IR 2011 e Scatman John’s Orchestra

Até 2010 eu vivi pagando alguém para fazer minha declaração do imposto de renda. Mas minha mãe algo me dizia que esse ano eu ia fazer sozinho. Em janeiro já estava pensando no assunto: “po, primeira vez, não sei como funciona, vou fazer bem antes do prazo pra não ter erro”.

Baixei o programa no mesmo dia. E comecei: “Vamos lá, nome, CPF, endereço, po, é bem fácil, é pra isso que esses merdas ficam cobrando 70 mangos de gente inocente como eu? Então tá, vamos lá… putz, mas título de eleitor, mano?”.

Abandonei até duas semanas atrás com minha mãe cobrando a parada como se minha vida dependesse completamente disso. Foi aí que, finalmente, achei o título de eleitor: “Aí sim, agora os valores. Mas e cadê os extratos de rendimento?”.

Novamente abandonei. Até ontem, quando o amigo Adolfo me deu uma aula prática passo a passo por uma módica caixa de cervejas cintra e me fez descobrir porque a gente paga esses seres de luz para declarar nossos impostos.

***

Claro, tendo uma aula de IR depois da meia noite, tive de dormir uma da manhã. De novo. OK, nos outros dias era só pra ver Friends.

E digamos que tentar dormir com uma obra funcionando ao lado da sua casa é a mesma sensação de ter um milhão de Scatman Johns cantando a introdução de “I’m a Scatman” do seu lado da sua cama:

Ainda bem que as férias começam amanhã. =)

Happy Birthday, Mr. President

São 27 anos nessa imensidão de vida. Quase três décadas pode-se dizer também. ’27 anos não são 27 dias’, imortaliza minha mãe. Não são. E cá estou. Finalmente num dia bacana, numa empresa bacana, escrevendo um post na hora do almoço. Lembrando da namorada. Dos amigos, dos velhos e bons, dos novos e sinceros.

Começo a rever o ano passado e vejo como estava perdido. O Koelho profetizou de manhã que 27 é a idade-chave. Não sabemos exatamente em que sentido, mas até agora neste pequeno balanço anual, tudo parece um grande recomeço.

Falo da banda nova, das músicas que tenho pensado em fazer, de ter que levar meus pais no aeroporto amanhã, de faltar uma semana pras férias, de estar incrivelmente bem mesmo com tantos artifícios temperamentais me impedindo. Por querer comprar o Primeiramão e procurar apartamentos para alugar no meio do caminho, por ter todo um plano envolvido nesse negócio de roomate quase marido. Por ter passado os dois últimos finais de semana recusando cerveja e querendo só uma paz estranha, solitária e sem vinculos quaisquer.

Hoje eu não ganhei carona, não saí pra almoçar com a galera, não acordei com uma dúzia de presentes, não recebi sequer uma ligação. Passei muitos anos fingindo ter um monstro apriosionado querendo morrer nesta data, mesmo com um monte de gente me ligando, vários presentes e comemorações. Hoje consigo dizer que meu reveillón particular (como alguém disse outro dia), é sempre uma grande data pessoal, mesmo sem festa, confete e presentes.

Feliz aniversário pra mim.

Sobre Fatores Extras

Algumas vezes vejo um homossexual extremamente feio por um conjunto de fatores que vão além de sua opção sexual e penso ‘porra, mas quem diabos poderia querer transar com esse malandro?’. Aí penso em postar a parada no Twitter e ser recriminado mortalmente, tomar uns 6 unfollows e seguir a vida, essas coisas.

Analise bem, entendo que meu hall de preconceitos só me permite relacionar homossexualidade à sexualidade e não ao amor ou ao sentimento, por exemplo. Mas não é um simples caso de homofobia, eu só acho que quando um cara é realmente muito estranho por esse conjunto de fatores que delimitam minha opinião pessoal, ele opta por uma parcela menos explorada dos relacionamentos íntimos.

