Zeitgeist, março de 2011

As pequenas coisas, sabe. Quando li aquele Rousseau, ele falava sobre a sociedade que existia antes de existir o conceito de sociedade. E fiquei pensando no que poderia ter sido diferente. Pensando se havia alguma uma forma do mundo ser um lugar para todos, agora sem aquelas idéias velhas e igualitárias.

Claro que havia. Hoje, tudo o que resta são conceitos dizendo que você tem que lutar por seus direitos e sonhos, correr atrás do pote de ouro, ser feliz, ter sucesso. E no fim de tudo a gente se perde. Quando lembro daquele dia, penso em velhinhos morrendo em hospitais, o que deve passar na cabeça deles que viveram muito mais décadas que nós? Será que, no final de tudo, correr atrás do pote de ouro ou de uma vida sensacional e eufórica nos faz plenamente satisfeitos? Ou será que ter coisas pendentes a executar em vida é a maldição do ser humano?

Não sei exatamente quem foi o escritor que disse que a gente passa tanto tempo no esquema padrão de trabalho, diversão e compromissos sociais que a gente se esquece de tentar descobrir o que diabos a gente está fazendo aqui. A gente esquece de pensar. E lembro agora do que a Marília Coutinho falava na matéria da Trip sobre gente que vai para a academia e pendura o cérebro no vestiário antes de começar o treino. Isso vai muito mais além. Acredito que exista quem pendure o cérebro em casa e nunca o leve para passear. Gente que o exercita aos finais de semana e feriados. Gente que guarde no porão.

É inevitável perceber a contradição da evolução humana. Ao mesmo tempo que criamos carros, aviões, máquinas que nos ajudem a executar trabalhos com maior facilidade, criamos um sistema social em que as pessoas podem ter empregos e vidas inteiras destinadas a não exercitar o cérebro. Tudo foi transformado em máquina, numa negação de sentimentos e questionamentos, numa negação à vida.

Talvez a galera dos feudos não estivesse numas de ambição. Talvez estivesse tudo bem, o mundo era essa rede de colaboração e parceria, todo mundo com o sorriso do Netinho de Paula na cara. E então eles amadureceram a idéia depois que o primeiro canalha decidiu trocar sementes de feijão por trabalho camponês. E daí pra frente a descensão, a história, o horror.

Se isso não tivesse acontecido talvez fôssemos apenas seres vivos, mais parecidos com os animais, vivendo em vilarejos no meio da natureza. E não haveria toda essa catástrofe, nem todo esse desespero, nem todas essas contas do Bradesco em que você possa depositar dinheiro aos desabrigados. Não haveria desabrigados. E então poderíamos chamar o planeta de nosso lar e ter todo o tempo do mundo para manter nosso cérebro no lugar e funcionando, que é onde ele merece estar.

Ou talvez esse seja só mais um texto que toca diversas feridas expostas da nossa época, embora não chegue a conclusão alguma. =)

Quando crescer quero ser a Amazon

Recebi uma lista dessas com comentários de clientes da loja. O cara que mandou teve o inacreditável trabalho de separar os 3095 pareceres em níveis de sensibilidade que incluíam “atraso de entrega”, “mau atendimento”, “preço do frete” & shit. Aí, claro, os filtros que me chamaram atenção imediata eram “nunintendi” (hype doTeletube?) e “bobagens, desconsiderar”.

O filtro “nunintendi” trazia um texto sobre mensagens subliminares com o número da besta numa piscina infantil de 666 litros. Fair enough. Alguma falta de coerência e neurose religiosa pode acabar com a dignidade que resta às pessoas.

Mas era no filtro “bobagens” que estava o plot twist deste texto. O cliente falava sobre um conversor digital. Começou explicando que a imagem é realmente boa, apesar disso não caracterizar nenhum mérito, já que a ÚNICA função do aparelho era essa. E então ele diz que o conversor tem poucas facilidades, liga e desliga sozinho, esquenta muito, o teste de paciência que é usar o controle remoto etc. Críticas simples, inclusive bem escritas em detalhes. Se eu fosse comprar um conversor digital no site, gostaria de saber que tudo isso acontece com o aparelho. Mas, óbvio (nas empresas de e-commerce), emails como esse que denigrem a imagem do produto acabam sempre no limbo das memórias coletivas e back-ups de e-mail.

