Porra, J.J Abrahms

Num plano ideal, eu não veria problema em trabalhar na função que exerço hoje, porém teria (a) um plano de carreira (b) um salário que desse pra pagar minhas contas, juntar dinheiro pra previdência e tomar meu Java Chip na Starbucks toda semana sem peso na consciência; (c) trabalharia a menos de 10km de casa.

Haveria um (d) que diria, trabalhar 6 horas diárias. Mas não há, porque se eu trabalhasse a uma curta distância de casa não me importaria de ficar 10 horas na frente do ecrã.

Todavia, esse oplano ideal não ocorre porque (a) vou morrer escrevendo textos pra câmeras digitais e aparelhos de ginástica (b) como disse outro dia mal consigo manter um café da manhã diário de R$3,00 (c) a empresa fica a 45km de casa somando, no mínimo, 90km diários. É como se eu fosse pra Mongaguá todos os dias.

Porra, J.J Abrahms, cadê minha realidade alternativa, mano?

Sou E-Commerce webwritter (Redator Web)

Imagine uma loja qualquer que venda produtos quaisquer. Além de ter representação física, essa loja tem um site de comércio eletrônico que vende seus produtos e um setor comercial responsável pela compra e venda desses produtos para os consumidores da internet.

Cada um dos produtos comprados pelo setor comercial para a venda no site precisa estar em uma página com título, descrição do produto, texto de venda, galeria de imagens, preço e demais informações. Porque quem compra pela internet precisa saber tudo sobre o produto que não está em suas mãos. Certo?

Digamos que essa loja tenha 10 categorias (esportes, cine e foto, eletrônicos, informática, essas coisas) e que o setor comercial responsável por cada categoria trabalhe com pelo menos 10 marcas diferentes que trabalhem com 50 produtos diferentes.

Sim, muitos produtos.

Logo, precisamos de gente para colocar essa informações, imagens e textos no site. Entra o meu setor: Produção/Redação Web. Nós cadastramos em um portal administrador do site as informações que vão para a página de cada produto, com sua devida foto e suas devidas especificações. A câmera Compact 102 preta da Agfaphoto precisa de um cadastro, a câmera Compact 102 vermelha precisa de outro.

Então, temos uma grande equipe muito unida e também muito ouriçada para executar o serviço braçal.

Esclarecedor, não?

É, eu sei que não.

Bem, sabe quando um funcionário sai do estoque com um carrinho cheio de produtos, chega numa prateleira vazia e vai encaixando tudo? Eu faço isso, mas na internet.

Um dia a humanidade vai entender.

Seu carro, sua cerveja e as canecas do seu pai

Fim de semana dos namorados. Um dia, tenho certeza, vou te pagar com juros tudo o que faz por mim. Hoje não posso oferecer presentes caros, jantares fabulosos, viagens inesquecíveis. Só uma lembrança simples e de coração, um café na cama com flores (antecedido por uma tortura no frio esperando a floricultura funcionar) e os carinhos, a cama, os edredons, filmes, conversas, devaneios, sonhos.

E passamos um dia que não vou esquecer. Ganhei de você uma caixa cheia de presentes que sei, não vou esquecer jamais. E mesmo que meu dinheiro não pague, a coisa toda fez valer a pena cada segundo deste último fim de semana.

Já tive uma fase da vida em que pensava nas datas comemorativas como criações do mercado, feitas para nos exaurir de razão e pensar apenas com a emoção. Hoje ainda acredito nisso, só não consigo enxergar onde está o erro de pensar apenas com o coração e querer dar a alguém que você ama aquilo que você pode oferecer (mesmo que isso, no fim, não chegue aos pés do que você realmente merece).

Quando estamos em casa percebo como será a vida daqui a alguns anos e abro um sorriso pelas possibilidades, pelo que não é decidido por nós, pelo que é admirável por ser tão impreciso. Nosso futuro, Denise, não importa quanto tempo demore pra acontecer, será meu feito mais importante. Precisamos apenas um como uma constante do outro no presente.