Considerando que a relação homem x mulher é a relação usual do ser humano, ele escolhe participar do “grupo de escolhidos”, sejam gays, bissexuais, zoofilos (?) etc. Gente que vai aprová-lo por uma condição extra que vai além de ser ridiculamente horrível, que é o fato de optar pela homossexualidade, pela bissexualidade ou por fazer amor com seu cachorro. E eles o acolhem, o abraçam e formam esse novo nicho de assinantes da revista NOVA (ou da Cães & Cia, em casos mais extremos).

As usual, nunca chego a lugar nenhum com isso tudo e termino o raciocínio imaginando uma pesquisa encomendada pela Globo apontando o quanto decaiu o nível de beleza entre os homossexuais recém adeptos. E então procuro algo melhor pra desperdiçar meu pensamento.

Tablets e toda essa choradeira

Melhor atual definição sobre tablets veio num making of promocional do Xoom, o novo gadget da Motorola que teve pré-lançamento numa página lindona no site da firma. O vídeo é gringo e estava um pouco em cima da hora demais para legendar, mas esse trecho chamou muita atenção:

“Você pode fazer um tablet, mas dependendo da maneira que funciona o software, a experiência não é otimizada para um tablet. Então você sente que comprou um smartphone e que ele só não cabe mais no seu bolso.”

—Jim Wicks, Vice Presidente da Motorola

Certo que o Android Honeycomb (o novo sistema operacional dedicado a tablets) promete melhorar tudo, mas a verdade tá aí. Ou não. Realmente não faz sentido algum andar com um “smartphone de 10 polegadas” por aí. Também não faz sentido dizer: “vale a pena se a conexão for rápida” porque o fator tamanho não tem relação nenhuma com o fator usabilidade. E esse sou eu levando isso muito a sério.

Ter um tablet que rode o mesmo Android do seu celular não agrega. A não ser que você seja um aficcionado por exibir seus pertences por aí, como esses carinhas que ouvem sets de funk e sertanejo no metrô. Ou que você tenha quatro metros de altura e bolsos gigantes.

É justamente por não querer toda essa conectividade, interação, joguinhos, mídias sociais e câmeras de alta definição que eu ainda prefiro os tablets dedicados a leitura como o o Kindle ou o Positivo Alpha.

Tempo de partir

Limpar a mesa é um negócio zoadíssimo na hora de ir embora, tanta gente pra lembrar, tanto abraço pra receber, pensar na herança dos meus post-its, do meu adesivo cheio de ódio colado na CPU. Foi difícil tentar escrever qualquer coisa aos amigos e talvez seja melhor ficar apenas com seus pequenos adeus na memória.

Uma música pra hoje: Explosions in the Sky, Our last day as children, bem no climão de despedida do escritório. Instrumental e inadequado como o meu ‘até logo’.

E um gif, pra simbolizar minha reação de hoje enquanto não paravam de me dizer: ‘po, é amanhã, hein’!

Não consigo emocionar todo mundo como aquele post de despedida do Leo. mas fica para uma próxima, prometo estudar mais.

Notas da Mudança

Últimos dias no QG de produção web da Aldeia da Serra. Na sexta-feira estarei embarcando para um futuro inóspito do qual confesso estar num cagaço foda manter certo receio. A parte disso tudo, vou limpando os 13GB de música do computador daqui ao mesmo tempo que salvo toda minha vida corporativa num pendrive de 4GB que irá comigo para o headquarter da Vila Olímpia, de onde vou continuar os trabalhos (“os trabalhos”, Dona Ederlazil?).

Daí que tive que sair no almoço sozinho para ver pela última vez os lagos da Aldeia da Serra, os patos que atravessam juntos uma avenida que nunca soube o nome e as casas pouco modestas do lugar. Eu sei que “pela última vez” é só um drama corriqueiro e um refrão no NX Zero, mas ter a natureza aqui próxima todos os dias acostuma, sei que, uma hora ou outra, vai fazer falta.

