Meu próprio festival de curtas

Meu patrão é uma figura notória, dessas que você encontra em entrevistas pelas revistas da Globo, desses que aparecem poucas vezes, mas está sempre envolvido em algo social e “povão” demais, pra provar que também é humano, gente da gente. Um cara que parece gente fina, sim, mas bilionário que é, nunca deu as caras neste escritório.

E aqui começa a divagação.

Estou no twitter, como sempre.

-Alô @chefe, muito legal a proposta do show do Jorge Ben, obrigado e continue motivando nossa equipe! É disso que precisamos!

Corporativo assim. Acho que não faria. Escreveria a mensagem, pensando em todos que iriam ler, aquela coisa de relações públicas de mim mesmo. Mas não faria. Enfim, isso é outra divagação, continuemos. A próxima cena sou eu recebendo um reply de agradecimento:

-Claro, @bigblackbastard, é um prazer trabalhar com gente disposta e confiável como vc. Em que setor vc colabora?

Aí trocamos dois replys e ele começa a me seguir. Semanas depois, me dá um RT numa mensagem qualquer sobre corporativismo, óbvio. Aí eu ganho uns 3.500 followers, porque, afinal, sou “amigo” do figurão.

A divagação começa a perder sentido e avança para a cena em que estamos nós dois numa mansão irreal para minha imaginação classe média, sentados em cadeiras brancas reclináveis à beira de uma piscina gigante, degustando um vermute francês que eu jamais conheceria de outra forma senão sentado ao lado do meu “amigão” billionaire. Aí levanto os óculos escuros na testa, me ajeito na cadeira e olho diretamente pra ele:

-Vão me aloprar lá na quebrada quando eu disser que tomei um Boissiere Dry na tua casa, man
-Leva uma caixa. Bebe com teus amigos no final de semana.

Agradeço, coloco os óculos de volta no rosto e olho para o céu. A câmera vai se afastando, começa a tocar Either Way, do Wilco.

Sobe a legenda.

Poucas

E aquela parada, sobre  o jornalismo e tudo o mais que escrevi dia desses? Bem, consegui concretizar uma entrevista. A primeira, real, de toda minha vida. E fiquei feliz demais com o resultado. Diego Bernal, beatmaker norte-americano. Um cara gente fina, exatamente da forma que eu esperava que acontecesse.

Leia lá.

***

Ontem, vendo o jogo num shopping próximo, estava eu, uma ilha rodeada de corinthianos por todos os lados, assistindo o fatídico jogo de domingo em que o São Paulo perdia de 2×0.

Eu fingia neutralidade – uma vez que a primeira impressão da galera ao ver um negro de calças largas e cabelo crespo é que ele seja corinthiano.

E de repente, um desses malucos (sempre tem um maluco vendo o jogo, notem) se levanta NO.MEIO dos corinthianos cantando:

-Puta que pariu! Libertadores o Corinthians nunca viu! E nem vai ver!

Vaias e xingamentos a parte, nenhum são paulino se levantou da cadeira para apoiar o fulano. Segundos depois, me levanta um corinthiano cantando de peito aberto um conhecido funk:

-Ah, que isso, elas estão descontroladas!

E eu, que nunca tive nada contra o Corinthians, invejei pela primeira vez sua torcida espirituosa.

***

Daí que o trampo pagou um show do Jorge Ben, dia desses, exclusivo no Citibank Hall.

E a piada recorrente entre eu e a Denise nos dias que antecederam o show era a seguinte:

-Sabe que horas são?
-UMAPARAUMA, HOMEM GOL!

¬¬

O caminho pisado

Levantar pra ir ao banheiro, ver no relógio que faltam 35 minutos pra hora de acordar. Voltar a dormir, acordar de seis em seis minutos para ver se a hora chegou. Banho, café, primeiro episódio de New Adventures of Old Christine na Warner (troquei o Faccioli matinal quase sagrado depois de assinar a TV a cabo) e então, sigo dying até o carro.

Campo Limpo, semáforos infinitos, Régis, Rodoanel, trânsito, Castello, escritório.

