Mens sana in corpore sano

“Quando você vai cuidar do corpo você pendura o cérebro no vestiário. Esse problema se tornou ainda mais sério nas academias quando as máquinas de movimento guiado explodiram. E movimento guiado não precisa ser pensado. Isso é algo muito sério.”

[…]

“Minha história é a de alguém que foi obrigada a não acreditar em limite para sobreviver. Os limites que contaram para mim que existiam.”

Marília Coutinho, irmã do cartunista Laerte, bióloga ph.D e uma das maiores halterofilistas do Brasil, conta em entrevista à revista Trip como, através da dedicação ao esporte, se livrou de um distúrbio mental destrutivo que a acompanhou por quase toda sua vida.

Até breve, Tia Paula

Minha tia Paula daquele post do mês passado partiu ontem, na parte da tarde. Deixou apenas um quase-marido aproveitador, dezenas de afilhados e uma família em polvorosa na noite do velório, que no Axixá-MA, cidade natal dela e de minha mãe, ainda acontece em casa. Como ela tinha uma brutal mania de limpeza, para distrair do climão funebre numa visão mais otimista e atabalhoada dos fatos imaginei que, seja lá onde estiver, ela deve estar atacada de raiva com aquele monte de moleques jogando catota de nariz no chão e entrando com o pé sujo de lama nos quartos.

Lamentações a parte, são nesses momentos que você repensa toda a sua relação com a família. É só quando eles morrem (tentei evitar, mas taí a palavra) que você começa a se culpar por todas as vezes que decidiu não fazer aquela visita nas férias ou aquela ligação de aniversário. E isso acaba se tornando autoflagelação quando você descobre que nunca mais terá essa chance.

É triste, eu mesmo me peguei com lágrimas nos olhos duas vezes na frente do PC ontem, depois de saber. As coisas que ela ensinou como comer carne seca passada do ponto, ler Castro Alves e não me sentir estranho por querer estar em casa sozinho, essas só serão enterradas junto comigo.

Sempre nos dizem frases como essa da imagem que abre o post, embora tudo ganhe um sentido mais bonito e abrangente quando você considera que o ato de fazer algo notável não implica se tornar mundialmente conhecido por ter inventado a roda, mas sim tornar-se imortal através de lembranças pequenas que você marca em cada pessoa que conhece.

Dentro do meu relicário da vida, minha tia Paula jamais deixará de existir.

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A imagem é do I can read, que sempre tem um quote bonito para seja lá o que você estiver pensando em escrever.

Seu Valetim

E, de um minuto pro outro, meu pai fica destroçado por estar longe de minha mãe enquanto ela acompanha minha tia no Maranhão, meu irmão enche o saco dele até não poder mais, e eu não posso ver a Denise, pois tenho que voltar pra casa cedo e remediar essa situação escrota, o que tem causado um desconforto extra no relacionamento nas últimas semanas. Eu pago o tempo perdido, prometo, só não sei quando vai ser.

Tudo isso, no Valentine’s Day, em que eu adoraria estar perto dela. =(

{mesmo sem fazer a menor idéia do que se trata essa data}

Ilha Bela em família

foto de celular, a única que consegui salvar.

Minha primeira visita ao litoral norte de São Paulo estava atrasada quase 27 anos e me lembrou muito o fato de eu só ter conhecido Los Hermanos depois que eles estouraram com Anna Julia, largaram a gravadora major, foram cultuados pelos hipsters e se tornaram off topic nas conversas de bar. Todos já conheciam o enredo da história, portanto, na segunda-feira, nada que eu contasse soaria incrível e tudo o que preciso evitar é gente cagando regra a respeito de algo que eu tenha gostado tanto.

Assunto é litoral norte, né? Voltemos, antes que isso aqui descarrilhe.

Chegamos por volta de 9 e meia da manhã na fila da balsa* sentido Ilha Bela. Depois de quase não aguentar mais esperar, passamos para a bela ilha e paramos num quiosque que ficava… uma praia após a praia do Julião**.

Lugar incrível, calmo, crianças reservadas (mesmo os mais pentelhos como o Pedrinho, meu sobrinho), cardápio inebriante, cerveja gelada, um cruzeiro da MSC passando no fundo, 1979 DO SMASHING PUMPKINS NO SOM AMBIENTE! Cara, o lugar me ganhou nos primeiros 10 minutos.

Acho que o universo girou para esperar que eu fosse até lá com a família da Denise, para que além de tudo isso, eu pudesse começar a me sentir parte integrante da obra, saca?