Daí você sentou do meu lado. Começamos a ver fotos antigas, nos álbuns de meus amigos. “Seu carro, sua cerveja e as duas canecas do seu pai”, você disse numa delas. A gente riu, você me perguntou se eu não sentia falta. Sinto falta sempre que você não me sorri, se é isso que quer saber. Porque no momento em que você sorri não existe nada mais no mundo que eu me importe mais.

Obrigado, meu amor, por este dia terrific e por tantos outros. Eu te amo.

Dois últimos sonhos

Segue abaixo dois sonhos que tive na última semana.

***

Estava lá no condomínio, manja. Aí chegava o Jay-Z numa X5 monstra, que eu não lembro de ter visto em lugar nenhum (se bem que o inconsciente, Freud diria, fala mais alto nos sonhos. Vai ver eu sou projetista de automóveis em outra realidade). Aí ele colava no banquinho, na MINHA função e começava a puxar assunto, dar risada.

Marcamos de sair pra fazer algo. Lembro de sentarmos esperando o cara ansiosos, como garotinhos esperando a Xuxa entrar no auditório, tá ligado? Aí ele sai e entra no carro dele, enquanto eu os meus amigos entramos no meu. Ligamos os carros simultaneamente.

Então vou avisar a ele pra esperar um pouco, o From Hell vai em casa pegar uma blusa, ou coisa assim. Em seu carro, Jay-Z está conversando com a Beyoncé. Coloco a cabeça pra fora e digo: Jay-Z, oooooo Jay, Jay-Ziiiiii, Geisyyyy… Nada.

Do nada tenho um insight e digo: ô HOVA!

Ele atende, o From Hell volta e a gente sai pro rolê.

***

Estou numa loja de roupas. Compro três camisetas lisas e uma polo listrada, rápido, como sempre costumo fazer (sério, uma vez foi tão rápido que nem precisei validar o cupom ao sair do shopping). Daí saio e vou até o estacionamento pegar o carro.

É quase noite, aquele clima alaranjado, marrom claro, ou parecido com isso (Um homem que se preze só deve conhecer as cores primárias). Entro no carro, coloco a sacola no banco do passageiro, respiro e pego uma por uma das camisetas. Penso que uma delas não vai me servir bem. Saio do carro e decido trocá-la.

Antes de fechar a porta, ouço uns gritos dentro do estacionamento. Um cara correndo pelo muro, atirando em outro cara que corre perto dos carros. Me escondo atrás da porta, tiroteio monstro rolando, a perseguição continua do lado de fora.

Me levanto, tranco a porta e penso: “Po, acho que vou trocar essas camisas numa calça, isso sim”.

Jesse e Jane



[Contém spoilers da terceira temporada Breaking Bad]

Uma das grandes cenas de Breaking Bad acontece nesse episódio S03E11, em que Jesse começa tendo um flashback de sua namorada Jane que morreu ao seu lado, enquanto dormia sob o efeito da heroína.

No episódio anterior ele estava pensativo ao ver um cigarro sujo de batom no cinzeiro do carro que foi deixado por Jane antes de morrer. Então seu pensamento volta no dia em que foi ao museu com a garota conhecer as obras de uma artista chamada Georgia O’Keeffe.

(os dois conversam dentro do carro)

Jesse: Sabe, não entendo. Por que alguém pintaria o quadro de uma porta uma dúzia de vezes sem parar?
Jane: Mas não era igual.
Jesse: Era sim.
Jane: Era o mesmo modelo, mas sempre diferente. A luz era diferente, o humor era diferente. Ela via algo novo toda vez que pintava.
Jesse: E isso não é loucura pra você?
Jane: Então por que fazer qualquer coisa mais de uma vez? Eu deveria fumar só um cigarro? Talvez devêssemos transar só uma vez já que é a mesma coisa.
Jesse: Não…
Jane: Ver só um pôr-do-sol? Ou viver apenas um dia. É porque é sempre diferente. Cada vez é uma experiência nova.
Jesse: Certo, tudo bem. Acho que as imagens do crânio da vaca eram legais, mas… uma porta? Digo de novo: Uma porta! Zzzzzz (fingindo sono)
Jane: Por que não uma porta? Às vezes nos fixamos em algo e nem entendemos o motivo. Você se abre e segue em frente, para onde quer que o universo leve você.
Jesse: Então o universo a levou até uma porta e ela ficou tão obcecada que precisava pintar 20 vezes até ficar perfeita.
Jane: Não, eu não diria isso. Nada é perfeito.
Jesse: É? Bem, algumas coisas são.

