Scroll lóqui

Coloquei a cabeça no travesseiro e dei meu último scroll aleatório da noite, desses que você passa 5 posts e cai num cara falando do corinthians, ou que está assistindo breaking bad, ou que o Vingadores novo é o máximo. E eu daqui, com uma cabeça conturbada que já aprendeu com o tempo a ignorar o rancor como sugeria o Dexter (o rapper, não o personagem da série) num já longínquo 2005, me desligo de um mundinho maluco em que as pessoas estão eternamente em conflitos mútuos o tempo todo, por birras, por microlinhas tênues de amizade, aparências, caronas, esperanças.

Me incomoda a sensação de já não saber mais o que fazer aqui. Me bagunça a cabeça ver que todas as escolhas que fiz (mas principalmente as que não fiz) me levaram a um lugar tão pesado e tão distante quanto esse travesseiro cheio de culpa e pequenos remorsos. Tudo fica maior e mais confuso depois dos 30. Não é mais um pequeno detalhe bobo que vai lhe tirar o sono. Não é mais deprezinha e misantropia, é a incerteza do futuro, palpável ou inexistente que escancara a porta da sua ansiedade e vai fazer qualquer testemunha de Jeová ou vendedor de detergentes palestrar por horas.

Não, eu não tô fazendo sentido. Talvez seja só o final das férias, só o aniversário sábado ou só a vontade inacreditável de organizar a biblioteca do condomínio dos meus pais. Eu só espero estar com a cabeça e o coração no lugar neste ano que tá pra recomeçar.

a/c Netflix

Robson Assis
30 anos
Brasileiro
robsonc.assis@gmail.com

Resumo

    • Intenso divulgador de séries antes delas se tornarem hype
      (i.e. Breaking Bad, Unbreakable Kimmy, Orange is the New Black, Orphan Black)
    • Acalmo geral sobre a chegada da última temporada de How I met your mother (e defendo o final maravilhoso)
    • Também acho Kevin Spacey o melhor garoto propaganda que um serviço poderia ter
    • Prefiro Claire Underwood loira

Formação

    • Uma adolescência assistindo séries para semiadultos
      (i.e Um Maluco no Pedaço, Full House, Marriage w/ Children, Anos Incríveis)
    • Sonho com uma faculdade igual a de Community (apenas pelo paintball levado a sério)

Experiência

    • Escrevi sobre o final de LOST aqui
    • Já fiz noites de filmes e escrevi sobre alguns.
    • Certa vez, classifiquei Pulp Fiction no gênero Gangsta Bíblico.
    • Assisti Clube da Luta mais de uma centena de vezes e Beleza Americana, pelo menos 50 vezes.

Atividades Extracurriculares

    • Comecei nesta vida de tagger ao baixar séries de torrents, P2P e só mudei ao conhecer o Netflix
    • Parei de ir ao cinema uma vez que o valor do ingresso às vezes é maior do que a minha mensalidade

Conhecimentos e Softwares

    • Antecipo falas de How I met Your Mother (qualquer temporada)
    • Uso chromecast para aprimorar a experiência

(A quem não entendeu nada, o Netflix publicou uma vaga inacreditável esses dias.)

Pormenores

Opa, mas é claro que escreverei quatro posts na sequência, tendo em vista que estou de férias fuck the police (e um agradecimento especial a Shhhu Caldas que me cobrou veementemente a periodicidade que eu prometi).

Portanto este é o segundo, apenas repleto de pormenores para dizer que Tyler quebrou o vidro da porta da varanda (gatos são específicos quando o assunto é quebrar coisas). Eu presumo que tenha sido Tyler porque (a) sempre é culpa dele (b) ele transformou a sala num ginásio de treinamento para as Olimpíadas dos Pets que acontecem em vai saber quando, uma vez que acabei de inventar o evento e (c) é sempre culpa dele.

Marla está cansada de tanta molecagem, quer apenas a sorte de uma mochila deitada no chão para acomodar suas patas, mas não, tem um irmão que derruba de cadeiras a equipamentos tecnológicos e ainda caga deliberadamente no chão da cozinha.