Uma das premissas de QUALQUER loja de e-commerce que abra suas portas é se parecer um pouco com a Amazon. Seja na qualidade dos textos ou apenas no botão de comprar com um clique só. O que ainda não foi descoberto é que a Amazon só é a primeira do mundo porque trata seus clientes como usuários de uma plataforma colaborativa de idéias e experiências em que se contribui criando reviews de produto por texto ou vídeo. Óbvio que tudo vai ser avaliado antes de ir pro site, mas se você der uma olhada na página do Kindle, por exemplo, vai ver que as pessoas falam abertamente sobre o produto, comparam, contradizem os textos publicitários, fazem do cu sanfona para contar sua história e fazem melhor para que ela apareça no site.

Esse é um problema cultural que envolve vários lados. Na Amazon, acima de tudo, o review de um cliente é avaliado pelos outros clientes, por isso chamei de “plataforma colaborativa”. É esse o mote que pode fazer o cara escrever algo sensato e deixar de lado frases soltas pejorativas que não acrescentem em nada. Isso permite que o cliente se esforce em escrever sua história da melhor maneira possível mesmo que denuncie a porcaria que é o tal aparelho.

Ainda assim, as grandes lojas de e-commerce nacionais possuem uma uma cultura de mercado que trata o consumidor como um núcleo aberto de onde se pode extrair dinheiro e não como a parte mais importante do processo de venda. Se o cliente achar o produto terrível e fake, ele é que não deveria ter comprado em primeiro lugar. Sabe, ignóbil assim? É jogar nas costas do público toda a deficiência dos aparelhos e fazer o cara se cansar em tentativas telefônicas para o atendimento.

Isso não é algo tão novo de se pensar ou tão complicado assim, o grande problema é que essas críticas, por mais construtivas que sejam só aparecem no site quando são positivas para a marca ou para a loja. Na cabeça desses mestres do varejo virtual, o cliente precisa acessar e ver apenas o que é bom no produto, se limitando a vasculhar o Reclame Aqui ou alguns fóruns confusos (no caso de aparelhos eletrônicos). As críticas ele guarda pra enfiar no rabo para as redes sociais, blogs e divulgação negativa boca a boca. Que é exatamente nosso limbo natural onde se perde todo esse conteúdo colaborativo que a Amazon tanto valoriza.

<-update em tempo-> Claro que depois de algumas trocas de e-mails, incentivadas pela chefe, o post rendeu mais do que eu mesmo poderia esperar. Rendeu debate, idéias e novas descobertas. Soube que o cara que mandou esse email está mais empenhado do que eu imaginava e que as idéias por aqui andam batendo muito. =)

As parcelas da Montanha Mágica

Alô Unidos dos maiores de 25 anos que ainda moram com os pais, canta, caaaaanta!

Uma das piores escolhas que poderia ter tomado aos 24 anos foi ter comprado um carro*. Sem moralismo ecológico pedante porque, como todos devem saber, os ciclistas são os novos vegetarianos. Afinal, o carro me facilita a vida de ter que trabalhar em outro município fora de São Paulo. Numa planilha de prós e contras, viver sua vida (namorada e trabalho, respectivamente) distante em 30 km do seu epicentro natural vence qualquer crossover envolvendo sustentabilidade ou sedentarismo.

E por que a pior decisão foi essa? Porque, bem, digamos que nunca fui um consumista inveterado nem um economista regrado, portanto passava meses sem economizar um tostão da minha voz do meu dinheiro. Coisa de chegar no final do mês e torrar o superavit salarial só pra não ver ele virar o mês. Parecido com o que a gente faz ligando para qualquer pessoa da agenda só porque os créditos vão expirar no final do dia. Talvez isso seja fruto de um sério transtorno psicológico. Palpite.

Então, logo, comprar um carro exigia um carnê com mais páginas que A Montanha Mágica. E exigia fidelidade Sam Gamgi style. Exigia, acima de tudo, um desprendimento incrível para acreditar na idéia dos meus pais de que os 60 meses do carnê passam sem a gente perceber. So, I tell you what, eles não passam. Passam rápido como os dois dias que você tem que trabalhar depois do carnaval. Como disse, não passam.

