Esses dias recebi de uma amiga de twitter um convite para trabalhar com mídias sociais, agência de publicidade, monitoramento web, esse tipo de coisa que me manteria mais tranquilo e sem planilhas de produtividade.
Mandei meu currículo e conversamos através de DMs, foi quando soube que o salário era, sei lá, 200 reais mais baixo que o meu atual. E eu, (covarde, como diria o Guto) desisti.
Acho que nunca me arrependi tanto quanto às minhas escolhas depois de velho. É de se pensar que eu iria analisar a parada, fazer minhas contas e dar um feedback. E não só agradecer dizendo que não ia rolar.
Sigo aqui, lutando contra doenças mentais que vão aparecer invariavelmente entre uma coluna ou outra do excel.
Ou Leio meus feeds do Google Reader mais por raiva do que por vontade
Chega a ser meio esquisito, eu assumo.
Estou trabalhando, certo? Sentado na minha mesa, de frente para o ecrã, lendo meus feeds respondendo solicitações urgentes, a coisa toda. Pra isso tenho meu fone de ouvido com redução de ruídos externos.
Então coloco pra tocar uma música boa qualquer. E me transporto. Saio da sala, é como se estivesse trabalhando numa realidade paralela acima do escritório, da cidade, do mundo. Sozinho, tranquilo e distante.
Segundo Bob Black, bem-estar e trabalho são termos que automaticamente saem correndo um do outro. Acho que ele usa a palavra excludentes. Não tenho certeza.
Uma sensação ao menos interessante. Esqueço a mais valia, os processos burros. Começo a ser mais produtivo, mesmo para esses assuntos que não me importam tanto. Me torno uma autoridade em marcar planilhas, responder pendências antigas as quais eu realmente não dou a mínima.
Até que alguém me sacode:
-Ow, Robson, que isso, menino? Tá perdido? Tão te chamando ali no outro setor, hahahah, tá viajando? Que maluco! Aiaisóvcmsm.
Paro o que estou fazendo e, depois de atender o(a) fulano(a) e perceber que a sensação toda se esvaiu, eu leio meus feeds. Todos. Impreterivelmente. E talvez não volte a trabalhar mais durante o dia todo, nunca se sabe. Bob Black está comigo e nada me faltará.
Meu patrão é uma figura notória, dessas que você encontra em entrevistas pelas revistas da Globo, desses que aparecem poucas vezes, mas está sempre envolvido em algo social e “povão” demais, pra provar que também é humano, gente da gente. Um cara que parece gente fina, sim, mas bilionário que é, nunca deu as caras neste escritório.
E aqui começa a divagação.
Estou no twitter, como sempre.
-Alô @chefe, muito legal a proposta do show do Jorge Ben, obrigado e continue motivando nossa equipe! É disso que precisamos!
Corporativo assim. Acho que não faria. Escreveria a mensagem, pensando em todos que iriam ler, aquela coisa de relações públicas de mim mesmo. Mas não faria. Enfim, isso é outra divagação, continuemos. A próxima cena sou eu recebendo um reply de agradecimento:
-Claro, @bigblackbastard, é um prazer trabalhar com gente disposta e confiável como vc. Em que setor vc colabora?
Aí trocamos dois replys e ele começa a me seguir. Semanas depois, me dá um RT numa mensagem qualquer sobre corporativismo, óbvio. Aí eu ganho uns 3.500 followers, porque, afinal, sou “amigo” do figurão.
A divagação começa a perder sentido e avança para a cena em que estamos nós dois numa mansão irreal para minha imaginação classe média, sentados em cadeiras brancas reclináveis à beira de uma piscina gigante, degustando um vermute francês que eu jamais conheceria de outra forma senão sentado ao lado do meu “amigão” billionaire. Aí levanto os óculos escuros na testa, me ajeito na cadeira e olho diretamente pra ele:
-Vão me aloprar lá na quebrada quando eu disser que tomei um Boissiere Dry na tua casa, man -Leva uma caixa. Bebe com teus amigos no final de semana.