Não me entenda errado, Tyler é o mais fofo dos dois, quando está com preguiça e/ou simpático com as visitas (embora ele só tenha realmente conhecido meus pais, por ser este gato medroso que se escondia debaixo da cama quando ainda cabia lá e tinha mais alguém em casa) ou ainda quando deita sobre a minha face fazendo com que na manhã seguinte eu tenha mais pelos de gato no meu organismo do que ele nas costas. Porém, é o black block dos gato™ e necessita de intervenção do Estado.

Outro pormenor bom de contar é que hoje eu trouxe duas caixas de papelão do Sujão (meu fraterno apelido ao Ricoy de Cajamar) e agora Tyler está praticando salto ornamental nesta madrugada nada menos que fabulosa.

Tyler é Brasil nas Olimpíadas.

Bem, obrigado

O período em que deu-se a minha entrada de férias foi a semana mais maluca e psicologicamente confusa de todos os tempos tendo em vista que trabalhei como um revisor com metas inalcançáveis por uma semana inteira, fiz um rolê absolutamente lindo na véspera de feriado e no dia seguinte estava tocando com a banda que tá pra voltar, embora nunca volte verdadeiramente, numa noite em que tomei duas ou três intervenções de amigos e acabou dando tudo certo no fim das contas e no dia seguinte ganhei cervejas de Fefa e vimos a ocupação da Hilda Hilst comentando sobre o absurdo de você ter uma vida dedicada a arte e depois de anos da sua morte as pessoas passarem a venerar uma folha da sua agenda com um desenho tosco que você fez enquanto falava no telefone com a moça do Mappin pra saber se dava pra trocar aquele presente da sua tia que você ganhou e não servia.

Em uma semana a vida passou a ser uma Cajamar no sentido de que esta cidade tem mais subidas e descidas do que jamais poderia imaginar, eu moro no fim do morro, dá pra ver os arco-íris e toda a neblina cobrindo a cidade, por exemplo.

Faz tempo que não curtia a sensação do novo. A sensação de primeiras vezes, de não saber como lidar com a situação. Não sei se é melhor que a monotonia, mas certamente é mais divertido. Estou feliz, em muito tempo. Embora isso não queira dizer muita coisa, afinal, a felicidade é ponto de vista, passageira, cobradora e motorista (desculpem por isso).

Sinto meio que um feriado mental, não sei se é uma boa expressão, mas é como se minha mente me desse uma folga, como se o mimimi do overthinking já não fosse mais tão pesado.

Vai tudo bem quando a gente não se tortura tanto.

E estamos aqui chuva negra, paramos de crescer, passamos a envelhecer, a se degenerar. Meus dentes quebram toda semana e eu já não sinto muito que vou durar, essa é uma verdade que digo apenas para mim (e pros meus milhares de leitores, beijo brasil).

Desculpem a melancolia, passou um Edgar Alan Poe aqui por quinze segundos. E fica o aviso para Camila que o clube da depressão da madrugada, aparentemente, está de volta por 20 dias úteis, vemk me abraça.

Hora da aventura

O estado de transe é meio traiçoeiro, meio fugaz, de mentira. Ele apareceu ontem quando eu tava ouvindo a trilha de a vida secreta de Walter Mitty e, numa conversa, sendo esta pacata pessoa que faz piadas pra esconder o embaraço. E eu disse pra mim mesmo que era hora de saber fazer isso direito. Isso de viver. De ser displicente. Do direito de se esborrachar. Porque não é tão legal quando a gente se esborracha o tempo todo. Quero também o direito de estar de pé quando tudo o que restar for sonho e purina cat chow para ambientes internos. E talvez olhar pra frente e talvez sorrir desse jeito, como o kevin spacey no final de beleza americana que, olhando pra parede, vislumbra tudo o que passou até chegar ali (e aí toma um tiro na cabeça de um redneck homofóbico e gay enrustido, mas aí é outra história).