A conta que eu não fiz aos 24 anos é que em 60 meses eu estaria mais perto dos 30 e com uma dívida que não me permitiria respirar direito antes de dormir. Esse despreparo fez com que nomes como IPVA, seguro obrigatório e apólice não fossem mais só palavras escritas nas correspondências que eu pegava debaixo da porta junto com a Showbizz (lembram da revista?).

Passados três anos, cá estou eu tendo que diariamente voltar para a casa dos meus pais. Um lugar que já não tem mais a minha cara, já não tem mais a minha contribuição. Não por falta de amor, ou por dificuldades de convívio, afinal, a única coisa que me esforço atualmente é fazer com que eles não me sintam por ali. É tudo o que posso fazer até terminar o livro de Tommas Mann (carnê) sem um cérebro afetado por distúrbios e dramas financeiros muito traumáticos.

*Nunca falei isso pra ele, as consequências seriam catastróficas. A propósito, sim, eu converso com meu carro diariamente.

Roteiros sem finalidade

Eu e meu amigo Wolvs passamos dias pensando em histórias que dariam bons filmes, HQs ou vídeos de Youtube. Roteiros simples, sem pretensão “mas vai que um dia cola”, sempre acabamos com frases como essa. Como ele sempre faz paródias ou histórias absurdas como Zumbis mexicanos que trabalham com vampiros assassinos do Texas, quase nunca escrevo. Nem as minhas, que geralmente tratam da gente matando um monte de criuaturas exóticas. Mas não dessa vez. Essa história abaixo daria um bom comercial sobre o meio ambiente, para onde vai nosso lixo ou whatever. Não que faça todo o sentido do universo, mas vale a pena guardar, sabe como é.

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Cena 1, um desenho numa mesa / Afasta a tela – Um hipster em sua mesa, desenhando o que deve parecer com um projeto de balão infantil. Cheio de intervenções, linhas coloridas, arte moderna, abstrata. Ele vai até a cozinha e pega café, senta no sofá e liga Projected Twin, Post Secret. Acende um cigarro, começa a lembrar da infância. lembra de como gostava de balões felizes, com carinhas ou palhacinhos. Lembra de seu sorriso ao pegar o balão e olhar frente a frente.

Volta pra mesa, deixa de lado a folha com o desenho abstrato e desenha uma carinha feliz, bonita, sorridente. E sorri.

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Na fábrica que distribui os balões, ele chega atrasado, com muitas pastas, se desculpando como se o emprego dependesse disso. Chega a tempo de ouvir uma piada constragedora do chefe, que sequer lembra que ele está atrasado. Começa a mostrar os protótipos dos balões, que variam entre desenhos abstratos com nuvens, paisagens ou pessoas, “bonito para hipsters, sem graça para crianças”, diz alguém que incentiva outras reclamações. Com a reunião quase descartada, ele pega os desenhos felizes da noite passada. Todo mundo gosta. O chefe escolhe quatro, manda pra fábrica.

Cena final deste bloco, Chefe pega o balão com a cara feliz, que o personagem desenhou primeiro e olha com ar de reconhecimento.

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Cena da fábrica, operários silenciosos e barulho de máquinas, música lenta ao fundo, alguma gritaria para contrastar, a imagem fixa nas esteiras onde vão passando os balões montados e na linha de produção masiva. Termina o bloco com os pacotes de carinhas felizes do balão entrando em um caminhão de entrega.

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Uma menina caminha na rua com a mãe, felizes, passam em frente a uma banquinha de balões, na rua. O vendedor está enchendo os balões que acabara de receber. A menina fica encantada com a carinha, sorri, puxa a mãe para olhar, insiste, persiste e a mãe compra o balão. Passa o dia com ele, amarra ele na cama e dorme, acorda no outro dia e amarra ele no braço. Sua mãe diz que tem que mandar embora, senão ele murcha, prometendo comprar outro em breve. A menina aceita. As duas saem de casa, a menina olha pra mãe e, sorrindo, solta o balão.

Cena do ponto de vista do balão subindo, se afastando da mãe e da filha, de mãos dadas, felizes.

