A brand new start

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E ouço meu coração discordar da mente pela primeira vez em muito tempo e dizer que vai dar tudo certo, pela simples descoberta de que ontem eu era só um garoto frustrado com o trabalho longe de casa e que hoje sou só um garoto com um trabalho melhor, digamos assim, há oito estações de metrô da minha casa. Sim, amigos, na mesma empresa, nessa mesma casa que me acolhe. Em 15 ou 20 dias, dependendo da doente daquela mina agilidade do RH, vou mudar de ‘filial’ para uma mais próxima de casa.

Isso invalida tudo o que vinha dizendo sobre procurar casas em Jandira —invalida também o fato de eu ter procurado camas box e estantes para livros como se minha vida dependesse disso— e agora só almejo uma melhor adaptação à velha cidade grande. O que significa (a) pegar metrô/trem e abandonar o carro durante a semana (b) me adaptar aos vale refeições mais baratos que o preço dos restaurantes, embora isso seja infinitamente melhor do que suportar aquela comida excêntrica** do refeitório daqui e (c) comprar uma mochila —que também já comecei a procurar como se minha vida dependesse disso etc.

E o rapaz do canto da platéia agora pergunta: ‘Mas, Robson, vem cá, então chega de murmúrios sobre o trampo neste estimado blog temperamental que tanto amamos?’ Quem sabe, amigo. O que posso dizer é que finalmente vou mudar para algo que me faça perder a cabeça, me dedicar, aprender, tudo de verdade, sabe, tudo mais real… ‘This is facts not fiction, for the first time in years’ [__].

A melhor parte de tudo isso é ter sido indicado por ter blogs há tanto tempo, por manter perfis em tudo quanto é rede, mesmo as que não uso (Plurk, I’m sorry, it’s not you, it’s me), por entender de um jeito menos superficial o que a internet quer dizer, por ser o cara que vai dar a idéia dos botões de compartilhamento no site e por todas aquelas estratégias de disponibilizar informação de maneira atrativa que ainda não sei exatamente como fazer, mas que vou acabar aprendendo por bem ou por mal.

Ainda não bati a sagrada meta de estourar no mundão com meu amigo Leo, mas esse, digamos assim, é um belo começo.

*A imagem eu achei no Objetos de Desejo
**O Leo é o gênio por trás do live broadcasting no refeitório.

Sam Gamgi wrote a recommendation for you

Devia eu acreditar que perdi aquele trabalho dos sonhos somente por não ser uma pessoa jurídica que emite notas fiscais? Não sei, mas é bom pensar nesse trecho da sua história como um capítulo de transição, como dizia aquela pequena conversa entre Frodo e Sam perto do final de As Duas Torres:

— Não gosto de nada por aqui — disse Frodo —, pedra ou poço, água ou osso. Terra, ar e água, tudo parece amaldiçoado. Mas nessa direção vai nossa trilha.
— É, é isso mesmo — disse Sam. — E de modo algum estaríamos aqui se estivéssemos mais bem informados antes de partir. Mas suponho que seja sempre assim. Os feitos corajosos das velhas canções e histórias, Sr. Frodo: aventuras, como eu as costumava chamar. Costumava pensar que eram coisas à procura das quais as pessoas maravilhosas das histórias saiam, porque as queriam, porque eram excitantes e a vida era um pouco enfadonha, um tipo de esporte, como se poderia dizer. Mas não foi assim com as histórias que realmente importaram, ou aquelas que ficam na memória. As pessoas parecem ter sido simplesmente embarcadas nelas, geralmente — seus caminhos apontavam naquela direção, como se diz. Mas acho que eles tiveram um monte de oportunidades, como nós, de dar as costas, apenas não o fizeram. E, se tivessem feito, não saberíamos, porque eles seriam esquecidos. Ouvimos sobre aqueles que simplesmente continuaram — nem todos para chegar a um final feliz, veja bem; pelo menos não para chegar àquilo que as pessoas dentro de uma história, e não fora dela, chamam de final feliz. O senhor sabe, voltar para casa, descobrir que as coisas estão muito bem, embora não sejam exatamente iguais ao que eram — como aconteceu com o velho Sr. Bilbo. Mas essas não são sempre as melhores histórias de se escutar, embora possam ser as melhores histórias para se embarcar nelas! Em que tipo de história teremos caído?
— Também fico pensando — disse Frodo. — Mas não sei. E é assim que acontece com uma história de verdade. Pegue qualquer uma de que você goste. Você pode saber, ou supor, que tipo de história é, com final triste ou final feliz, mas as pessoas que fazem parte dela não sabem. E você não quer que elas saibam.