(momento romântico da cena, em que Jesse beija a garota)

Jane: Foi tão fofo que acho que vomitei um pouquinho.
Jesse: hahah, você não consegue admitir que pelo menos uma vez eu estou certo. Ora, vamos, a O’Keeffe ficava tentando sem parar até que a porta estúpida estivesse perfeita.
Jane: Não, a porta era importante e ela a adorava. Pra mim se trata de fazer o sentimento durar.

(Jane apaga o cigarro)

Como a sexta-feira começou bem

Sabe aquele seu amigo que fica bravo porque você tá indo embora do rolê às 5h30 da manhã, já fritado? Aí, numa reles sexta-feira, você fica sabendo que o malandro vai ser pai.

Robson: caralho, você vai ser pai?
FYAH: vou mano, 1000 grau, hahahahaha
Robson: é brin-ca-de-ra, ahuahuuhahuauh, sério memo?
FYAH: é serio mano. se não tá nem ligado, é caraio!
Robson: que fita!
FYAH: fitassa!
Robson: porra, mano, nem conheço sua mina, huahuahua
FYAH: hahaha, nem eu a sua 😉
Robson: é quente =/
FYAH: vc é um lixo!
Robson: putaquepariu! mas e aí, tá firmão?
FYAH: to suave… felizão, voo hoje no 1º ultrassom
Robson: suave, então, parabéns, caraio! ultrassom! mano, que preza. Quantos meses?
FYAH: 5 semanas hahahahahahah, não to acostumado ainda
Robson: pode cre, nem to acreditando
FYAH: ninguem acredita

A padaria default

Hoje decidi deixar de frequentar minha padaria default.

É na padaria default que tomo café da manhã pelo menos duas vezes por semana – enquanto a renda permite. Parte do meu alívio diário acontecia lá, quando eu pedia os dois pães na chapa e o café puro de sempre e gastava R$2,00 (sim, dois reais).

Acontecia.

O preço não era o único atrativo. Os funcionários da padoca eram educados, gente classe, que poderia estar gerenciando equipes em grandes restaurantes ou vivendo o sonho, sei lá. Mas não, estavam numa padaria de bairro, entregando o suor de seus corpos para manter a qualidade do serviço prestado (OK, sei que estou exagerando um pouco no drama).

Tinha esse tiozinho. Um tiozinho que servia no balcão. Fazia o café, pedia os pães na chapa, regulava o que era cobrado nas comandas. Conversava com todos, free talker assumidão. Puxava assunto com os que conhecia, mas as risadas eram divididas por todos numa só canção (“numa só canção”, Robson?).

E tinha esse outro personagem anônimo da cozinha. Tipo um Luther Blisset, intocável para os clientes, suponho. Fazia um croissant que tornava o lugar mais mágico do que qualquer outra padaria que já tenha conhecido. Sem contar a exatidão e maestria incutida nos outros salgados.

Esses dois personagens foram, durante algum tempo, a alma da padaria. Eu entrava sabendo que o tiozinho ia zoar um caminhoneiro chamando-o de mineiro ou qualquer coisa do tipo e todos teríamos um bom dia. E talvez visse alguém sair da cozinha imaginando que talvez fosse ele o Luther que fazia os salgados, talvez não.

De repente, num dia comum, percebi que a padaria default estava mais vazia que o normal. No caixa, percebi que o preço da minha comanda subiu para não tão admiráveis 3,00. E não acredito que exista um Copom especializado em preços de pães na chapa. E, semanas depois, os funcionários mudaram, entraram uns jovens que podem ganhar pouco e não vão reclamar inexperientes e uns tios mais sem graça que fazem café fraco.