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Cena do balão continuando a subir e chegando às nuvens. Parece o fim do vídeo.

O balão começa a murchar e cair, vai em outra direção, volta, passa e acaba caindo sobre um prédio, já esvaziado. Chove forte. a água derruba o balão que vai se espreitando no prédio até o chão e então até a guia e então para o esgoto. O balão segue o fluxo em meio ao lixo e acaba num rio parado e completamente sujo, onde fica grudado junto à uma latinha amassada.

Um catador com um carrinho de mão e uma lança, passa, fura a lata e a joga dentro do carrinho, junto com o balão. Leva para casa o carrinho, deixa no pequeno ‘quintal em frente ao seu barraco. O balão descansa. Cenas da família rezando antes de jantar os restos de comida que estão sobre a mesa.

***

Madrugada, barulho de grilos, cachorros latindo e passos. Um nóia entra no barraco, rouba o carrinho com as latas. Joga furioso o balão no chão, que já amassado e quase sem cor, desce até a rua, passando por cantos, becos, ruazinhas, fica enroscado em portas, postes, até chegar à Avenida. Já é de manhã, o balão agora parado sem a ajuda do vento, parece descansar. Um menino passa e chuta, quase o rasga. Ele volta a voar pela rua. As pessoas passando. O desenhista passa por ele e sorri um tanto transtornado pela cena. O balão continua…

Cena final, balão carregado pelo vento, passando atrás da banquinha de balões onde outra menina compra o mesmo balão.

Um amigo me disse no sábado

Conversávamos sobre como ele usava drogas e bebia sem critério e agora que ele decidiu mudar de vida, ele precisa focar no presente pra transformar o futuro, mas além disso tudo, ele precisa mandar o passado para o quinto dos infernos:

“Não importa o que eu fiz no passado, mesmo que eu tenha baseado minha vida inteira nisso. Eu só vejo gente por aí reclamando do passado, ou lembrando do passado como a melhor época de suas vidas. Mas essas pessoas não vivem o presente e não focam o futuro. Eu decidi parar, sabe, decidi mudar minha vida toda. Eu escolhi isso. Então esse sou eu e o que passou, acabou, morreu. Já não me interessa como eu cheguei nesse ponto. O negócio é daqui pra frente. As coisas que eu terei de fazer pra mudar minha vida vão ser feitas daqui pra frente, entende? O passado não vai me ajudar em nada, só vai dificultar as coisas, então eu não preciso de testes, eu só preciso de foco”

Eu editei umas gírias na citação para um melhor entendimento. Parece até um clichê motivacional óbvio, mas quando você vê a parada acontecer é bem mais emocionante do que aparenta.

Fair play do universo

Daí que, durante uma rotina comum, recebo uma dessas correntes que dizia uma oração bonita e afável sobre como às vezes pedimos nada daquilo que precisamos, sobre como tudo deve ter sua hora certa de acontecer. Aquilo começava a me inserir novamente na fé, recostava minha cabeça de lado nos ombros largos de Deus e dizia ‘tá tudo bem agora’. Mas, como sempre, ao final de toda essa limpeza espiritual, a multa:

AGORA ENVIE ISSO PARA 12 PESSOAS E VOCÊ TERÁ UMA SURPRESA MARAVILHOSA.

Em primeiro lugar, escolher 12 pessoas já é difícil para alguém que tem poucos amigos e relativos em contato próximo. E mesmo aqueles com algum contato, soa meio estranho mandar uma corrente, afinal, você sabe qual é a fama dessas pessoas que repassam correntes, certo? Eu jamais confiaria novamente em mim. Embora isso eu não tenha tanto que julgar, haja vista o terror psicológico que a última frase dessas correntes nos impõem.

Depois tem tudo isso de não querer mandar para os amigos ateus, agnósticos, ou que estão pouco se importando para a existência de Deus. São boas pessoas, acredite, mas simplesmente não se importam em pedir, agradecer etc. Você pode imaginar como seria copiar eles todos no e-mail, o fórum de discussão que aquilo ia se tornar? Bem, pelo menos todos eles reencaminhariam a mensagem entre si por meio das respostas anteriores, ainda que de uma maneira inconsciente.