Ainda tem alguns lances confusos nisso de misturar as famílias, mas algo aconteceu quando eu me percebi naquela mesa de quiosque com meu cunhado sem diálogos recatados, ouvindo as histórias do meu sogro — tão legais quanto as do meu pai — limpando os pés sujos de areia do Pedrinho. Para deixar mais claro, foi esse ‘algo’ que me fez escrever ‘meu sobrinho’ quando falei do Pedrinho pela primeira vez nesse texto.

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*O termo Fila da Balsa virou uma piada imediata por parecer um xingamento ‘foi esse filha da balsa desse garçom aí’ etc. Não temos classe, amigo, supere.

**Deixei o nome da praia aqui no segundo asterisco pois não gostaria de estragar toda essa linda história de belezas tropicais revelando que o lugar se chamava PRAIA GRANDE. Sim, uma praia chamada Praia Grande no meio das belezas inestimáveis do litoral norte. Mas, como dá pra notar, não deu nem pra lembrar da muvuca, falta de água, gente feia e Sidra Cereser que só a versão sul litorânea desta praia pode oferecer.

Insights de banheiro e o Facepoop



Ou ‘Você não consegue um milhão de amigos sem escrever umas frases enquanto caga’.

Comecei a prestar atenção ao que essa galeré descolada escreve na parede dos banheiros.

Além das ofensas clássicas e dos excertos de auto ajuda (alguns eu desconfio que são escritos numa espécie de freestyle com trechos bíblicos e frases soltas do Gasparetto), o público deste tipo de serviço adotou também rabiscos com desenhos de mulheres nuas e órgãos genitais masculinos em seus posts. Clara eficiência de conteúdo despojado e indiscriminado.

Apelidei de Facepoop porque não vejo outra maneira de levar essa piada tão longe.

É a maior e mais barata rede social do universo, cujo único gadget para ter acesso é uma caneta bic ou uma hidrográfica (para contas premium). No Facepoop você pode deixar mensagens, textos, desenhos ou até zines (a Juliana Cunha tinha um).

Fontes diretas de confiança confirmam que o Google está interessado em patrocinar as portas com ad sense. Através deste programa, aquele pessoal do “Adoro homens, entre em contato 9999-9999” e “Moreno gato 23cm procura casal 9999-9998” já começou a fazer previsões sobre os preços da tarifa a ser cobrada neste tipo de publicidade até então gratuita.

Certamente mais um case a ser estudado pelos analistas de Social Media.

Deleted Quotes: ‘O senhor é meu pastor e nada me faltará’ é a máxima da falta de papel higiênico.

Muito incentivador?

Sem novidades sobre a mudança ainda, mas o que posso dizer é que as gavetas estão limpas, o porta trecos está esvaziado estilo geladeira (quando você come um pouco de tudo pra ninguém reparar) e a gaveta também, com exceção dos carregadores de celular, pasta/escova de dentes e o indispensável fone de ouvido in-ear da Sony que comprei numa promoção de minuto, de 68 por 20 mangos, falei sobre isso? Bem, agora falei.

Para o próximo malandro a ocupar esta sagrada mesa de webwritting pensei também em deixar como herança auxiliar um capítulo de O Suicídio, de Émile Durkheim, que mantenho guardado e leio de vez em nunca no horário de almoço.

Minha intução diz que talvez seja melhor levar pra casa.

A brand new start

*

E ouço meu coração discordar da mente pela primeira vez em muito tempo e dizer que vai dar tudo certo, pela simples descoberta de que ontem eu era só um garoto frustrado com o trabalho longe de casa e que hoje sou só um garoto com um trabalho melhor, digamos assim, há oito estações de metrô da minha casa. Sim, amigos, na mesma empresa, nessa mesma casa que me acolhe. Em 15 ou 20 dias, dependendo da doente daquela mina agilidade do RH, vou mudar de ‘filial’ para uma mais próxima de casa.

Isso invalida tudo o que vinha dizendo sobre procurar casas em Jandira —invalida também o fato de eu ter procurado camas box e estantes para livros como se minha vida dependesse disso— e agora só almejo uma melhor adaptação à velha cidade grande. O que significa (a) pegar metrô/trem e abandonar o carro durante a semana (b) me adaptar aos vale refeições mais baratos que o preço dos restaurantes, embora isso seja infinitamente melhor do que suportar aquela comida excêntrica** do refeitório daqui e (c) comprar uma mochila —que também já comecei a procurar como se minha vida dependesse disso etc.