J.R.R Tolkien, Senhor dos Anéis, As Duas Torres, cap. VIII, As Escadarias de Cirith Ungol

É certo que a vaga me faria extremamente mais feliz e menos noiado com relação a minha carreira. É certo que traria maior conforto financeiro. É certo que traria mais satisfação do que recategorizar produtos e pintar planilhas. É certo também que seria mais perto de casa, o que que não caracteriza grande coisa, tendo em vista meu deslocamento diário até o trabalho. Se houvesse uma vaga de agente de viagens na Terra Média eu possivelmente gastaria menos combustível.

Após a conversa, Sam e Frodo são traídos pelo Gollum (sim, esse sou eu dando spoilers) e levados direto a uma emboscada na teia de Laracna, a aranha gigante assassina e whatever. O ponto é: eles chegam ao final de sua história com sucesso e uma coleção de boas e terríveis lembranças. Acho que esse é o tipo de história que caímos, nós nunca devemos saber o final, mas devemos ter a certeza de lembrar toda a saga com alguma ternura.

O e-mail com meu currículo e a resposta negativa foi para a pasta Cold Case do Gmail, onde estão alocadas todas as mensagens parecidas com ‘olha, gostei de você, sério, vou guardar seu e-mail aqui para uma próxima oportunidade’. E assim continuamos a expedição.

O Reality da realidade

Ou ‘Minha sincera compaixão pelo Big Brother da vida real’

Como alguns de meus trinta leitores casuais devem saber, trabalho em uma redação para e-commerce, que fica situada dentro do centro de distribuição da empresa. O CD, como é chamado, consiste 90% no estoque, um galpão de não sei quantos mil metros quadrados e pelo menos 900 funcionários separados por turnos. Os 10% restantes são os outros setores, que devem ter cerca de 30/40 pessoas.

A galera que trabalha na parte de dentro do estoque é, digamos, excepcional. É de lá que vem as piadas e comportamentos mais dignos de virar hit do Youtube, além do som alto do rádio ligado pela manhã, provavelmente com a frequência emperrada na Band FM. Outra característica comum aos colaboradores desse setor é deveras insuportável: observar.

Sabe aquele tipo de gente que assiste a vida como se fosse uma novela das oito, ou como o Big Brother? Cada um de nós, as 40 pessoas dos outros setores que não são o estoque, nos tornamos personagens neste console de entretenimento que estes 900 criaram. E a TV deles, por assim dizer, vamos tratar aqui como banquinhos.

Cada vez que o horário de almoço consegue reunir um grupo de três ou quatro pessoas do estoque no ócio da tarde, pode ter certeza que eles vão analisar cada passo seu, assim que você passar por eles. Não são pessoas que passam por você encarando, ou coisa que o valha. Mas quando elas sentam nos bancos, é como se realmente pegassem o controle remoto para assistir um programa de TV, para debater com seus colegas o quanto aquela moça engordou ou que absurdo aquele cara casado do Fiscal ainda estar dando em cima da estagiária do RH.

Fico triste ao imaginar que, para este público sem acesso a interné como nós dos outros setores, isso deve ser o máximo de entretenimento que eles podem ter durante o dia.

Um dia na cidade grande

Daí que tive três reuniões na sede do trampo hoje. Uma sobre vídeos (cabelo ao vento, gente jovem reunida), outra sobre design das páginas (com o carioca malandro da criação) e outra sobre navegação do site (e meu primeiro contato gentil com o comercial). Foi um desses dias que tem tudo pra dar errado, mas acabam sendo perfeitos no final.