Eu gostaria muito de ser benevolente e encaminhar os emails que me pedem. Acredito que isso me traria estabilidade mental, além de esfriar a cabeça, sério, não estou muito me importando para aquela surpresa maravilhosa que vai me acontecer em cinco minutos ou sete dias. Só o fato de tirar isso da minha cabeça já seria o suficiente. Pra você ver: Eu comecei a ler o e-mail tão empolgado e acolhido e terminei querendo que ele nunca tivesse existido.

O problema é que consigo lembrar de cabeça três ou quatro pessoas que receberiam isso sem pestanejar, sem me questionar se eu voltei a tocar na missa, essas coisas. Não consigo simplesmente mentir para os bancos de dados de Deus e encaminhar a mensagem reconfortante para meus quatro ou cinco emails pessoais, por exemplo, só pra fazer volume nas contas. Não é por mal, imagine, só quero acreditar que o universo trabalha em fair play comigo da mesma forma que eu trabalho com ele, entende?

Top 5 Filhos da Puta no trânsito

Um top 5 que me veio à mente hoje de manhã, pelo tanto de calhordas que encontro nas ruas a caminho do trabalho. Em boa parte são homens burros e não mulheres inexperientes, diga-se de passagem. Acorda, Brasil, os rótulos já devem ser trocados.

#5 O filho da puta que usa faróis de milha e Xenon – como se o mundo fosse uma filial de Sin City cujas luzes mal conseguem iluminar a cara do Bruce Willis. E aí ele brinca de deixar as lâmpadas pro alto, afim de protagonizar um espetáculo de luz e magia no meio da marginal pinheiros, numa confusa tentativa de ofuscar as noites do Jóquei e esquentando as costas do motorista à sua frente. Geralmente o cara tem um carro importado e quer te ultrapassar mesmo quando você está na velocidade máxima permitida na faixa da direita, ele acende o farol alto numa provável tentativa de enganar o seu relógio biológico que não entende mais se é dia ou noite. Tudo isso pra mostrar que você não é ninguém para atravessar a pista que ele trata como um tapete vermelho.

#4 O filho da puta ‘DEAL WITH IT’ Daí que aquele V.U.C de entrega pára no final da rua pra descarregar e interdita o local. Você tem que se acostumar com isso, pois ele não pode fazer nada, é o trabalho dele. Ou aqueles caras que estacionam em duas vagas no shoppings e estacionamentos em geral. Ou aqueles outros que querem conversar com as meninas do pedágio, sabe? Esse tipo de gente não liga de parar o carro na sua frente e ir comprar amendoim torrado, conheço um caso em que o malandro saiu do carro para urinar no meio do trânsito da Marginal Pinheiros. Óbvio, Murphy deu uma força. Ele esperou tanto pra fazer isso que, imediatamente ao sair do carro e começar a descarregar, o trânsito voltou a andar e ficou completamente constrangido no meio da multidão. Esses filhos da puta geralmente pagam.

#3 O filho da puta que só sai da sua frente antes do radar – Esse não é grave, mas irrita pensar que o malandro realmente acha que alguém ainda cai nessa. Vamos a reconstituição: Você está andando na faixa da esquerda, com alguma velocidade e tem um tiozinho na sua frente a 60km/h que segura toda uma horda de gente apressada, incluindo você. Pouco antes de chegar no radar (e aqui eu presumo que todas as pessoas que passam pelos mesmos lugares diariamente sabem onde ficam os radares da cidade) o tiozinho faz de tudo pra sair da sua frente, na intenção de que você, um apressado que deve estar puto, acelere com raiva e sem prestar atenção ao radar, garantindo uma multa. É comum também que o tiozinho dê alguma risada maquiavélica olhando pra você e comentando com outra pessoa, bem como é comum um cara de meia idade achar que está sacaneando o universo, rir e fingir uma pose like a boss qualquer. Eles sempre riem e se fazem de superiores porque quando você passa eles, automaticamente, eles pensam que você ultrapassou os limites de velocidade quando na verdade você pode apenas ter acelerado mais 5Km/h e saído da situação com uma raiva desconcertante.