Só para explicar o porque de estar no trabalho às 21h54 de quarta-feira, estou com dois cargos e tendo de zerar as pendências de um para poder pensar no outro, quer dizer…

E agora a gente fica aí esperando a sexta-feira e a cara de bosta que costumamos fazer nos primeiros dias em lugares quase totalmente desconhecidos.

Ser roubável

Eu criei uns tempos atrás uma medida social que define o quanto estou apresentável para o mundo, que se chama com “o fator roubável”. Quanto mais roubável eu estiver, mais bem apessoado estou para os olhos fortuitos da sociedade.

Não raro estou no shopping com a Denise e ela diz algo sobre como seria legal que eu me vestisse como aquele manequim da M. Officer quando eu respondo: “se eu me vestisse assim, até eu me roubaria”. De acordo com esse meu estudo (pff!) ser “roubável” é estar inserido no contexto, ao passo que ser “não roubável” é ser invisível, só outro pequeno ponto na multidão.

Há muito tempo trago comigo esse street knowledge, que me permite entender qual o nível em que fulano pode se considerar uma vítima de ladrões de relógio, de ocasião, sequestradores, golpistas etc. Em 2008 escrevi esse pequeno conto baseado numa história que o Wolvs me contou (sempre o Wolvs) e que, acredito, serviu de base para esse raciocínio provavelmente tão neurótico quanto o do casal mais sinistro que você já viu na sua vida.

A equação antes variava apenas de acordo com as roupas que você veste, mas outros fatores foram sendo incluídos com o tempo. Usar acessórios como iPod, ou o simples fato de ter um fone apregoado em seu ouvido já aumenta o coeficiente. Estar com o aparelho nas mãos, dependendo dos casos, dobra/triplica o número.

(nota: ouvir música em ambientes coletivos sem fone de ouvido acarreta sua imediata inclusão no grupo de infratores a quem esse post não se destina).

Ainda nas variáveis estão o carro que você dirige, os gadgets que você usa (OK, Macbooks são permitidos), as marcas que você veste, até as músicas que você ouve. Quanto mais holofotes em cima de você, mais riscos. Vale a lembrança de ‘mo money, mo problems’, do Notorious B.I.G. Por outro lado, quanto maior simplicidade, mais chances de ser apenas coadjuvante e passar batido, como diria Mano Brown em ‘Eu sou 157’ (how convenient?): ‘quem não é visto, não é lembrado’.

Para concluir, o fator roubável é só uma matemática mental boba que trabalha com todas essas contradições simples e citações de rappers. Você quer estar bonitão ou quer ser invisível? Como sempre, no final, você decide.

Droga, ‘N’

Era uma noite fria de outono, me encaminhava à casa de Leo Pollisson para encontrar amigos, tomar cerveja razoavelmente gelada e comer pizza de forno (e ouvir forró (?) Bem isso foi uma consequência que não vem ao caso aqui). Era noite. E era fria.

Vagava pelas ruas um tanto desertas de sábado à noite numa Brasilândia que começava a lembrar o velho oeste. Denise estava no carro comigo e conversávamos algo que não me lembro bem:

-…mas fulano é um músico fajuNto — eu disse.
-Fajunto? hahah, é FAJUTO — ela me corrigiu.
-Que fajuto, enlouqueceu? FaJUNTO! (a entonação era muito importante)
-Vamos tirar a dúvida quando chegar lá.

E aí, óbvio, todos me alopraram insistentemente endossados por meus 26 anos e meu diploma de jornalismo. desde então a palavra perdeu a graça, era “fajuto”, uma palavra toda nova, mas sem paixão, não era mais aquele fajunto moleque que eu aprendi errado na escola.

Essa é a história de uma garota nova que sem nada na cabeça quanto mais nessa cachola, anda dizendo por aí: “eu sou a tal” de como perdi a simpatia por uma palavra por causa de uma letra ‘N’.