Bater o ponto e pegar o comprovante (sim, aqui temos comprovantes), ligar o computador, Senha, que vai expirar em 10 dias, alerta o computador. Enquanto ele liga, levanto pra encher a garrafa de água. Volto a sentar e lembro que preciso lavar minha caneca. Sou incomodado 7 vezes, contadas a dedo, até que os colegas de trabalho começam a entender porque sempre digo que seria mais produtivo em home office.

Leio e-mail pessoal, Twitter, Orkut e Facebook, respectivamente. Ausente no MSN, praxe. Leio o e-mail corporativo e resolvo as pendências iniciais até me dar tempo de abrir o Google Reader com a ameaçadora sinalização +1000. Likes e shares depois, janela do MSN Tiago diz “fumar?”.

Procuro algo bom na minha pasta de músicas, atualmente, discos que peguei na Post Rock Community. E então o dia começa.

Pra posteridade, se um dia alguém quiser saber dessa rotina matinal.

para ler ouvindo: Paralamas do Sucesso, o Caminho Pisado

Serra, uma catástrofe

Tem um cara que diz:

O Serra é o seguinte. Se tiver duas crianças na frente dele, uma pobre, magra e outra rica, gordinha e ele tiver um pedaço de pão, ele joga pra cima e faz aleluia.

Esse cara, amigos, é o Mano Brown.

Obrigado André Maleronka pela graça alcançada.

Atordoações

E aí, cara, peguei a credencial pra Bienal do livro de SP pelo site. A Núbia descobriu que redatores e todos os envolvidos podem pegar a credencial neste link aqui.

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Olha, cara, sério, queria reclamar do fluxo de trabalho na empresa em que vivo (12 horas diárias), mas não vai rolar. Além de não conseguir explicar em minúcias para os dummies no assunto comércio eletrônico, não vai resolver muita coisa além de um desabafo do lado errado do confessionário.

Então eu poupo a humanidade dessa leitura menor.

Macaulay Culkin feelings aos 26

Pai e mãe viajaram essa semana. Maranhão. Motivos familiares. Não imagino o que vai ser quando voltarem, uma vez que o dinheiro – por grande infelicidade – não nasce em árvores.

Fato é que acordei terça-feira quase três horas antes do horário habitual para deixá-los em Congonhas. A viagem até lá foi um agradável debate com meu pai sobre qual a melhor alternativa para ir até o aeroporto e uma listagem incontrolável de desespero da parte da minha mãe me fornecendo 538 conselhos que já esqueci.

Dá pra se sentir com 15 anos.

E ai, né, Estrada de Itapecerica, João Dias, Santo Amaro, Vereador José Diniz, alguma coisa acontece no meu coração. Percebi que faz muito tempo não ando por São Paulo. E estou com saudades.

Ao deixar os dois, vê-los pelo retrovisor carregando as malas e lendo as placas de Embarque me deu uma inexplicável sensação de que farei qualquer coisa por eles até não poder mais.

We don’t even care, as restless as we are

Partindo para o final de semana em Mongaguá, SP. Sim, chovendo mesmo. Porque a gente escolhe os finais de semana a dedo. Daí que levo na mala só umas roupas e a vontade de desligar essa vida intranquila. Claro, levo uns livros. Goethe, As duas torres e Rota 66. No rádio 311, Cake, Beck e o resto de Bob Dylan.

E por aqui, fiquem com meu camarada Billy que vem para o festival Planeta Terra 2010.

Shakedown 1979, cool kids never have the time
On a live wire right up off the street
You and I should meet
June bug skipping like a stone
With the headlights pointed at the dawn
We were sure we’d never see an end to it all

And I don’t even care to shake these zipper blues
And we don’t know just where our bones will rest
To dust I guess
Forgotten and absorbed into the earth below

Double cross the vacant and the bored
They’re not sure just what we have in the store
Morphine city slippin’ dues, down to see that

We don’t even care, as restless as we are
We feel the pull in the land of a thousand guilts
And poured cement, lamented and assured
To the lights and towns below
Faster than the speed of sound
Faster than we thought we’d go, beneath the sound of hope

Justine never knew the rules
Hung down with the freaks and the ghouls
No apologies ever need be made
I know you better than you fake it, to see
(rpt 1)

The street heats the urgency of now
As you can see there’s no one around.