#2 O filho da puta que não dá seta – Esse não precisa explicar, acredito. Você precisa avisar quando vai atravessar de faixa, certo, praticamente todas as pessoas do mundo, mesmo as que não dirigem, sabem disso. Agora nego troca de faixa como se estivesse numa partidinha de Cruisin’ USA no shopping, manja? Além disso, existem diversas categorias dessa filhadaputice, cujas três principais são a) o fulano que vira o volante antes de dar a seta ou de olhar para o lado, sendo esta a mais comum e digna de perdão se o safado assume a culpa, b) o fulano que faz os três movimentos num só: dá a seta, olha pro lado e vira o volante ao mesmo tempo, geralmente achando que está com a razão absoluta e c) o cara que joga o carro na sua frente e acha OK porque você deveria estar prestando mais atenção etc. Todos filhos de uma mesma puta.

#1 O filho da puta que buzina em congestionamento – Cara, sério. Essa é uma característica que, se um dia eu tiver uma filha e ela levar o namorado em casa, eu terei de questionar se o malandro buzina quando o trânsito pára. Porque olha, não dá pra confiar nesse tipo de gente. Caro futuro candidato a genro, se o trânsito não está andando, eu tenho certeza que o cara da minha frente ou mesmo todos os 3.670 carros na minha frente também não necessariamente optaram por estar ali. Sempre imagino que essas pessoas buzinem tanto com a mesma prerrogativa da torcida que tenta ganhar o juiz no grito. Uma pessoa que buzina dessa forma indiscriminada quer tratamento especial, como todos os outros, mas quer também convencer todos os motoristas ao seu redor de que aquilo ali dá pra melhorar, é só cada um fazer sua parte e buzinar como se não houvesse amanhã. Quase um manifestante Geisy Arruda style. Deve ser por isso que sempre tem alguns influenciáveis que entram no embalo.

Explica, Discovery

Acho que a grande diferença entre a minha geração e a de meus pais se baseia em metalinguagem, análise crítica e auto questionamento. Acredito que as pessoas como eu que eram jovens nos anos 70 não se importavam tanto em pensar em determinados aspectos de suas experiências, ou não se importavam tanto sobre como era feita a produção de livros, filmes e dispositivos culturais em geral (ok, ‘dispositivos culturais’ eu aprendi num edital do governo).

Estava assistindo um programa da Discovery que se chama Casal Selvagem. Nele, um homem e uma mulher se jogam em lugares perdidos do mundo como uma savana africana, florestas da América do Sul ou ilhotas no meio do oceano índico e mostram como sobreviver para não ser picado por mosquitos que transmitam malária ou comido por jacarés.

Gosto muito deste tipo de programação, embora não acredite no que isso poderá me ajudar um dia, visto que, numa hecatombe apocalíptica, eu, o gordo que fuma e corre menos que o resto da humanidade, tenho chances reduzidas de me salvar.

Estes programas são compostos pelo seguinte casting: o casal, protagonista, que vai caçar, montar o abrigo com folhas de bananeira e correr dos leões; uma equipe de câmeras-man que acompanham, provavelmente dois, no máximo três, tendo em vista o jogo de câmeras, mesmo à noite, por exemplo; e um helicóptero que faz vídeos aéreos. Preste atenção no helicóptero, ele será bem útil ao final deste texto.

Se todo o programa é seguido por câmeras-man, eles é que deviam receber os louros. E devemos refletir também: se o casal está no meio de uma tenda de folhas acovardados pelos perigos de um lugar misterioso, o que dirá dos câmeras, que durante todo o processo de montagem desse abrigo estavam apenas registrando tudo?

O casal passa três dias no lugar e, quando começam a se ambientar, vão embora. Funciona mais ou menos como meus finais de semana no litoral. No terceiro dia, um helicóptero vasculha a região em sua busca. OK, agora vem a dúvida: como o programa pode apresentar imagens aéreas no seu decorrer e depois alegar que um helicóptero vai vasculhar o local em busca da equipe, supostamente desaparecida?

A não ser que a produção do programa tenha contratado águias selvagens formadas em audiovisual para fazer as imagens aéreas, algo não encaixa direito em toda essa história.

