a cueca do moleque, colocar ele no porta mala do carro e cogitar a hipótese de amarrá-lo pelado no poste durante uma madrugada fria de maio (eu sei, um pouco demais, essa última não rolou).

Esse moleque vai crescer e vai aprender que existem algumas linhas que ele não pode ultrapassar, algumas regras que ele precisa seguir e que se xingar o pai do dono da festa e sair correndo ele pode voltar para casa sem cuecas. E vai passar o “ensinamento” pra frente, essa coisa bonita que vai fazer ele correr atrás de moleques mais jovens e tão folgados quando tiver 24 ou 25 anos.

Não trato aqui da coisa mais séria, porque bullying existe, sim, gente com problemas sérios de aceitação social que pode se estender pro futuro. Elas podem superar através desse caráter pedagógico, embora seja mais difícil se aceitar como quando o problema é mais do que uma orelha de abano, uma barriga grande ou as roupas que você ganhou na igreja. E, acredite, existem problemas bem piores, como você pode imaginar.

Todos precisamos de um chute na bunda. Afinal, a vida não é fácil. Acredito ainda que se houvesse um indivíduo no mundo completamente perfeito para nossos padrões sociais e não tivesse ouvido ou sofrido brincadeiras de mal gosto, seu desenvolvimento teria algumas lacunas que nada além da euforia diabólica de crianças cruéis poderia substituir.

It’s a trap!

Indicado no blog do Daniel Piza, do Estadão (e que, a propósito, ingressou no Twitter hoje mesmo), este artigo The Twitter Trap, de Bill Keller, editor executivo no NY Times, é cheio de boas aspas sobre as mesas redondas de nossa época, as mídias sociais:

“Last week my wife and I told our 13-year-old daughter she could join Facebook. Within a few hours she had accumulated 171 friends, and I felt a little as if I had passed my child a pipe of crystal meth”

***

“But before we succumb to digital idolatry, we should consider that innovation often comes at a price. And sometimes I wonder if the price is a piece of ourselves”

***

“Basically, we are outsourcing our brains to the cloud. The upside is that this frees a lot of gray matter for important pursuits like FarmVille and “Real Housewives.” But my inner worrywart wonders whether the new technologies overtaking us may be eroding characteristics that are essentially human: our ability to reflect, our pursuit of meaning, genuine empathy, a sense of community connected by something deeper than snark or political affinity.”

***

“Twitter is not just an ambient presence. It demands attention and response. It is the enemy of contemplation. Every time my TweetDeck shoots a new tweet to my desktop, I experience a little dopamine spritz that takes me away from . . . from . . . wait, what was I saying?”

***

“Whether or not Twitter makes you stupid, it certainly makes some smart people sound stupid.”

Tags for life

É hora de admitir.

Quando trabalhei na Berrini, lá se vão seis anos, conheci uma menina. Digamos que seu nome seja Sofia Amundsen, só porque ontem lembrei do livro. Para toda conversa ela tinha uma boa referência, bons livros, boas aspas, boas indicações de bibliotecas em Denver, literatura de cordel de épocas específicas e restaurantes japoneses no Tremembé. Gostava de U2 embora admitisse o blasé revolucionário, era uma pessoa boa de conversar, um suprassumo de correntes pop e disks entrega de pizza no Brooklyn para depois do expediente.

Todas as vezes que encontro alguém com seu estilo lembro de Sofia e classifico a pessoa, literalmente, em um grupo mental em que estão todos os semelhantes.

Isso é uma atitude bem errada em vários pontos se você prestar atenção porque (a) é dizer às pessoas quem elas são por meio de uma tag, sem dar a elas o direito de ser uma tag; (b) É dizer à Sofia que de tão clichê, seu way of life foi transformado num marcador de blog, ao menos pra mim; mas acima de tudo (c) isso de levar mecanismos de blog para a vida real já deve me garantir mais anos daquela terapia que nunca comecei.

Ainda em férias

Uma semana para voltar de férias. Se isso aqui anda abandonado, tem lá seus motivos: quando não estou por aí pegando trânsitos mortais às 15h (sério), estou em frente à TV colocando filmes e séries em dia (na pior das hipóteses), ou compondo -e quem diria que um dia eu voltaria a falar assim.

Volto semana que vem e já desisti das metas. Como bem disse o Lipe depois da final do Paulistão, ontem, ‘a gente programa as férias todas e no final fica frente a televisão coçando e achando foda’. Faz todo o sentido, mesmo com uma programação do tipo Um maluco no pedaço, Todo mundo odeia o Chris, Vale a pena ver de novo etc.

Mas tem o MTB, que estou pensando seriamente em tirar, mesmo com os itens ‘acordar cedo’ e ‘pegar fila’ fora da lista do que fazer nas férias. E tem essa mostra de cinema suiço no CineSesc e CCBB (só a Denise mesmo), que parece ter alguma ou outra coisa legal, vamos ver. Não é o In-Edit, que perdi feio pras inconstâncias e leis de tempo-espaço, mas dá pra passar.