Daí eu chego hoje, de manhã, como meus habituais dois pães na chapa comuns e tomo aquele café-tinta-de-impressora. E então peço, pra viagem, um croissant. Porque agora você não escolhe entre Queijo Minas, Calabresa com Queijo, Frango com Catupiry, Queijo e Presunto. Eles tem um único, que se chama apenas “croissant” e que o cara do balcão chama afetivamente de coraçán.

E então fui pegar meu Toddy, companheiro de aventuras, mas só havia um genérico, com uma placa ao lado “PROMOÇÃO: R$ 0,80” e claro, com o vencimento marcado pra hoje. No caixa, a garota indiferente me cobra a mais e, sem se desculpar, pergunta se tenho 70 centavos, pois ela não tem troco.

Foi só então que eu percebi que a padaria que eu conheci não estava mais lá.

Crise monstra

Não consigo escrever um texto, um conto, uma crônica, um release, uma lista de mercado, sem esbarrar em questionamentos e dúvidas que mais parecem bifurcações cruzadas de mão dupla que me fazem desistir na metade. Porque antes esquecer um texto sobre um assunto pífio que não ia chegar a lugar algum do que começar um TCC sobre o tal assunto pífio e também não chegar a lugar nenhum, mas com algumas dores de cabeça de brinde.

Além disso, não consigo postar diariamente – um dos sonhos esquecidos dos anos 00 – nem conciliar uma boa rotina de produção pessoal.

Sem falar no livro do Takami, Tudo sobre fotografia, que está desconsolado na gaveta, esperando austeramente que eu o estude e volte a me empenhar em algo.

Pra fechar, dos meus poucos e majestosos salários mínimos, me sobrou uma nota de 20 reais para todo o mês de junho. Lembrando que sábado, amigos, é dia dos namorados.

Você que chega ao final do mês com alguma sobra de renda, eu realmente não te entendo.

Um feriado e uns filmes #cinemaday

Tá certo, tava sol e tudo, mas e o frio? Feriado prolongado, marginais vazias em SP, nada como atravessar a cidade para ver minha garota e alugar uns bons filmes – o que é relativo, bem relativo.

Como sempre erro o que escolher na locadora (aluguei A Senha Swordfish três vezes e não lembrava que já tinha visto antes), atualmente só assisto coisas que me indicam, clássicos, aqueles filmes pique “como assim você não viu”? Mas fui encarregado da missão de pegar três ou quatro blockbusters para passarmos juntos o Corpus Christi. Peguei, então, três filmes que ela ia gostar e eu não iria enjoar mortalmente a ponto de dormir na metade achar ruim e tudo, e tal.

Começamos com Zombieland, comédia boa com o Mickey, do Assassinos por Natureza (eu percebi que não consigo assistir um filme com esse Woody Harrelson sem repetir “Natural Born Killer” pelo menos dez vezes) e com aquela pivetinha que fez Little Miss Sunshine. Eles matam zumbis que correm feito malucos. É tipo uma visão paralela daquele Eu Sou a Lenda do Will Smith. Interessante. Ah, e tem participação do Bill Murray.

Aí veio Julie e Julia, numa vibe meio As Horas, aquelas histórias sendo contadas em épocas diferentes, mas com um climão vai dar tudo certo no final, que ajuda bastante. Ah, a Meryl Streep está impagável neste filme. A outra atriz principal também, Amy Adams (que a gente jurava ser a Zooey Deschannel de cabelo curto).

E, pra fechar Onde vivem os monstros. Primeiro achei que era desenho, depois achei que era desenho com filme, no melhor estilo Dick Tracy. Depois vi que era uns bonecos animadores de torcida gigantes com sentimentos aflorados. Mas sim, o filme é excelente. Claro que, no final, uma conversa sobre as teorias psicológicas contidas em cada personagem em relação ao personagem principal ajudam muito na hora de dar uma nota final.

E aí, após muita comida descartável e muito amor, carinhos e carícias, estava eu, voltando pra casa, pra aturar mais uma semana inteira de… mas porra, hoje é sexta-feira!

Abs a todos os envolvidos.