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Ontem, troca de um quarto para o outro. Tirar prateleiras da parede, realocar livros, discos e filmes, esconder material pornô, espalhar as gavetas, reunir milhares de sacolas de lixo e a parte mais difícil: retirar os cartazes da parede.

Meus cartazes são minha história, ou parte dela, entende. Desde o primeiro que descolei do muro do Hangar 110 (pra só anos depois descobrir que o cara que cola no muro fica puto quando alguém tira seu cartaz de lá por any motivos) até os shows que toquei, produzi ou fui do street team que descia a rua Augusta com uma lata de cola caseira estampando levas de cartaz em cada quadro de distruibuição telefônica que parecesse amigável.

Tirei cada um deles, retirei suas fitas adesivas, rasguei um dos principais sem querer, merda. Empilhei todos, lembrei de cada dia, cada atraso, cada sensação única, cada respingo de cola que ficava na mochila de recordação. Enrolei todos e passei a fita isolante. Porque ‘eu posso não acreditar em muitas coisas, mas na fita isolante eu confio’.

E aí veio aquela sensação de final de temporada, sabe, quando um ciclo é fechado e tudo que vier além daquilo pode ser constrangedor. Porque você não precisa abrir mão daquilo que te faz bem, mas um hiato pode criar uma segunda temporada muito mais interessante.

Deprê, quem curte?

Desde sábado esqueceram uma britadeira ligada no meu estômago. =(

Faz três dias que não fumo. =)

Pergunta se alguém tá afim de saber. ¬¬

***

Existe algo mais irônico para um gordo do caralho do que trabalhar no setor de Esportes & Lazer de uma loja?

Existe. Saber que seu peso já ultrapassou o peso máximo suportado pela maioria dos equipamentos de ginástica.

***

Sem falar nas confusões que me envolvo por tentar explicar meu ponto de vista pra Denise. Truta, eles deviam dar cursos para nego se formar homem.

Abs

Era um garoto

“I need a camera to my eye
To my eye, reminding
Which lies I have been hiding
which echoes belong
I’ve counted out days
to see how far
I’ve driven in the dark
with echoes in my heart”

Wilco, Kamera (do disco Yankee Hotel Foxtrot)

Naquela época eu tinha 16 anos e jogava futebol. Era velho demais pra jogar no time dos pequenos, até os 15, e era novo demais para jogar com os grandes, de 17 pra cima. Jogando com os pequenos era sempre vantagem, ser zagueiro e gigante pra minha idade, acentuava isso como você pode imaginar. Com os grandes era nítido, ficava completamente perdido no campo. Ainda que maior e aparentemente da mesma idade deles, não tinha as manhas do jogo. Embora o técnico sempre me encaixasse.

Dez anos mais tarde estou na frente de uma estação de trabalho, ganhando metade do salário que gostaria, criando meu inferno pessoal entre planilhas e e-mails que não respondo, ganhando a vida.

Sou novo demais pra fazer o que gosto de fazer, que é ficar em casa plantado lendo meus livros, lendo o Google Reader e quem sabe admnistrando os estoques de pipoca e suco de laranja da casa. Ao mesmo tempo, quero ver o Leo e passar um final de semana jogando X-box e trocando idéias sobre a vida, como outras vezes, quero dormir na sala do apartamento do Diogo e acordar podre de ressaca. Só o fato de querer ser inconsequente, díspar e até um pouco arrogante, faz com que me sinta velho demais pra isso.

Embora a vida sempre me encaixe.

…E glória no passado

Escrito um dia após a eliminação do Brasil na Copa de 2006.

Nasce uma pátria quieta
Os bares fechados
Televisores desligados
Talvez seja melhor assim.

“Os jogadores não honraram,
O técnico foi uma droga”

E outros comentários
Nos bancos de táxi,
Nas filas tristes dos mercadinhos.

Já não vejo mais
O verde e amarelo das ruas
Começo a enxergar novamente o cinza-realidade
Escondido entre as jogadas milionárias
E em toda festa que se fazia sem pensar.

Hoje São Paulo acordou silenciosa
E na festa não se fez mais brilho
Hoje o Brasil voltou a enxergar
E foi colocado de volta ao 3º Mundo.

Hora ou outra aconteceria
A vitória poderia ser riso
O sexto mundial, a glória eterna
Mas hoje é dia de voltar a reclamar
E lembrar do nosso inútil parlamento.

Dos filhos destes solo és mãe gentil,
Pátria calada, Brasil.

Qual o filme da sua vida?