O Doom da Vida

Acabei de voltar do banheiro com isso na cabeça, tive o insight quando coloquei a chave no trinco. Nossa vida é uma versão dramática e boring daquele jogo que era febre no final dos anos 90, o Doom. Portanto, não, eu não errei o título deste post, é só um outro distúrbio que tenho de criar trocadilhos para títulos, como diz a bio na barra lateral.

O que é a vida, senão um Doom sem armas? A sentença não vale para traficantes cariocas, deixemos isso claro. Na verdade, a vida é uma versão de The Sims inspirada na visão em primeira pessoa de Doom. Porque viver é ter uma ficha pra jogar, certo?

E eu lembro do João, que hoje não tem mais blog, infelizmente, me mostrando um artigo na Superinteressante que dizia existir 43% de chances da nossa realidade ser virtual. E lembro de How I met your mother dizendo que todas as estatísticas que terminam com ‘3’ (tipo 43%) são falsas para impressionar mulheres. E eu lembro daquele What is Reality da BBC que eu ainda não tive coragem de assistir inteiro. É claro que é tudo parte da mesma conspiração, não poderia ser mais óbvio.

Um clássico pensamento inútil de quem não tem mais o que fazer a não ser dar contribuições para o layout novo do blog do Leo, que ainda não estreou com post novo, mas já está pronto.

Não é preciso dizer que esse texto não faz o menor sentido e vou terminar por aqui antes que eu tome a sábia decisão de deletar tudo.

Exercício de Depressão

Imagine que você vá morrer amanhã. Sem tragédia, um acontecimento qualquer, fique tranks. E então acredite que, por uma intervenção mística, você fica sabendo da fatalidade com um dia de antecedência. O dia de hoje.

Comece a pensar nas cartas que escreveria para cada pessoa que conhece e se importa. Não pegue caneta e papel, apenas imagine o que iria escrever para cada pessoa. Considere também que ninguém mais vai ler a carta, além do destinatário. Tudo o que estiver escrito ali será contado para aquela única pessoa.

Não é preciso escrever a carta num papel de verdade, pois isso torna tudo mais verdadeiro e perde o foco através da subjetividade que você imprime em cada assunto tratado, em cada sujeito. Digamos que, para minha namorada eu ia querer ‘decorar’ a carta com palavras bonitas para que criasse algo que ela jamais esquecesse, mesmo que isso não representasse exatamente o que eu gostaria de dizer. E não é esse o intuito. Você quer apenas dizer o que está em seu coração. Sem bons adjetivos, sem piadinhas riscadas sem floreios. Dessa vez é só você e as palavras que começam a sair quase que involuntariamente.

Para tudo isso é preciso adentrar a sua existência, mergulhar em reclusão, apego e individualidade, coisa de trinta minutos resolve. Você precisa apenas pensar no que deixaria de lembrança aos seus. É simples, mas pode ser também assustador. Você pode se pegar escrevendo cartas para pessoas que não imaginaria e tocando em monstros adormecidos que nunca deu maior atenção.

Não se esqueça dos lenços de papel. Sério.

Essa é uma forma que encontrei de descobrir meus erros, assuntos inacabados, o amor que não sou capaz de distribuir, as dívidas emocionais eternas, as desculpas que esqueci de dar, os segredos que deixei de contar. Apesar de um exercício triste e depressivo como sugere o título, me foi muito útil para descobrir onde realmente estava meu coração, or shit like that.

Fiz isso no início de um pequeno surto depressivo, dias atrás. O processo é meio doloroso, talvez até um pouco angustiante quando você começa a pensar porque diabos você simplesmente não fala isso para essas pessoas e acaba logo com essa porcaria. Mas quando terminar, você estará mais relaxado do que prometem as seções de yoga compradas no Peixe Urbano.

Pode não funcionar pra todo mundo, mas pra mim foi excelente. Não vou fazer com frequência porque preciso de paz, uma casa vazia e fazer isso toda semana pode se tornar um costume entediante, quando não, repetitivo. Mas hora ou outra, naqueles dias que estiver com um tiquinho de afasia e depressão, volto a ‘escrever’ minhas cartas.

Weirdos e Thom Yorkes do mundo, uni-vos!

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Por alguma razão lembrei do Living Funeral que aparece no filme The Weather Man, uma obra-prima para a depressão com o Nicolas Cage.