E o rapaz do canto da platéia agora pergunta: ‘Mas, Robson, vem cá, então chega de murmúrios sobre o trampo neste estimado blog temperamental que tanto amamos?’ Quem sabe, amigo. O que posso dizer é que finalmente vou mudar para algo que me faça perder a cabeça, me dedicar, aprender, tudo de verdade, sabe, tudo mais real… ‘This is facts not fiction, for the first time in years’ [__].

A melhor parte de tudo isso é ter sido indicado por ter blogs há tanto tempo, por manter perfis em tudo quanto é rede, mesmo as que não uso (Plurk, I’m sorry, it’s not you, it’s me), por entender de um jeito menos superficial o que a internet quer dizer, por ser o cara que vai dar a idéia dos botões de compartilhamento no site e por todas aquelas estratégias de disponibilizar informação de maneira atrativa que ainda não sei exatamente como fazer, mas que vou acabar aprendendo por bem ou por mal.

Ainda não bati a sagrada meta de estourar no mundão com meu amigo Leo, mas esse, digamos assim, é um belo começo.

*A imagem eu achei no Objetos de Desejo
**O Leo é o gênio por trás do live broadcasting no refeitório.

Sam Gamgi wrote a recommendation for you

Devia eu acreditar que perdi aquele trabalho dos sonhos somente por não ser uma pessoa jurídica que emite notas fiscais? Não sei, mas é bom pensar nesse trecho da sua história como um capítulo de transição, como dizia aquela pequena conversa entre Frodo e Sam perto do final de As Duas Torres:

— Não gosto de nada por aqui — disse Frodo —, pedra ou poço, água ou osso. Terra, ar e água, tudo parece amaldiçoado. Mas nessa direção vai nossa trilha.
— É, é isso mesmo — disse Sam. — E de modo algum estaríamos aqui se estivéssemos mais bem informados antes de partir. Mas suponho que seja sempre assim. Os feitos corajosos das velhas canções e histórias, Sr. Frodo: aventuras, como eu as costumava chamar. Costumava pensar que eram coisas à procura das quais as pessoas maravilhosas das histórias saiam, porque as queriam, porque eram excitantes e a vida era um pouco enfadonha, um tipo de esporte, como se poderia dizer. Mas não foi assim com as histórias que realmente importaram, ou aquelas que ficam na memória. As pessoas parecem ter sido simplesmente embarcadas nelas, geralmente — seus caminhos apontavam naquela direção, como se diz. Mas acho que eles tiveram um monte de oportunidades, como nós, de dar as costas, apenas não o fizeram. E, se tivessem feito, não saberíamos, porque eles seriam esquecidos. Ouvimos sobre aqueles que simplesmente continuaram — nem todos para chegar a um final feliz, veja bem; pelo menos não para chegar àquilo que as pessoas dentro de uma história, e não fora dela, chamam de final feliz. O senhor sabe, voltar para casa, descobrir que as coisas estão muito bem, embora não sejam exatamente iguais ao que eram — como aconteceu com o velho Sr. Bilbo. Mas essas não são sempre as melhores histórias de se escutar, embora possam ser as melhores histórias para se embarcar nelas! Em que tipo de história teremos caído?
— Também fico pensando — disse Frodo. — Mas não sei. E é assim que acontece com uma história de verdade. Pegue qualquer uma de que você goste. Você pode saber, ou supor, que tipo de história é, com final triste ou final feliz, mas as pessoas que fazem parte dela não sabem. E você não quer que elas saibam.

J.R.R Tolkien, Senhor dos Anéis, As Duas Torres, cap. VIII, As Escadarias de Cirith Ungol

É certo que a vaga me faria extremamente mais feliz e menos noiado com relação a minha carreira. É certo que traria maior conforto financeiro. É certo que traria mais satisfação do que recategorizar produtos e pintar planilhas. É certo também que seria mais perto de casa, o que que não caracteriza grande coisa, tendo em vista meu deslocamento diário até o trabalho. Se houvesse uma vaga de agente de viagens na Terra Média eu possivelmente gastaria menos combustível.

Após a conversa, Sam e Frodo são traídos pelo Gollum (sim, esse sou eu dando spoilers) e levados direto a uma emboscada na teia de Laracna, a aranha gigante assassina e whatever. O ponto é: eles chegam ao final de sua história com sucesso e uma coleção de boas e terríveis lembranças. Acho que esse é o tipo de história que caímos, nós nunca devemos saber o final, mas devemos ter a certeza de lembrar toda a saga com alguma ternura.