Ou o que fazer para não enlouquecer num mundo apegado a histórias com finais satisfatórios.

Denise: Às vezes penso em todas as pessoas que vemos bem sucedidas e tento imaginar a rotina delas, se elas passam por problemas como os nossos. Se acordam como se estivessem num filme romântico hollywoodiano ou num romance de banca de jornal em que as pessoas são sempre bonitas, inteligentes, ricas e bem humoradas.
Eu: a falta de verossimilhança dos filmes com o mundo real é que causa sociedades frustradas.
Denise: É nisso que me pego para não me derrotar.

Ontem Rousseau me disse…

No ínicio, o mundo era de todos. Não havia motivo para qualquer cidadão colocar uma cerca em uma área de terra e determinar que aquele espaço lhe pertencia. O homem era dotado de instintos animais primários que não o distinguiam de qualquer outra espécie. Lutava apenas com outros animais pela preservação da vida. Em A Origem da Desigualdade entre os Homens, Jean-Jacques Rousseau dichava destrincha o começo da história da humanidade e como chegamos ao ponto que hoje vivemos.

Em um discurso detalhado, ele questiona o que torna o homem selvagem um verdadeiro primata e o homem civilizado acima dessa posição. O que ele conclui é que o homem civilizado só conseguiu adqurir vícios e males inimagináveis ao homem enquanto simples animal. Isso foi amadurecido através da criação da linguagem que deu origem ao pensamento e, posteriormente, à lógica.

Outro importante ponto que ele me disse foi sobre o trabalho, sobre o sistema de servidão criado pelos primeiros ricos que fez com que os pobres nutrissem sonhos que nunca seriam concretizados e aceitassem a escravidão como algo essencial para sua inserção na sociedade. “Ninguém é mais escravo do que aquele que se julga livre sem o ser” (Goethe).

Rousseau é um cara mais gente fina do que eu imaginava.

So maluco?

Trabalho de tempos em tempos a minha dificuldade psicológica em dizer o que ando fazendo para aqueles amigos distantes que vez ou outra aparecem no orkut.

Seria de bom grado dizer: estou amando uma pessoa infinitamente boa, lendo bons livros e tentando resolver minha vida financeira pra poder recomeçar a pensar no futuro de maneira menos vaga e distante. Mas, por inflexões sociais que julgo necessárias, acabo dizendo: to trampando em tal lugar, mó longe, que treta, ce nem imagina. Não trabalho com o que estudei na faculdade, nem sequer faço exatamente o que gosto. Mas vou sair daqui, em breve.

As pessoas precisam do drama.

“Luto por um mundo em que…”

Aconteceu comigo uma vez. Um amigo tentou me mostrar o caminho das pedras para encarar o período pós-faculdade de cabeça erguida. Acho que ele se esqueceu de que tinha terminado o curso dois anos depois de mim. Eu já sabia o que era o pós-faculdade e já tinha conseguido a minha cota de Valium pra conseguir dormir.

De qualquer forma, o cara tinha um plano: arrumar um trabalho decente pra pagar as contas sustentado por freelas em horários vagos e projetos promissores em que seríamos o Rupert Murdoch de nossas vidas.

E isso me lembrou outra ocasião, quando estava com uma jaqueta com alguns patches de bandas punk e um moleque no limiar de seus 13 anos puxa uma conversa sobre com-que-gangue-eu-andava. Depois de 15 minutos tentando convencer o garoto que eu não era o punk que ele sonhava encontrar e lhe contaria toda a história do Social Distortion, ele se vira pra mim e diz: “continua curtindo essas bandas aí cara, você tá fazendo certo”.

A vontade era responder: “Moleque, quando você nasceu eu já roubava Sonho de Valsa nas Lojas Americanas”. Ou então “Moleque, quando você nasceu eu já tinha visto duas Copas do Mundo”. Acredite, eu tenho em mente uma infinidade de variações destas frases.

Mas voltando ao assunto.

Lá estava eu, confiante que algo bom poderia realmente acontecer ao meu currículo (além do inglês intermediário e do curso de montagem e manutenção de computadores), frequentando palestras culturais, escolas de arte, bibliotecas públicas, envolvidão com aquele clima estamos-amadurecendo-as-idéias-pueris-que-tínhamos-na-faculdade e estava tudo bem. Mesmo. Aí vieram os tais projetos.

Éramos jornalistas, certo? Criaríamos a Caros Amigos do Capão Redondo. Brinks. Mas a idéia até que ficou razoável depois de numa reunião em que retiramos da cabeça do “chefão” a idéia de fazer 10.000 cópias SEMANAIS de uma revista com 240 páginas.