O prédio acolhe o suficiente, o elevador constrange o suficiente, as pessoas usam gravatas azuis com detalhes suficientes e fumam Marlboro light tão frenéticos como num mundo pós apocalíptico em que os cigarros não são mais suficientes para suprir todo o planeta. O chão tem carpetes, as salas de reunião tem TVs de 50 polegadas e a medida de importância dos funcionários varia de acordo com o celular que eles possuem. Diretoria e Presidência estão na categoria iPads, gerentes e supervisores são mais iPhone 4. A horda de compradores e galeré de marketing só usam Blackberry e demais Smartphones com pacotes de dado baratos.

Ah, sim, sabe quando seu pai só bebe Antartica e sua mãe só compra tênis Adidas, porque eles sempre foram bons e nunca vão desapontar? Acontece isso com a máquina de snacks e de café espresso, que estão mais enraizadas cultura na empresa do que qualquer outra coisa.

Saindo de lá, fui encontrar uma amiga e ver umas propostas de freela (dou mais detalhes no futuro, quando algumas coisas estiverem mais fechadas. De cara, posso dizer que fiquei bem feliz com essa última reunião).

Estava ciente de que não teria tempo pra almoçar, pois tive que andar até o Itaú da Faria Lima. Uma sensação que não experimentava há uns bons cinco anos: caminhar em meio à multidão entre meio-dia e duas da tarde, no coração comercial (ou nervoso, como diz meu pai) de São Paulo. O horário de almoço na região da Vila Olímpia, Berrini e adjacências se compara à operação descida da Imigrantes no reveillón. Gente com a estafa corporativa estampada na cara, suada, tomando sorvete nas banquinhas e ciente de que andar rápido não adianta muito, afinal você vai acabar passando a virada (ou acabando seu horário de almoço, neste caso) perdido naquele mar de gente tentando atravessar os túneis (ou a rua, pra finalizar a analogia).

Ao chegar perto do estacionamento, encontrei uma padaria com a melhor esfiha de carne do universo. Recheio tratado afim de não ficar parecendo pastel de feira, além de uma massa envelhecida ao ponto que só os mestres sabem deixar estragar. Pra fechar com chave de ouro minha estada na padaria, um garçom chega e pede pro cara de dentro do balcão: ‘ô Gardenal, passa esse pano seco aí pra mim, valeus!’. Lugar.dos.sonhos.

No final das três primeiras reuniões, fumava com minha chefe do lado de fora do prédio e ela disse o quanto era estranho vir pra São Paulo nas primeiras reuniões que teve na sede, depois de tantos anos pegando estradas e pagando pedágios, sem se preocupar tanto com semáforos ou pedestres. Apesar de tudo, soa realmente estranho ver 50 pessoas esperando o farol fechar pra atravessar a rua, ou os elevadores esturricados e apitando por excesso de peso na hora do almoço. Isso quando o máximo de gente que você pode ver no caminho do trabalho está dentro da padaria, ou no ponto de ônibus.

Foi só outro dia simples na grande metrópole para alguém que, apesar de morar lá, pouco frequenta a cidade natal. Lembro de uma palestra, em que o Ferréz, escritor, citava um conselho de sua mãe: ‘você pode sair, fazer o que eles pedem, rir das piadas deles, comer da comida deles, oferecer o que tem pra oferecer, mas é na sua casa, com os seus, que você volta a colocar os pés no chão pra pensar direito na vida’.

Testemunhos no LinkedIn

Descobri hoje uma nova habilidade que certamente vai me angariar alguns amigos antigos, tenho certeza: sei escrever boas recomendações no LinkedIn apenas omitindo fatos reais. Funciona assim: Eu lembro daquela vez que fulano arregou pra briga no meio da redação e então lanço uma frase parecida com ‘ele sabe onde impor suas opiniões sem afetar o equilíbrio do ambiente’.

Só hoje entendi o propósito das recomendações, e percebi que era exatamente como imaginava, é uma versão corporativa do depoimento do orkut, mas, atente, não é algo espontâneo: as pessoas te pedem através de mensagens pessoais pelo próprio site. Daí você tem que escrever que fulano ‘goza de boa simpatia desde o faxineiros até a presidência’ só pra omitir que ele transou com a empregada e com a Dona Luzia, do comercial, mulher do presidente (e o ‘goza’ morre com você, como uma piada interna sem graça).