Admito

Eu admito que até agora fui na sorte. Com decisões tardias, com desespero, sozinho e com trampos mal pagos, inconsequente com o que quer que aparecesse na minha frente. Vendo os amigos se dando bem na vida e feliz por cada um deles terem se descoberto e formado famílias. Destruindo amores e sendo destruído por eles, como daquela vez que fiz um campeonatinho de ‘tirar fininha’ com um cara na marginal pinheiros. Começamos brigando, nos tornamos amigos e buzinamos. Nunca vou esquecer aquele dia. E esse sou eu comparando a liquidez dos amores e das amizades de trânsito. Minhas memórias estão perdidas, descobri esses dias. Traumas. Milhões deles. E programas de domingo olhando pro meu pé no chão ouvindo a voz do Rodrigo Faro. Eu me vejo assim. E com umas migalhas de pão por cima da camiseta, talvez uma mostarda também, pra dar aquele ar blasé de vida destruída. Estou acostumado a me mudar, a me adaptar, a viver a mesma vida em ocasiões diferentes. Nunca me acostumei a viver outras vidas no mesmo lugar. Provavelmente é o que 2015 deve começar a me ensinar.

Um por dia

Taí, uma meta. Ou eu não escrevo mais nada, nunca mais (o drama é um patrocínio da segunda-feira).

Preciso tanto te contar umas coisas, cara. Tô compondo músicas depressivamente depressivas, mas prometo compartilhar quando eu achar que elas estão minimamente legais e um pouco menos constrangedoras. Só eu e o violão, porque a vida ensinou que se pans é mais fácil assim mesmo. Gastei com umas coisas do DX para gravar tudo em casa mesmo, mixar e levar para S. “””masterizar”””, o que quer que isso signifique para ele (eu sei o que significa, mas da última vez eu vi o cara abrir a música num programa e aumentar o volume, o que foi meio decepcionante).

Aderi ao 8tracks que é um serviço que ajudaria bem o John Cusack em Alta Fidelidade, criando listinhas de 8 músicas, embora eu ainda não tenha completado nenhuma, principalmente por não conseguir focar em listas simples e criar coisas como: “8 músicas funk com samples maravilhosos e/ou onomatopeias inesperadas que eu teria dificuldade em admitir que gosto” ou então “8 músicas de hardcore insossas e melancólicas milimetricamente projetadas para você não se punir tanto com a merda que deu a sua vida”.

Cansei de Cajamar, mas não da cidade, veja bem, aqui é lindo, as pessoas são bondosas e dão bom dia sem se conhecer, as coisas cheiram mato mesmo, cachorros de rua impecavelmente limpos e queridos (embora tenha um que me odeie e tenha tentado me atacar o que me impossibilita descer a rua a pé no momento). Cansei apenas pela sensação de estar longe de onde deveria estar, de ter compromissos no final de semana e ter que deixar meus gatos sozinhos (eles derrubaram a cadeira na porta de vidro no último fim de semana, calcule minha alegria – ou a alegria deles etc). É a primeira vez longe do Capão e eu certamente moraria aqui para sempre, embora tenha pernas pregadas nas quebradas da zona sul. M. descobriu ontem com os astros que eu tenho um sol voltado para a zona sul do meu mapa, nem o Racionais diria melhor.

M. ♥, a propósito, melhor pessoa em atividade.

Senta lá

Todas as vezes que tento dar uma explicação a qualquer incompetência profissional da minha parte, qualquer mero desleixo ou falta de apego às ciências do corporativismo, eu me lembro de um caso específico.

Estava eu, veja bem, sem emprego no ano retrasado (não me peçam, jamais pronunciarei o ano novamente). Fazendo um freela que me sugava as faculdades mentais, escrevendo sobre artigos esportivos para uma galera gente boa, mas que não estava muito interessada em me pagar minimamente bem pelo trampo.

Na época eu estava também pensando num layout para a loja de K., que ia ajudar na loja online do meu selo e nosso “contrato” era mais ou menos esse. O trampo de designer sobrinho consistia em achar modelos semiprontos que me ajudassem a pensar melhor no que se encaixava pro site dela, ou seja, meio que copiar na caruda mesmo e foda-se usar da boa vontade de outros designers e programadores que já haviam articulado os seus layouts num esquema creative commons etc.