Agradeço, coloco os óculos de volta no rosto e olho para o céu. A câmera vai se afastando, começa a tocar Either Way, do Wilco.
E aí, cara, peguei a credencial pra Bienal do livro de SP pelo site. A Núbia descobriu que redatores e todos os envolvidos podem pegar a credencial neste link aqui.
***
Olha, cara, sério, queria reclamar do fluxo de trabalho na empresa em que vivo (12 horas diárias), mas não vai rolar. Além de não conseguir explicar em minúcias para os dummies no assunto comércio eletrônico, não vai resolver muita coisa além de um desabafo do lado errado do confessionário.
Em todos os campos da vida existe aquele grupo de pessoas ou aquele ser humano único com o qual você se guia, que faz você seguir em frente mesmo que as coisas estejam ruins, mesmo quando tudo parece perdido.
No meu emprego anterior eram muitas pessoas desse tipo. Houve estágios, claro, os primeiros amigos que fiz, cujo baque foi implacável quando saíram em grupo.
Já no estágio final, tinha minha garota por motivos óbvios e quatro amigos próximos que conversavam sobre música e fumavam juntos sempre com alguma teoria sobre como usar o dinheiro que ganhássemos na loteria.
Um cara sem precedentes. Um cara que você não critica e, se ver alguém criticando, sai de perto ou bate de frente. Melhor, um cara que qualquer um sai em defesa, mesmo se ele estiver errado – o que não deixa de ser impressionante.
Existe um parâmetro inusitado em quase todas as amizades: a forma como elas acontecem. Com o Guto, pra não entrar em detalhes, foi num dia em que não pude voltar pra casa e acabei com ele e outro amigo num boteco no Butantã, com jukebox de samba, tiozinho conversando com amigo imaginário e senhoras bêbadas cantando Lecy Brandão com o copo levantado, respingando o suor de seus passos confusos numa cadência imperfeita.
Bonito assim.
E hoje, ele sai. Melhor, claro. Oportunidades da vida que corre do lado de fora dessas paredes pré-montadas. Fico num jogo de resta 1 foda, com o norte da bússola quase pifando e já sem saber, como Joe Strummer, se fico ou se vou. Ao menos resta o coração alegre e a esperança de poder conhecer outros nortes como ele vai continuar a ser.
Imagine uma loja qualquer que venda produtos quaisquer. Além de ter representação física, essa loja tem um site de comércio eletrônico que vende seus produtos e um setor comercial responsável pela compra e venda desses produtos para os consumidores da internet.
Cada um dos produtos comprados pelo setor comercial para a venda no site precisa estar em uma página com título, descrição do produto, texto de venda, galeria de imagens, preço e demais informações. Porque quem compra pela internet precisa saber tudo sobre o produto que não está em suas mãos. Certo?
Digamos que essa loja tenha 10 categorias (esportes, cine e foto, eletrônicos, informática, essas coisas) e que o setor comercial responsável por cada categoria trabalhe com pelo menos 10 marcas diferentes que trabalhem com 50 produtos diferentes.
Sim, muitos produtos.
Logo, precisamos de gente para colocar essa informações, imagens e textos no site. Entra o meu setor: Produção/Redação Web. Nós cadastramos em um portal administrador do site as informações que vão para a página de cada produto, com sua devida foto e suas devidas especificações. A câmera Compact 102 preta da Agfaphoto precisa de um cadastro, a câmera Compact 102 vermelha precisa de outro.
Então, temos uma grande equipe muito unida e também muito ouriçada para executar o serviço braçal.
Esclarecedor, não?
É, eu sei que não.
Bem, sabe quando um funcionário sai do estoque com um carrinho cheio de produtos, chega numa prateleira vazia e vai encaixando tudo? Eu faço isso, mas na internet.