O e-mail com meu currículo e a resposta negativa foi para a pasta Cold Case do Gmail, onde estão alocadas todas as mensagens parecidas com ‘olha, gostei de você, sério, vou guardar seu e-mail aqui para uma próxima oportunidade’. E assim continuamos a expedição.

São Paulo para todos nós

A frase do dia aqui na redação: Hoje é feriado no meu coração!less than a minute ago via EchofonRobson Assis
bigblackbastard

Falta um minuto para acabar o prazo oficial de comemorações do aniversário de São Paulo. Neste curto espaço de tempo, conto como foram as minhas.

Saí de casa para trabalhar com certo receio de não poder ver minha cidade no dia de seu aniversário. Atravessei a Régis Bittencourt e o Rodoanel com esse pensamento na cabeça. Ao chegar na Castello Branco, já tinha em mente as listas que preciso atualizar no trabalho e esqueci um pouco toda essa minha ingratidão.

Se você trabalha na Grande São Paulo, deve entender melhor o que estou falando. Osasco, Barueri, Jundiaí, Itapevi etc. Esses municiípios não são obrigados a tirar o dia de folga para o World Bike Tour ou para os shows do Anhangabaú, o que torna o dia 25, um tanto mais deprimente que o usual.

Com tudo isso em mente, estava preparado para terminar meu expediente e comemorar minha noite na Marginal Pinheiros, sentido casa.

E então, por qualquer infortúnio que prefiro não explicar em detalhes, me deparei com um carioca da empresa que trabalho. A primeira coisa que pensei foi nele dizendo que minha cidade não valia tanto assim, por ser do rio. Quando a gente tem uma auto defesa armada, é difícil redimir esses mini preconceitos sociológicos.

Ele disse que mora há quatro anos em São Paulo e, por trabalhar com entregas de caminhão, conhece mais a quarta maior cidade do mundo do que muito paulistano. Depois dessa discurso pedante, me aliviou dizendo que ama a cidade. Ama porque foi aqui que ele conseguiu estudar, conseguiu empregos que valessem a pena e uma real perspectiva de vida. Disse que a cidade fez ele mudar de vida de uma maneira significativa, de uma forma que ele mesmo não poderia prever que pudesse acontecer em sua história. Era o paulistano dream, na minha frente, patrocinando meu orgulho pela cidade natal.

Voltei pela marginal, como planejado, já com pensamentos melhores que os da manhã. Porque no dia 26 de janeiro, quando eu acordar para refazer todo o caminho até a Grande São Paulo, sei que a cidade ainda vai estar lá, de braços abertos, esperando de coração cheio os meus eufemismos mais simplórios.

O Reality da realidade

Ou ‘Minha sincera compaixão pelo Big Brother da vida real’

Como alguns de meus trinta leitores casuais devem saber, trabalho em uma redação para e-commerce, que fica situada dentro do centro de distribuição da empresa. O CD, como é chamado, consiste 90% no estoque, um galpão de não sei quantos mil metros quadrados e pelo menos 900 funcionários separados por turnos. Os 10% restantes são os outros setores, que devem ter cerca de 30/40 pessoas.

A galera que trabalha na parte de dentro do estoque é, digamos, excepcional. É de lá que vem as piadas e comportamentos mais dignos de virar hit do Youtube, além do som alto do rádio ligado pela manhã, provavelmente com a frequência emperrada na Band FM. Outra característica comum aos colaboradores desse setor é deveras insuportável: observar.

Sabe aquele tipo de gente que assiste a vida como se fosse uma novela das oito, ou como o Big Brother? Cada um de nós, as 40 pessoas dos outros setores que não são o estoque, nos tornamos personagens neste console de entretenimento que estes 900 criaram. E a TV deles, por assim dizer, vamos tratar aqui como banquinhos.

Cada vez que o horário de almoço consegue reunir um grupo de três ou quatro pessoas do estoque no ócio da tarde, pode ter certeza que eles vão analisar cada passo seu, assim que você passar por eles. Não são pessoas que passam por você encarando, ou coisa que o valha. Mas quando elas sentam nos bancos, é como se realmente pegassem o controle remoto para assistir um programa de TV, para debater com seus colegas o quanto aquela moça engordou ou que absurdo aquele cara casado do Fiscal ainda estar dando em cima da estagiária do RH.

Fico triste ao imaginar que, para este público sem acesso a interné como nós dos outros setores, isso deve ser o máximo de entretenimento que eles podem ter durante o dia.