Foi ele quem começou

Briguinha do século é essa entre Casey Heines e Richard Gale. Mais comentada que os três minutos de Silva e Belfort, tomou proporções épicas após a entrevista de um e o direito de resposta do outro.

Quando dois moleques brigam e as mães ficam sabendo (“As mães”, neste contexto, a Internet) ninguém quer ter começado a briga. Pega mal, é anti-jogo, dá castigo. Mas os fatos estão aí, um magrelo partindo pra cima de um gordinho, incentivado por alunos que filmam a cena.

Enquanto decidimos quem está certo e quem está errado, o gordinho continua humilhado na escola e revidando às vezes. Você não pode fingir que não sabia que isso acontecia. Ninguém pode. É assim que seguimos garantindo mais discussões sem conclusão para cada disfunção social entre seres humanos que encontramos no Youtube.

A palavra é superfaturamento

Daí que a Maria Bethânia ganhou incentivo de 1,3 milhão pra abrir um blog de poesia. E então o debate na internet gira em torno de gente da minha geração considerando isso um puta desrespeito e gente da geração anterior para quem somos todos um bando de garotos restart, dizendo que ela merece tudo isso por conta dos serviços prestados (sic) ao país.

Os blogs dessa gente são ameaçadores e ofensivos como o Jorge Furtado ou até fazem uma boa tentativa de reflexão, como a reprodução no blog do Nassif, mas eles chegam ao mesmo denominador comum: o pensamento de que criar um blog, fazer cinema e criar uma revista podem ser colocados na mesma colcha de retalhos da lei Rouanet.

Bem, analisemos superficialmente, como nos é de praxe.

Se eu fosse um cineasta, poderia justificar meus gastos com equipamento, cenário, atores, staff, figurino, iluminação, edição, montagem, sem contar a pós produção. Para uma revista, contratar jornalistas, diagramadores, editores, revisores, até gente atabalhoada para distribuir no farol, se necessário.

Um bom dinheiro. Mesmo se você quiser fazer um documentário sobre a vida e obra da sua mãe, é algo complicado que demanda conhecimento de técnica, aprendizado e esforço. Talvez por isso a sétima arte ainda seja um campo um tanto distante da orkutização (uso a palavra como significado de popularização para o contexto dessa epifania).

Com um blog como o da Bethânia e como toda a estirpe dos nossos, você não precisa gastar nada além de sua própria cabeça e uma conta no Google. Uma filmadora simples com Full HD, vai, pra não deixar tudo meia boca, talvez um microfone e uma hospedagem mediana, pro caso de muitos acessos. Dá pra comprar óculos novos também, pra fazer umas de que está se importando com o visual e que já deixou os anos 80 pra trás.

E.MAIS.NADA.

Agora nego vem colocar tudo no mesmo balaio como se todos precisássemos de 1,3 mi acusando blogs de não se importarem em ganhar dinheiro com o MinC (logo os blogs) e vêm comparar uma musa da MPB (sério, não sei de onde tiro esses clichês, eles simplesmente aparecem) com um bando de gente querendo escrever literatura que se perderá com os anos e os acessos negados das contas inativas? Não, ninguém quer ser a Maria Bethânia e não tem a ver com moral ou bons costumes, basta fazer as contas e descobrir que tem gente fazendo isso há tanto tempo e com excelência como o Sindicato dos Escritores Baratos (o nome nunca pôde fazer tanto sentido) e os agora provocadores 365 poemas por 1 real. Coloque na lista também O Bule, literatura na contramão. E, como disse, refaça as contas.

Ninguém está dizendo que a Maria Bethânia quer ganhar dinheiro fácil, estamos apenas discordando desse pensamento que o Blog da Bethânia merece ser criado e gastar todo esse dinheiro destinado a projetos culturais por um bem maior da internet. Será criado por um retrocesso, como os túneis que Maluf construiu em São Paulo, me ajudem com a palavra, é quando se usa muito mais dinheiro do que o processo demanda… Esquece. Minha geração está realmente perdida.