Até que encontrei essa agência que trabalhava com estes modelos, ajudava na hospedagem e tudo mais. Ao entrar no site, me deparei com um erro crasso de português, logo de cara, na home. E mais três erros, no mesmo texto. E outro na página de “quem somos”, outro na… enfim, alguém do RH havia esquecido de contratar o redator, ou coisa parecida.

Fiz um doc com todos os erros e encaminhei para o e-mail de contato da empresa, imaginando que seria sumariamente ignorado por quem quer que fosse que recebesse aquele e-mail ou visto como um gesto de boa vontade. Honestamente, eu precisava muito de um trampo naquele momento, então não fiz exatamente por bondade e sem esperar nada em troca. Se você já precisou muito de um trampo você sabe do que estou falando.

Depois de enviar (e reler mil vezes, apresentação e currículo de redator é o overthinking mais certo que você poderá ter nesta vida), parei de pensar nisso, fiz um café, fui ver as notícias, sentei confortavelmente na minha poltrona confortável, pensando na fragilidade da existência, em como somos voláteis, sobre o pensamento que se esvai e some em tantos outros como um grão de areia num castelo feito à beira do mar. Como somos pequenos atores numa comédia pouco romântica e completamente heterogênea a qual chamamos de vida.

AZIDEIA NÉ?

A verdade é que fiquei lá pensando sem parar no e-mail que tinha acabado de mandar enquanto mudava de humor ou de conclusão sobre o assunto. Será que ainda tinha alguém lá que fosse responder? O que a pessoa ia pensar? Será que me dariam um trampo? Talvez não, agência não contrata assim fácil, poderiam me chamar pra fazer um freela talvez, algo relacionado com conteúdo, mas bem de leve, eles não me conhecem, eu só dei uma revisada nos textos do site deles, né? Bem, eu só dei uma revisada, talvez venha só um agradecimento, puta merda, como sou burro, mas quem sabe eles se toquem de que não têm redator, também tem essa.

A.
Noite.
Toda.

No dia seguinte com as olheiras pegando fogo e dando F5 no gmail como um alucinado ainda com sono e de cabeça fria de tudo isso, recebo uma resposta no fim da tarde agradecendo pelas correções e me oferecendo 20% de desconto num dos modelos.

2014

No fim das contas, um ano de reconstrução. Comecei 2014 arrumando a caverna, deixando com uma cara minimamente agradável e me preparando para um tempo maior do que realmente fiquei por lá. Começava o ano depois de um fim de relacionamento febril, torturante, sei lá se existe alguma palavra boa pra resumir toda aquela neurose.

Acabei deixando de lado o diário preto em que eu me exibia pra solidão, ouvi uma palestra de Kenan e foi em meio a tanto choro dentro das paredes que Marla chegou pra me salvar dessa escrotidão. E estava lá eu, com um trampo novo, na mesma vida sozinha e autodepreciativa de sempre. Nessa época minha mãe sonhou que eu era ~anticristo e me culpou por tudo (o que certamente foi plagiado pelo Porta dos Fundos esses dias).

Comecei a trabalhar longe. Quer dizer. Eu já trabalhei longe. Em lugares que tinha de pegar trem, metrô, ônibus que passava pela estrada. E dessa vez me superei, passando quase dois meses indo do Capão Redondo a Cajamar, acordando às 3h30 da manhã por causa do horário bacana do fretado. Somo isso a todo aquele choro que ainda tava em casa, toda aquela angústia nas paredes, toda aquela solidão da feijoada de sábado. Já não havia mais fantasmas, eu era o fantasma. Aí, better leave town né mano.

Daí eu tinha uma casa nova, num emprego novo numa cidade nova. E uma sala cheia com minhas de coisas espalhadas pelo chão. Minha mãe fazia um pão com salame enquanto eu ajudava meu pai a colocar as coisas no lugar. A casa era só minha mesmo. Eles estavam lá porque vão ser sempre assim.

Me lembro que deixei de escrever aqui nessa época. Copa do mundo, pré-eleições. Não era bem a falta de assunto, era mais a falta de vontade aliada a uma preguiça insuportável das opiniões alheias. E de repente, num dia que acordei sem despertador, fiz café e coloquei um radiohead no spotify, percebi que estava tudo bem.