E então, o mano me liga:

-Vamos entrevistar o chefe regional da igreja… whatever! temos que chegar bem CQC (!) tá ligado, na caruda, ele vai estar saindo do culto, você pega o gravador e vai atrás perguntando o que ele acha das atuais acusações de lavagem de dinheiro na igreja.

-Demorou… (bocejo) onde a gente se encontra?

-Então, mano, é que hoje é aniversário da minha irmãzinha, não vou poder, mas vai lá e já era, tamos com você.

Faltou dizer… “e relatório na minha mesa às 17h. Abs!”

Se você quer mandar em alguém, você precisa assumir que é apenas o executivo por trás da idéia, o “chefão” e não vai arredar o pé para qualquer pesquisa em campo porque é insensato alguém de tamanha genialidade se misturar à raça. Ou seja, você precisa deixar claro: o trabalho é pra vocês, medíocres. “I’m the boss, I make the jokes”, como diria o Sheldon.

Meu ponto é: mesmo se você assumir toda essa sua megalomania, você ainda pode correr o risco de ninguém querer trabalhar pra você, entende? E não, eu não te entendo. Quer as glórias de mão beijada? Cria um fake do Gugu Liberato no Twitter e vai ser feliz.

Não dou valor às pessoas lutam por sei lá, salários mais altos, uma vida melhor e não têm a decência de dar a cara à tapa, ou de dizer: “Aí, Folks, o barato é comigo agora e eu vim pra brigar”. Talvez seja por isso que não temos mais grandes heróis ou grandes prêmios Nobel. Ou grandes revistas em bairros pobres.

Prezo aquele maluco que vivia reclamando da gerência do condomínio e certo dia desceu com um amplificador e um microfone na reunião dos moradores e começou a cagar suas regras contra a síndica vigente. Ele não precisa estar certo. Voltaire, que também foi meio maluco, disse mais ou menos isso “posso não concordar com picas do que você diz, mas pelo seu direito de dizê-lo, tamo junto!”.

Luto por um mundo em que as pessoas desperdicem menos tempo falando, planejando e carregando meus textos com infinitas possibilidades de gerúndio.

Precious: Considerações Finais

Sexta, voltando pra casa, me senti mal por ter pensado nessa crítica (último post) à história de Precious, mas depois de tê-la escrito, vejo que não estou indo tão longe assim.

É um estilo de contar histórias que eu gosto, finais tristes, depressivos, trilha sonora com Janis Joplin e canções densas no piano. O julgamento final é que a história tinha potencial demais para ser contada dessa forma desajeitada.

Ah, outra coisa corriqueira: me apaixonei por essa Mariah Carey um-tanto-quanto descabelada.

Abs

Os sonhos frustrados de C. Precious Jones

Sabe, aquele filme produzido pela Oprah ano passado, que concorreu ao Oscar e tudo mais. Isso, Preciosa. Preciosa (Precious, 2009) é um filme que prova porque as receitas de bolo por mais matemáticas que sejam nem sempre dão certo.

Existe um tema pesado: uma garota de 16 anos, negra, obesa, analfabeta, grávida de seu segundo filho (a primeira filha tem síndrome de Down) e, mais tarde descobrimos, aidética. Sua mãe é uma megera que ultrapassa qualquer exemplo que aqui eu possa dar.

Bem, já que o tema é tenso, então, vamos inserir em um contexto pior. Os sonhos frustrados de C. Precious Jones, a grande jogada do filme. Precious sonha, sempre com um mundo de glamour, um namorado rico, repórteres, fama e então volta à realidade silenciosa de sua vida.

E já que o tema e o contexto vão sacudir as pessoas e dizer a elas que o fato de ter sido demitido do trabalho não é o pior sofrimento do mundo, vamos piorar a vida de Precious com o inusitado, com o…

Deu pra sacar?

O roteiro foi tão voltado pras desgraças da protagonista que se esqueceram de dar um final decente pra parada, ou pior, se esqueceram da moral da história. Entendo que abrir o coração para os problemas dos outros faz com que você veja como a vida pode ser terrível. Como existe gente que sofre por aí e você não percebe.

Mas acredito que a história de Precious é tão ímpar, tão inigualável que a moral merecia mais do que uma idéia geral existe-sofrimento-aí-fora-enquanto-você-reclama-da-sua-barriguinha.

Preciosa tem um problema simples: foi dramático, caótico, singelo e triste numa medida que estourou a balança.

Sem trocadilhos.