É daí pra pior, sério, mas o interessante é que você realmente quer dizer aquilo, só omite por exemplo a rasgação daquela reunião que nego reclamou de salário e da comida do refeitório, gritando que o chefe ganhava o triplo e por isso não tava nem aí! Porque afinal, tudo o que um possível empregador precisa saber é que fulano ‘tem a opinião incisiva e decidida, além de incentivar a reflexão do grupo, ainda que isso implique em longos e fortuitos debates’.

Por favor, algúem me pare!

Nobre Miseré

E essa piada de hoje, via MSN, às 17h19 do segundo tempo?

Cara, não sei, esse negócio de trabalhar longe não tá rolando.

Mais do que cansaço, está me deixando sem paciência para relações sociais em geral em que qualquer pequeno problema se torna uma gloriosa tempestade de maus pensamentos.

Outro dia, voltei pra casa só por ter avistado o trânsito na estrada. Só consegui ir trabalhar após terminar a segunda temporada de How I met Your Mother (que dá uma tranquilizada, mas ainda soa como uma conversa franca com meus melhores amigos, assistam!). Daí que to pensando seriamente em morar em caráter provisório pros lados do trabalho, na grande São Paulo, mesmo com o aviso da Denise sobre as casas de forró agressivas de Jandira, Itapevi e região.

Sério, ao final da semana eu terei a certeza de que alguma coisa vai mudar nesse meu nobre miseré (nota: nobre miseré é um bom nome para uma banda de flautistas hippies filiados ao PSTU).

Pensou Mudança, Pensou Granero

Daí que aquela velha conspiração aqui do trabalho de que o escritório talvez fosse mudar para uma cidade mais para o interior (local que não pronunciamos o nome por ser uma maldição certeira) ganhou ontem uma nova pista relativamente discutível – mas não de todo descartável – com um email que perguntava quem aceitaria transporte fretado.

Já deixei avisado que desconto 500 reais por mês do meu fuckin ordenado com gastos de gasolina e pedágio, além de dirigir os fuckin 90km diários e tento tirar tuddo isso dos meus pesadelos à maneira que posso, para não enlouquecer.

Agora, dirigir mais, acordar mais cedo e ainda assim trabalhar como um condenado não é algo que estava nos meus planos quando assinei os contratos. E agora a gente fica aqui nessa vibe de tensão, esperando o caminhão da Granero despontar no horizonte.

Vem, 2011, acaba logo com essa insatisfação.

Trolls da vida real

ou Falta de posição (anal é coisa séria).

Estava escrevendo um texto que sairia gigante sobre o amigo secreto daqui do escritório, mas preferi abster este servidor de tamanho cansaço. Porque a galera do trampo marcando amigo secreto é a receita da preguiça, sério. Nego reclama do bar, do horário, do preço, dos pacotes de consumação, quer a comemoração no meio da semana e depois inutiliza toda essa militância pelo nada com um e-mail típico ‘gente, eu escolho o que decidirem’.

Life is Life

E, bem amigos, foi só agora que eu, trabalhador otário honesto desse mundo injusto, ao ocultar a barra de tarefas do Stumble Upon, perceber que estou sem comer há pelo menos 12 horas e olhar para o relógio do escritório que marca 22h03, descobri que chegou o final do ano e para nós, que vendemos produtos desnecessários que as pessoas compram como mariolas para esquecer a merda das suas vidas que trabalhamos com e-commerce, o mundo torna-se um lugar menos sadio e respeitável.

O ano inteiro é esse terror psicológico, mas em dezembro o negócio aperta seu cérebro como um vírus, invade cada centímetro de decência que ainda existe em você e faz com que você desista dela (lembre-se, eu entrei às 10 da manhã, são 10 da noite e eu ainda estou por aqui). Mais do que isso, faz você querer o começo do ano novamente, um ciclio desnecessário que não se pode interromper. Ao menos não tragicamente.

Portanto nos vemos, entre uma transpiração ou outra, quando minha cabeça funcionar durante os dias que se seguem.

A imagem é do Graphic Design Blog