***

Semana passada conheci o amigo Toninho Moura. Marcamos de ‘tomar uns bons drink’ [] no Ton Ton, em Moema, que estava fechado e, avaliando o contexto mais tarde, não era tão receptivo e acolhedor quanto o barzinho de esquina no qual passamos uma noite fria bebendo cerveja e trocando idéias sobre a vida, o universo e tudo o mais.

Conexões importantes essas, não? A gente vive achando que não vai conhecer as pessoas e de repente lá estão elas na sua frente com seus dogmas, seus conhecimentos literários e parecendo com o Danny de Vitto na medida em que você fica mais e mais embriagado. O cara é incrível, sabe de cada personagem de seus contos mais do que você conhece seus próprios colegas de trabalho, para dar um exemplo mais simples. Gente fina, desse tipo mais difícil de encontrar por aí.

Uma satisfação, mesmo.

***

Lendo o texto do Leo sobre conhecer o pai da Sandra lembrei que volto a trabalhar na semana que vem. E segue aqui o raciocínio de como cheguei a essa lembrança.

Minha mudança de local de trabalho foi até agora meio conturbada e sem diretriz, saca? Primeiro mês no novo lugar conheci algumas pessoas, passei batido para várias outras por toda uma dificuldade de me adaptar a gente nova sem me exaltar, fazer piadas demais, passar por fanático religioso ou alcoólatra, essas coisas.

E agora vem as férias, quebrando todo um ciclo (não é uma reclamação, eu realmente precisava esfriar a mente que vinha num funcionamento corporativo contínuo desde 2009).

Espero, ao voltar, poder fazer as piadas certas, admitir meu cristianismo envolvendo ‘Deus, um delírio’ e dizer que bebo vodka com schweppes, que é um negócio socialmente mais aceitável que Caninha da Roça com Pepsi.

Que Deus me ajude. Ou não.

Tudo bem postar com pressa?

Olá amigos, estou aqui na Rego Freitas, esperando o horário na Matilha Cultural pra ver aquele doc que tinha dito no in-Edit. Faltam 17 minutos pra acabar meu horário da lan house, e nove minutos pra acabar meu horário do zona azul. So, lembrei desse post do tumblr que pode servir pra muita gente, como eu e aí está.

Vou tomar uma multa ali e nos falamos em breve. beijos.

Tudo das últimas semanas

Primeira noite sem preocupação de trabalho no dia seguinte. Férias, finalmente. Adiaram, não pagaram, mas cá estou eu em casa com minha “galera”, que se resume em uma pizza, uma garrafa de vinho, o HDMI, e uns 14 Lucky Strikes.

Não sei marcar exatamente o ponto em que as coisas pareceram mudar de lugar. Mas de repente tudo mudou, como naqueles clichês de pagode do Chrigor. Tem a ver com vir trabalhar mais perto de casa, eu sei, me reacostumar ao trem e sentir pena de quem precisa ir para o trabalho de carro, sem julgar, mas poder pegar o trem com sono e lendo aquele Montaigne foi meu grande acontecimento desse ano.

A semana conturbada do meu aniversário também ajudou. Entrou tanta coisa na minha cabeça que agora estou conseguindo filtrar o que deve ser útil manter por aqui. Só não tenho mais certezas. De nada. E nunca me senti tão bem a respeito de tudo.

Deixei de postar com frequência, mas preciso arrumar um jeito. Talvez quando terminar Friends (Estou na oitava temporada, o Joey está apaixonado e, olha, acho que vou ver tudo entre hoje e amanhã do jeito que isso anda).

E entrei no antigo blog da minha banda de seis anos atrás, lembrei de uma época que me achava o mais legal da banca por ser um poeta de versos sem sentido. Constrangedor lembrar dessas coisas. E não, nunca gostei de Legião direito.

Então, vá lá, as pequenas metas das pequenas férias:

  1. Ver três filmes no in-Edit (o Duardo me recomendou chamado The Last Poets, Made in Amerikka, um filme sobre o clubinho de poesia do Gil Scott Heron. Daí pra frente me empolguei e vou listar três pra assistir)
  2. Fazer um orçamento da manutenção da guitarra em algum Luthier da Teodoro
  3. Tirar meu MTB (ainda tenho traumas da faculdade, mas já faz cinco anos e eu entrei numas de que preciso superar)
  4. Fazer uma semana de Insanity, aquele programa de exercícios monstruosos que os moleques assistiam na Cultura pra ver as mulé alongando.
  5. Começar o livro novo, revisar o velho (se eu achar o arquivo) e ver quanto custa uma impressão estilo pocket book.
  6. Assistir sete westerns (ainda a escolher)

Já que fico por SP, vou marcar algumas coisas que não faço faz tempo, tipo ver os instrumentos na Santa Ifigênia e testar amplificadores valvulados que nunca vou comprar. Comprar um boné sem marca, se ainda existir aquela loja de bordados na galeria do Rock. Comer a mortadela do mercadão, talvez com meu pai, olha, que idéia. Talvez seja a hora certa de tirar proveito do Google Calendar.