Turbine sua carreira

Stalkering no almoço. Não posso entrar em detalhes, mas acontece. Nego acha que a vida é um grande LinkedIn e qualquer “fala, mano” de três Mississipis é motivo pra garantir o networking. Considero o silêncio constrangedor caro demais.

Mas nego vem com papo caído me convencendo que o melhor a fazer é popularizar seu nome nas empresas próximas. E eu, na moral (só na moral), to cagando. Mesmo que seja legal manter uma boa relaçzzzzzzzzz… Espero não ter que encontrar horários vagos para comer. Almoçar com meu fone de ouvido e um bom disco do Bob Dylan vai estar na wishlist de 2011.

Bússola moral

Em todos os campos da vida existe aquele grupo de pessoas ou aquele ser humano único com o qual você se guia, que faz você seguir em frente mesmo que as coisas estejam ruins, mesmo quando tudo parece perdido.

No meu emprego anterior eram muitas pessoas desse tipo. Houve estágios, claro, os primeiros amigos que fiz, cujo baque foi implacável quando saíram em grupo.

Já no estágio final, tinha minha garota por motivos óbvios e quatro amigos próximos que conversavam sobre música e fumavam juntos sempre com alguma teoria sobre como usar o dinheiro que ganhássemos na loteria.

E aqui, na empresa seguinte, hoje, tinha o Guto.

Um cara sem precedentes. Um cara que você não critica e, se ver alguém criticando, sai de perto ou bate de frente. Melhor, um cara que qualquer um sai em defesa, mesmo se ele estiver errado – o que não deixa de ser impressionante.

Existe um parâmetro inusitado em quase todas as amizades: a forma como elas acontecem. Com o Guto, pra não entrar em detalhes, foi num dia em que não pude voltar pra casa e acabei com ele e outro amigo num boteco no Butantã, com jukebox de samba, tiozinho conversando com amigo imaginário e senhoras bêbadas cantando Lecy Brandão com o copo levantado, respingando o suor de seus passos confusos numa cadência imperfeita.

Bonito assim.

E hoje, ele sai. Melhor, claro. Oportunidades da vida que corre do lado de fora dessas paredes pré-montadas. Fico num jogo de resta 1 foda, com o norte da bússola quase pifando e já sem saber, como Joe Strummer, se fico ou se vou. Ao menos resta o coração alegre e a esperança de poder conhecer outros nortes como ele vai continuar a ser.

Um dia desses

Sempre imagino a cena.

Faustão me convida pra ir no programa falar sobre a vida daquele que fez história com [espaço destinado a qualquer um dos meus sonhos]. E, no telão começam a aparecer amigos, conhecidos, gente que me apoiou, o circo todo.

E então eles aparecem chorando, mais que emocionados, sem saber o que responder quando o apresentador lhes pergunta se sempre apoiaram o filho. Esboçam um “sim”, afinal, é um programa de domingo, cujas feridas não devem ser expostas. Só o choro, a emoção simples, a dor por nunca ter enxergado em sua criança algo além de outro produto natural do mundo a nascer e morrer despercebido, sem alarde, como seus antepassados.

Vou lembrar todas as vezes que meu salário aumentou e eles perguntavam se eu estava procurando ‘coisa melhor’ pra trabalhar. Cada segunda-feira como esta em que chorei no chuveiro por não suportar ser o primeiro a abrir a fechadura de cima, trancada de noite, antes de todos irem dormir.

Cada sombra que consegui ver próxima, cada cigarro que fumei por pura pressão. Cada vez que vi meu orgulho ou auto estima se atirarem pela janela por não terem mais lugar ali.

Vou controlar as lágrimas e responder por eles. Dizer que sempre estiveram ao meu lado em todas as decisões que tomava, dizer como me sentia protegido e pude enxergar o mundo não como uma estrada de mão única, mas como um anel víario cheio de saídas e possibilidades.

E termino aos aplausos da platéia, como naquela piada do Pagliacci: “Good joke. Everybody laughs. Roll on snare drum. Curtains”.

*desculpem, é só uma segunda-feira ruim.
** Cheguei no trampo tão desumanizado que nem vi que a Giselle tinha voltado de férias.