2014 foi o ano em que eu tinha de ter levado mais coisas a sério. Foi o ano em que saí do Sig Sauer também, a última banda em atividade. O ano em que eu deixei de comprar carne no mercado (e abandonei a recente prática da linguiça calabresa em cubinhos). Tentei o vegetarianismo, na verdade ainda tento, mas não me liberto dos fast-foods primários.

Foi o ano em que passei a viajar 45km e pagar dois pedágios para encontrar meus amigos. O ano em que tirei o Mastodon e coloquei no Sensação ao vivo sem a menor culpa. 2014 provou que esquecer os traumas e ver a vida por outro ângulo que não seja o de minha plena miséria fez/faz as coisas andarem pra frente de verdade. Fez com que eu me enxergasse uma pessoa no espelho. Ainda que uma pessoa carregada de bagagens emocionais não resolvidas, um malucão™ que acredita ao menos em si mesmo.

Portanto começarei 2015 com uma esperança-monstro no coração.

Obrigado a todo mundo que leu isso, ou que leu qualquer coisa neste blog atemporal, nada fictício e completamente despretensioso.

Loca-tário

O cara que me alugava o quarto e cozinha em que eu morava em 2013 é um maluco abençoado (da igreja episcopal batista de whatever). Um senhor que não sabe exatamente conversar e, como aquelas moças do Habibs, ouvem o que querem ouvir e não exatamente o que você está dizendo. E dia desses o encontrei por azar no condomínio dos meus pais.

– Oi menino, estamos arrumando a casa lá, viu, se quiser dar uma olhada!
– Ah é, ficou legal lá? (minha cara nesse momento por ter topado com fulano no caminho ¬¬)
– Aumentamos, arrumamos problemas na estrutura, estamos construindo em cima agora. Vai ficar muito legal, passa lá pra ver.
– Então, eu me mudei esse ano (da casa que o senhor me alugava, logo, o senhor deveria saber disso) então o contrato ainda vai bem longe.
– Ah, mas isso do contrato é bobagem, muito errado quem faz isso. Passa lá!

Contratos de aluguel direto com o dono são uma maravilha e ao mesmo tempo uma merda inacreditável e querem dizer que (a) caso o cara seja gente boa, você poderá mudar assim que precisar sem pagar qualquer multa ou (b) o cara pode te fazer sair porque o sobrinho dele está na cidade e precisa de lugar pra ficar e você que se dane, se vira, ninguém nasceu quadrado. Já os contratos de imobiliária dão alguma garantia. E você pode quebrá-los, desde que pague a multa, todos saem sorrindo.

Obviamente eu não pagaria essa multa.
Nem voltaria para essa casa.

Digamos que estava tudo bem quando mudei pra lá no ano passado. Quer dizer, eu estava numa fase terrível, fazendo um home office ligeiramente desagradável e tirando um dinheiro que mal dava pra pagar as contas. Então eu suportei o chuveiro fraco, os pequenos alagamentos que estragaram minhas caixas de som, as baratas confiantes, as contas de luz confusas até conseguir sair de lá. Era onde eu devia estar e – por ter matado aquela mariposa gigante no sítio do Leo e adquirido um karma do universo – eu meio que merecia.

– É que eu… er, bem, meu irmão mudou faz bem pouco tempo e ficou procurando aluguel por aqui um tempão, mas agora também tá nessa.
– Ah sim, mas vai lá sim, dá uma olhada, você vai gostar.
– Bom, beleza, passo sim (já entendendo que o maluco não tinha ouvido uma palavra minha e eu não estava dando a mínima para como estava aquele lugar).
– Tá, vou avisar lá que você é prioridade.

A vontade era responder “tá bom, a gente vê um dia pra eu subornar a dona do meu apartamento e ameaçar a família dela caso ela me cobre alguma multa (muito Sons of Anarchy na cabeça, eu sei). Dando tudo certo em breve eu volto a morar nos fundos desse sobrado com as baratas que me são de direito só pro senhor ficar feliz”.

Do jeito que fulano é desatento às ironias da vida, subiria pra casa e já deixava o contrato pronto.